domingo, 28 de dezembro de 2008

Sobreviver ao natal

" (...) A caridade não devia reduzir-se a uns dias do ano. A caridade, no conceito muçulmano, e creio que também no mundo cristão, é para se praticar todos os dias, e sobretudo numa lógica de não apenas dar o peixe, mas de ensinar a pescar. Pois senão, que bondade e generosidade pode existir na prova da abundância por um dia, e na experiência da miséria e solidão nos restantes 364 dias do ano? Que fizemos de facto para mudar as coisas? Quanto do nosso tempo e saber oferecemos para que o Natal dos pobres e desprovidos possa melhorar de ano para ano? (...) o alcorão diz: «Oh humanidade! nós vos criámos homens e mulheres e fizemo-vos em grupos e sociedades, para que pudessem conhecer-se uns aos outros. O mais nobre de entre vós é aquele que for melhor na conduta» (49;13). A palavra «conduta» é «Taqwa» e aparece umas 200 vezes no Alcorão. Ela refere-se a uma base moral que subjaz a acção humana e a consciência ética das responsabilidades perante Deus e a sociedade. É Natal porque Jesus nasceu. Mas é porque Jesus nasceu que todos os dias são dias de fazer Natal, de nos excedermos nas boas obras (...). O excerto acima faz parte de um texto mais alargado publicado no jornal Público no Domingo, 21 de Dezembro, por Faranaz Keshavjee, num espaço que lhe é habitual. A razão pela qual despertou a minha atenção foi o facto de o mesmo estar em consonância com uma série de lugares-comuns que nos habituámos a dizer e ouvir, nos dias que antecedem o Natal, um pouco por todo o lado e da boca de quase toda a gente, mesmo se não é cristã. Obviamente que não sou Muçulmano, mas obviamente também que o facto de o não ser não me impede de olhar a temática do Natal pela mesma perspectiva de Faranaz Keshavjee, ainda que não conseguindo evitar outros lugares-comuns. Não me parece que o grande factor motivacional que leva as pessoas, hoje, a festejar o Natal, seja o nascimento do Salvador, tal como também não tenho já nenhum tipo de ilusão sobre o que representará o Natal para as gentes que a ele se agarram e lhe colam o novo epíteto de "festa de família". Julgo mesmo que reveste mais um tipo involuntário(?) de linguagem metafórica... O conceito cristão de família, o conceito que Cristo revelou de família, é mais alargado, mais amplo, mais universal e está claríssimo no evangelho de Mateus 12:46-50: 46 E, falando ele ainda à multidão, eis que estavam fora sua mãe e seus irmãos, pretendendo falar-lhe. 47 E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem falar-te. 48 Ele, porém, respondendo, disse ao que lhe falara: Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? 49 E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; 50 Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe. Comércio, e não mais do que isso! "Alegria" vivida pontualmente, comprada e vendida a peso de ouro, a avaliar pelos muitos milhões de euros levantados e pagos, em terminais de levantamento ou pagamento automático, nomeadamente pelos portugueses, nos dias que antecedem a tal "festa de família". Uma festa de família que esquece por uns dias a degradação e miséria humana que nos cerca, ou a lembra, igualmente só por uns dias, poucos, qual panaceia mitigadora de fracas consciências. Para Jesus, a família somos todos, todos os dias. Que sensatez, que nobreza ou consciência colectiva ou individual, alimenta, como escreve Faranaz Keshavjee, esta bondade e generosidade que faz ostentação de abundância por um dia e "condena à miséria e solidão nos restantes 364 dias do ano ?" Em nome de que Deus se pode agir assim? Que família é a nossa ? É por tudo isto que tenho cada vez mais dificuldade em me reconciliar com este "natal pequenino" de que todos falam por um dia e esquecem pelos restantes 364. É por isto também que tenho saudades do Natal da minha infância e pré-adolescência. Não recebia brinquedos caros. Mesmo não sendo a "mesa" o centro das atenções, como hoje acontece, também nos deleitávamos, por vezes mais com as "fragrâncias gastronómicas" provenientes da preparação natalícia, do que a quantidade que lhes estava na origem. A oferta até podia não ser muita e a escolha poderia ser ainda menor, contudo havia o estritamente necessário sobre a mesa, e aquilo que temos por necessário, retirando à palavra "necessário" qualquer jogo mental, criatividade "verbal" ou adjectivação subliminar que lhe queiram associar, e em que o espírito humano é normalmente pródigo, não contamina o corpo nem a alma de nenhum cristão, mesmo se ele não consegue chegar com mais do que isso junto da família alargada de Deus. Concordo, minha cara Faranaz Keshavjee, que "é porque Jesus nasceu que todos os dias são dias de fazer Natal, de nos excedermos em boas-obras", mesmo sem que, para concluir isso, seja necessário eu ser muçulmano, ou eventualmente você ser cristã. "Rei morto Rei posto!" Espera-nos agora, dentro de quatro dias, a festa onde todos faremos de conta que somos ricos e temos fartura, num ritual de entorpecimento individual e colectivo prolongado à saciedade, mesmo se à nossa volta a família de Deus agoniza.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

CASA COMUM


05 de Janeiro de 2009, achava eu, seria um óptimo dia para "abrir ao mundo" a minha página pessoal, o meu blogue. Percebi hoje, 23 de Dezembro, que não devo esperar mais. Devo isso a mim próprio, à minha família, aos meus amigos e, essencialmente, ao Senhor Jesus Cristo, Autor e Consumador da minha fé. Não teve um "parto fácil" este blogue, tendo passado mesmo por momentos de incerteza quanto ao rumo a seguir; acresce também que colocar na "rede" uma página pessoal é forçosamente um atitude que requer ponderação. Desde logo, sobre o interesse que tal página possa vir a ter para uma comunidade alargada de "internautas" onde, como é óbvio, navegam mil e um olhares e motivações distintos. A certeza de que deveria avançar para uma divulgação mais célere, acabou por se revelar através de uma descoberta, no meio de "sombras e luzes", de qual o objectivo, qual o alvo ou alvos para o meu Blogue. Em consequência dessa descoberta, a deslocação dos holofotes do eventual interesse sobre mim próprio, ou daquilo que eu valha ou tenha para dizer, para o que eu represento enquanto pessoa e cristão convicto da minha fé naquele que me redimiu, o Senhor Jesus Cristo, foi absolutamental natural . Não deixando de falar de mim ( o que comporta desde logo um "risco de exposição" com que não estou ainda familiarizado ), porque é o mínimo que pode ser feito para que esta página possa garantir autenticidade e verificação matricial dos valores e padrões nela encontrados por quem cá "deixar rasto", não sou eu que interesso em especial. Importante serão os conteúdos e a liberdade que teremos ( tanto eu como quem entender deixar os seus comentários ) para os abordar em afloramentos que provavelmente só serão possíveis em Fóruns como este. Os últimos 37 anos da minha vida têm sido balizados por Cristo. São as marcas que Ele tem deixado no meu percurso, que me animam, desafiam e incentivam a avançar. Tem sido sempre assim. O apóstolo Paulo, homem de Deus que aliou a sua grande visão e vivência espiritual a um percurso, também ele humano, de "combates", como metaforicamente afirmou nos seus escritos epistolares, disse a determinada altura aos cristão da Galácia: "Desde agora ninguém me inquiete porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus".
São essas marcas, indeléveis também em mim, que dão substância a esta decisão de divulgação pública do AB-INTEGRO ainda em 2008. São elas que determinam a minha forma de sentir, observar, intervir. O pulsar deste Blogue depende e dependerá sempre das "marcas" que ostento; da minha identidade, cidadania e filiação no Reino. O meu principal desiderato passa por ficar com a absoluta certeza de que a perspectiva que cruza esta página pessoal, em relação a tudo o que a ela vier, cumpre com a minha matriz e responsabilidade cristã, enquadradas sempre pelo amor de Deus e pelo Seu permanente compromisso de vinculação, renovação e actualização na vida de cada homem em particular e nas gerações que se sucedem. Um Deus de Luz, não quer escurecer o nosso caminho ou castigar-nos rigidamente em cada falha. Na essência, as suas "marcas" em nós, demonstram a capacidade infindável que Jesus tem para nos amar, mesmo quando o desiludimos, quais "Pedros" na voragem de acontecimentos fatídicos num qualquer pátio .
Se um blogue poder ter uma dedicatória, então eu faço-a neste momento ao meu Senhor, à minha família, aos meus amigos e àqueles que se cruzem aqui comigo na construção desta "casa comum" . Procurarei honrar a todos, já que nem sempre será possível conjugar o verbo "agradar", seja por incapacidade, inépcia, impossibilidade ou imperativo ético, moral ou espiritual. Graça e Paz
P.S. Ficam por aí alguns textos que fui utilizando na "arquitectura da casa". Julgo que é de todo o interesse manter e reflectir sobre os mesmos.

"Glória" : by Michael Smith

sábado, 13 de dezembro de 2008

O Manto Diáfono da Fantasia

"Conselhos para sobreviver ao mundo gospel. Ricardo Gondim.

O mundo gospel se torna cada dia mais patético; distante do protestantismo; em rota de colisão com o cristianismo apostólico; transformado numa gozação perigosa; adoecendo e enlouquecendo milhares que são moídos numa engrenagem que condena a um duplo inferno.

Não consigo responder a todas as mensagens que entopem minha caixa postal. Milhares pedem socorro. Eu precisaria ter uma equipe de especialistas, todos me ajudando a atender os que me perguntam: “ a maldição do pastor vai pegar mesmo?”; “é preciso aceitar as patadas que recebo do púlpito?”; “em nome da evangelização, devo aturar esses sermões ralos?”.

Realmente não dá mais. A grande mídia propaga o que há de pior entre os evangélicos com petição de dinheiro, venda de “Bíblias fantásticas”, milagres no atacado e simplismos hermenêuticos. As bobagens alcançaram níveis intoleráveis.

O que fazer? Tenho algumas idéias.

Aconselho que os crentes parem de consumir produtos evangélicos por um tempo. Não compre Cd de música ou de pregação - inclusive os meus. Deixe os livros evangélicos encalharem nas prateleiras - idem, para os meus. Depois que baixar a poeira do prejuízo, ficará notória a diferença entre os que fazem missão e os que só negociam.

Não vá a congressos - inclusive o que eu promovo. Passe ao largo dos "louvorzões". Não sintonize o rádio. Boicote todos os programas na televisão. Não comente, nem critique, a pregação de pastores, bispos, evangelistas e apóstolos. Afaste-se! Silencie! Desintoxique mente, alma e espírito da linguagem, pressupostos e lógicas da "teologia da prosperidade". Volte a ler a Bíblia sem nenhum comentário de rodapé. Alimente seu interior em pequenos grupos. Reúna-se com gente de bom senso.

Estanque seus dízimos e ofertas imediatamente. Repense com absoluta isenção onde vai dar dinheiro. Mas prepare-se; no instante em que diminuírem as entradas, os lobos vestidos de pastor subirão o tom das intimidações. Não tenha medo. Faça essa simples auditoria antes de investir o seu suor em qualquer igreja ou ministério:

  • Quanto tempo é gasto no culto para pedir dinheiro? A hora do ofertório vem acompanhada de uma linguagem com “maldição, gafanhoto ou licença legal para ataques do diabo”? Prometem-se “prosperidade, colheita abundante, bênção, riqueza”, para os que forem fiéis? Existe alguma suspeita na administração dos recursos arrecadados? – Lembre-se que há dois níveis de integridade: o ético e o contábil. Não basta manter os livros em ordem; o dinheiro também só pode ser gasto no que foi arrecadado.

Se a resposta para alguma dessas perguntas for sim, ninguém deve se sentir culpado quando não der oferta.

So haverá arrependimento no dia em que os auditórios se esvaziarem junto com uma crise financeira - o monumental ufanismo evangélico precisa deflacionar.

Concordo, ninguém agüenta o jeito como as coisas estão.

Soli Deo Gloria." Precisamos mais pastores e homens de Deus como o pr. Ricardo Gondim. Como já comentei, num outro post, vem muita coisa má do outro lado do atlântico, onde também se fala português. Verificamos, no entanto, que já quase não precisávamos "importar", porque em Portugal, no movimento dito "evangélico", há já produção "nacional" de "relevo". Parafraseando um antigo anúncio televisivo, neste caso, "o que é nacional não é bom". Apetece citar Eça em a "Relíquia" : "Sobre a nudez crua da verdade, o manto diáfono da fantasia". Traduz bem o que se passa hoje em muitos meios que, de evangélicos, só ostentam o nome. Infelizmente a verdade que se esconde sob esse nome é feia e não tem nada a ver com Jesus e o evangelho Agradecido ao pastor Ricardo Gondim pela Lucidez, carácter, visão espiritual e coragem cristã.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Os novos místicos

"Montadoras americanas se agarram à fé

Bispo de grande igreja dos EUA leva carros das fábricas GM, Ford e Chrysler para o púlpito e conclama fiéis a orar pela liberação de pacote de ajuda ao setor; mobilização religiosa une diversas crenças pedindo o socorro divino à indústria automotiva

A possível quebra das três maiores montadoras de automóveis dos Estados Unidos não está preocupando apenas o governo e os milhões de trabalhadores cujos empregos estão direta ou indiretamente ligados ao setor. No último domingo, o bispo Charles Ellis, dirigente do Templo da Grande Graça, a maior igreja pentecostal de Detroit, cidade considerada a capital do automóvel nos EUA, conclamou seus fiéis a orarem para que o Congresso americano libere o pacote de ajuda no valor de US$ 34 bilhões, que seriam destinados ao saneamento das companhias Ford, General Motors e Chrysler, severamente afetadas pela crise. A medida é considerada a única saída para evitar o colapso do bilionário mercado americano do automóvel. Para que o ato de fé tivesse o maior impacto possível, Ellis, que é conhecido como um religioso mais que chegado à mídia, levou para o púlpito da igreja três utilitários fabricados pelas montadoras – um Ford Escape, Chrysler Aspen e um Chevy Tahoe, da GM. Os veículos foram doados por concessionárias de Detroit.(...) O desespero com a situação é tão grande que, na semana passada, 11 líderes religiosos, representando cristãos, judeus e muçulmanos, se uniram em um ato ecumênico para pedir a ajuda divina à indústria automotiva. O ato foi comandado por Adam Maida, arcebispo católico de Detroit, que escreveu uma carta de quatro páginas sobre a situação, dizendo que “no momento mais escuro do ano, proclamamos que Cristo é nossa luz e nossa esperança”."
In "Cristianismo Hoje" Há algo que me preocupa, e que se prende com a inversão de valores e padrões que constato na actualidade do mundo dito "cristão evangélico". Já nos tinhamos habituado há muito a olhar para algumas tradições católicas, relativamente à distribuição de bençãos e água benta sobre animais, rebanhos, cortejos, casas, e toda a sorte de bens materiais, pensáveis e impensáveis, e cujo objectivo é trazer bons augúrios aos proprietários ou utilizadores dos mesmos para que a vida lhes corra bem. Tal costume mantém-se, até aos nossos dias, em especial nas zonas mais interiores e menos desenvolvidas, nomeadamente de Portugal, enraizado em ancestrais práticas pagãs e místicas. Parece-me, afinal, que agora as coisas se invertem, sendo os cristãos evangélicos ( supostamente , e pelos vistos apenas supostamente... mais esclarecidos quanto ao conhecimento da Bíblia Sagrada) a pegar em práticas pagãs que, pelo exemplo do artigo acima citado, os católicos estão a deixar. Registe-se, com agrado o acto e as palavras do arcebispo católico de Detroit ao colocar apenas em Cristo a sua esperança e confiança para a crise que assola todos os sectores da sociedade, entre os quais a indústria automóvel Americana. Sem dúvida um belo exemplo para combater misticismos e paganismos mascarados de boas intenções, aceca das quais, diz o povo, e bem, "está o inferno cheio", mesmo que venham dos ditos "evangélicos". Talvez seja por estas coisas que me identifique mais, a cada dia que passa, com o Cristo dos evangelhos, e menos com este tipo de "evangélicos". Sou cristão e pronto! Jacinto Lourenço

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Fermento dos Fariseus

"Os fariseus também sofrem preconceito. Não devemos fazer generalizações ou discriminar nem quando tratamos do farisaísmo. É verdade que eles se contaminaram com um fermento sutil, que Jesus de Nazaré chamava de hipocrisia, mas não merecem ser execrados inteiramente; os fariseus não eram completamente maus.
Primeiro, é preciso entender o sentido da palavra hipocrisia; no contexto dos fariseus, significa falsidade, dissimulação, mera representação, incoerência. Um hipócrita religioso, então, seria alguém que prega, mas não vive; um santarrão público; um pecador nos bastidores. Mas existe outra possibilidade, que acredito mais próxima do Evangelho. A hipocrisia dos fariseus era, na verdade, inversa. Eles eram bons quando se distanciavam do exercício da religião, mas, péssimos quando se investiam de suas funções oficiais; eram perversos nos conclaves, jóias em casa. Como Jesus lidou com os fariseus em ambientes distintos, basta observar o comportamento deles para notar a diferença. Em almoços, nas conversas em “off”, os fariseus eram afáveis, curiosos e abertos para conceitos novos – Nicodemus, por exemplo. Mas no instante em que se sentavam para deliberar sobre religião viravam pessoas horrorosas. Jesus não evitava encontrá-los fora dos templos, mas não comparecia às suas reuniões oficiais – não dava! O vovô Anás não devia ser tão ruim, mas Anás, chefe do templo, se revelou um facínora capaz de conspirar a morte de um homem bom. Se a hipocrisia revelada pelo farisaísmo naquele tempo era o oposto do que se imagina, o mesmo continua a acontecer. Conheço pastores bem legais quando se acompanham dos filhos e dos netos. Já viajei com alguns e testemunho que foram companhias agradabilíssimas. Mais tarde, porém, eles me apavoraram. Reencontrei-os na direção de “plenárias deliberativas” e tremi. Desfigurados pelo título, pelo paletó e a gravata e pela empáfia do cargo, mostraram-se implacáveis, legalistas e maquiavélicos. Não se pareciam em nada com meus antigos colegas de viagem. A religião adoece porque lida com três forças avassaladoras: poder, dinheiro e fama. E o seu perigo aumenta quando o nome de Deus é reivindicado para autenticar as ações. Facilmente um sacerdote pode usar a Bíblia ou o respaldo da instituição para escudar escolhas nefastas. Que tentação! Quando tomado por essa falsa onipotência, o religioso derruba quem estiver no meio do caminho; consciente da verdade como revelação divina, elimina quem julgar nocivo; imbuído de missão sagrada de conquistar o mundo, arrasa possíveis inimigos. Nessa trilha, o líder religioso vai se desfigurando, desfigurando, até tornar-se um iníquo. Paulo advertiu a Timóteo que os “últimos dias” seriam difíceis (2Tm 3.1); previu os sacerdotes com a “forma de piedade, mas negando-lhe o poder”. Disse, inclusive que seriam inescrupulosos a ponto de entrarem “sorrateiramente nas casas para seduzir mulheres incautas”; donos de um perfil tão pernicioso se pareceriam com bandidos comuns (como um pastor pode caber numa lista dessas?). “Sabe, porém, isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os homens (leia-se, "os líderes religiosos") serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos dos prazeres que amigos de Deus”. O maior desafio de um líder religioso não é só viver o que prega, mas converter sua religião ao que vive em sua vida particular; deixar que a sua humanidade transborde para os espaços eclesiásticos; de colarinho clerical continuar tão humano quando vestia bermuda." Soli Deo Gloria." Ricardo Gondim ( in página pessoal de Ricardo Godim)

MENTIRAS

"As mentiras, ao contrário do que se apregoa, não são todas iguais. Existem mentiras inescrupulosas, malvadas, perniciosas, pecaminosas; mas e as outras? O que dizer das mentirinhas amorosas, aquelas que nascem de lábios apaixonados? Quando os namorados sussurram, saudades não tão intensas se colorem de encarnado. E toda e qualquer frase se transforma em uma declaração arrebatadora. Não há como condenar um pai, que mesmo ansioso por um descanso, finge-se disposto e vai brincar com os filhos. Quem poderia acusar a mãe que lê uma historinha e faz de conta que acredita em fadas? As mentiras que nascem do zêlo também não merecem o desprezo que geralmente lhes damos. “Engordei?” Nessa hora, homem nenhum pode responder com absoluta honestidade. Um lânguido “nem tanto”, é o máximo que deve ousar. Verdade é uma virtude que não existe sozinha, mas que tem de vir precedida pela graça. A graça que prefere o amor à justiça; que não teme ser rotulada como inconstante, desde que expresse misericórdia; que sabe encobrir com o intuito de proteger. Os Provérbios da Bíblia não condenam todas as mentiras: “O ódio espalha dissensão, mas o amor esconde os pecados" (10.12). E as mentiras médicas? Quem não se valeu delas? “Ainda não vai ser desta vez”, afirma até o mais criterioso diante do paciente que acabou de ser desenganado. “Vamos entrar no quarto, mas nada de choro; temos de manter uma atitude otimista para não abatê-lo mais”. Assim, os parentes se posicionam diante do doente e todo mundo disfarça. Os sorrisos ensaiados e as conversas “amenas” não passam de eufemismos; tudo mentira. Se a visita ao hospital vira farsa, todavia, uma farsa caridosa. Que tal as mentiras poéticas? Os mais exímios mentirosos são os poetas. Eles sabem transformar sentimentos banais em amor inflamado; tingem as palavras com adjetivos e realçam as paixões; inflamam os romances; fomentam os chamegos; adensam os carinhos. Na poesia o amante faz-se escravo e a amada, rainha. O poeta é um fingidor, mas nem sempre se dá conta que a sua malicia enriquece a vida. A Bíblia relata, sem censurar, as mentiras de vários heróis. Jacó ganhou a primogenitura enganando o pai (Gn. 27). Tamar, uma das ancestrais de Jesus, só conseguiu engravidar porque se travestiu de prostituta e enlaçou Judá (Gn 38). José ludibriou a família já que não queria revelar imediatamente a identidade (Gn42). O rei Davi fez-se de doido para escapar do ódio de Aquis, rei de Gate (1Sm 21). Rute passou a perna em Boaz, salvou-se e garantiu a genealogia do Messias (Rt 3). Impossível defender o dolo, a injúria, a impostura. Certamente o mentiroso não se sentará na roda dos justos. O farsante, o hipócrita, o maldoso que gagueja, merecem um fim semelhante aos ímpios. Porém, não há como negar: a humanidade não sobreviveria sem o recurso da mentira. Portanto, menos farisaísmo, por favor! Soli Deo Gloria." Ricardo Gondim (in Blog de Pr. Ricardo Gondim ) Achei interessante e publiquei. Não que eu defenda a mentira, bem pelo contrário. Mas não posso deixar de concordar em muito( não em tudo ) do que diz o pr. R. Gondim. Jacinto Lourenço

UNGIR AS TRAVES

"Bola murcha, fé em dobro
A um passo do rebaixamento para a segunda divisão, Vasco da Gama recebe visita de pastor que foi orar com jogadores. Com um pé na segunda divisão do futebol brasileiro, o Vasco da Gama, um dos mais tradicionais clubes do país, está apelando para a fé na esperança de escapar da degola. Em último lugar no Campeonato Brasileiro – competição que já conquistou quatro vezes –, o Gigante da Colina, como é chamado, atravessa uma das piores fases de sua gloriosa história. Pois ontem de manhã, logo depois do treino, o pastor Rodrigo Silva, da Assembléia de Deus de São Cristóvão (bairro onde fica o estádio do Vasco), apareceu para orar pelo time. Os jogadores Madson e Mateus receberam imposição de mãos e participaram de um culto improvisado no estacionamento do clube. A breve cerimônia durou cerca de 15 minutos. Além das orações, o pastor cantou um hino com os jogadores e fez pequenos comentários acerca da Bíblia. Segundo Madson, nada foi combinado. “Ele é um enviado de Deus”, elogiou o atleta. O encontro foi registrado por algumas câmeras de televisão, o que pareceu agradar Rodrigo. Aparentemente, o religioso entrou sem ser percebido, pois nenhum elemento da diretoria ou funcionário do clube sabia de sua presença. Clube preferido pela colônia portuguesa, o Vasco da Gama é tradicionalmente católico – mas, logo após a eleição do ídolo Roberto Dinamite como presidente, o ex-jogador Wilsinho, que é evangélico, apareceu em São Januário acompanhado por dois pastores e chegou a ungir as traves do estádio. É o vale-tudo para continuar na elite do futebol brasileiro." (Com reportagem do Globo Esporte) in revista "Cristianismo Autêntico" Quando se mistura fé e futebol , o resultado, para além de triste e absolutamente lastimável, só pode ser , no mínimo, ridículo. Como se Deus tivesse preferências clubísticas... O que acontece neste momento no Brasil com os evangélicos ( embora, como é óbvio, as generalizações sejam sempre perigosas e não devamos tomar a parte pelo todo ) é que de cristianismo autêntico, muitos já têm muito pouco e o que lhes falta em Criastianismo, sobra-lhes em histerismo, misticismo, senão mesmo em paganismo. São tantas e tão tontas as histórias que vêm do outro lado do oceano que, confesso, já tenho algum pudor em aceitar designar-me "evangélico", preferindo unicamente a designação de "cristão", mesmo tendo esta algumas estigmatizações fisicas, éticas e morais por culpa de outros tantos paganismos e aberrações históricas que lhe foram permeando a existência. No entanto, julgo que nenhum verdadeiro discipulo de Jesus deve envergonhar-se por ostentar tal nome, mesmo que em todo o tempo muitos, de todos os quadrantes, especialmente religiosos, tudo façam, ou tenham feito, para o encherem de lama. Jac.Lourenço

ARGUEIROS E TRAVES

Somos rápidos a constatar argueiros e lentos a retirar traves, só Jesus pode mudar isso em nós, mas é preciso que a nossa linha do preconceito não o impeça. Trazemos, mais vezes do que o necessário, os bolsos cheios de "pedras de preconceito", "falta de amor", irresponsabilidade, arrogância, falta de humildade, etc. Este é um problema de muitos ditos "cristãos" de hoje . Constato que muitos cristãos de hoje têm a mentalidade, o coração e conceito de justiça dos sacerdotes judaicos que levaram Jesus até Pilatos, senão mesmo a ligeireza espiritual daqueles que rodearam a mulher adúltera, prontos para a lapidarem. E a Verdade que liberta, que espaço têm para ela e como é que a estão a aplicar no seu dia a dia e nos relacionamentos com os seus irmãos em Cristo e com aqueles que o não são ? Quando estamos debaixo da Glória de Deus, isso muda a nossa visão das coisas e leva-nos a olhar para as pessoas da mesma maneira que Jesus olhava: sem o preconceito da injustiça humana e da cauterização religiosa. Como cristãos, ou vemos como Jesus vê ou então não somos mais do que seguidores de um credo despido daquilo que é mais elementar: o Espírito Santo de Deus; o mesmo Espírito Santo que levou um grupo de gente, sem nenhum relevo social ou importância religiosa, a afirmar uma fé que transformou o mundo pela aplicação da Verdade e não daquilo que possamos achar que é a verdade. Como filhos de Deus, a nossa margem de erro é limitada. A nossa regra de conduta tem que ser aferida pela medida divina e não pela humana, embora esta última nos possa parecer mais fácil, e satisfaça até o nosso desejo de protagonismo e afirmação de preponderância sobre o nosso próximo. O nosso olhar sobre as pessoas e situações tem que reflectir e mostrar, em primeiro lugar, que agimos de acordo e segundo a nossa cidadania cristã. Como filhos de Deus, os nossos bolsos não podem transportar pedras. O nosso coração deve mostrar a bondade, misericórdia e verdade que Jesus aplicou em todas as situações, sem julgamentos prévios infundados ou eivados de mentira derivados da linha de preconceito onde nos situamos habitualmente. “Sem a Graça somos uma desgraça” . Que Deus conceda a cada cristão, não apenas da minha igreja ou denominação, a Graça de sentir que pode e deve “despejar os bolsos de pedras” e a tenacidade e audácia, nem sempre fácil/quase sempre difícil , de lutar pela VERDADE consubstanciada no próprio Jesus. Jacinto Lourenço

HOJE É UM DIA NOVO

Hoje é um dia novo para mim. Inicio-me nas andanças "blogueiras". Este blog passará, provavelmente, nestes primeiros tempos, por alguns constrangimentos relativamente ao seu desempenho técnico. Tal facto ficará a dever-se à minha "juventude" no domínio da "blogologia". Gradualmente, em pequenos passos, qual política chinesa da era da Revolução Popular, entrarei no domínio da totalidade dos "comandos" necessários para "afinar" o desempenho blogueiro. Mas estes ditos constrangimentos não serão um bloqueio ao alcance que se pretende imprimir a esta "janela aberta" para o mundo. Aqui serão publicados os meus textos, os meus comentários; aqui darei conta dos meus sonhos, encantos e desencantos. Aqui trarei a verdade, à qual serei sempre fiel, e desmascararei a mentira e falsidade. Aqui procurarei construir relacionamentos amigos com todos os que cruzarem este "ponto de encontro" e pretenderem estabelecer pontes nesse sentido. Desejo que este Blog alcance os objectivo enunciados e que seja uma voz, um tema constante para reflexão face às ideias e factos que o alimentarem. Não quero ter medo das palavras nem das ideias, por muita ou pouca força que elas possam ter. Aqui se reconhecerá o que penso do mundo, das pessoas, dos factos e acontecimentos que me envolvem, estimulam ou decepcionam e do meu posicionamento face aos mesmos. Aqui darei conta da minha fé em Jesus Cristo e de como ela continua a transformar, todos os dias, a minha vida e as minhas perspectivas sobre tudo o que me cerca. Aqui deixarei dito, sem peias, meias palavras ou posições "politicamente correctas" tudo aquilo que me vai na alma; e isso far-me á crescer, ainda mais, como cristão e ser humano.