sexta-feira, 15 de julho de 2011

Coisas para as Quais já não tenho Paciência


Tenho andado a pensar que começo a acumular um défice de paciência para muitas coisas, sendo que  outras já me passam completamente ao lado.
Não tenho paciência, por exemplo, para discussões inúteis no Facebook, especialmente as   que têm em vista, por parte de quem muitas vezes as alimenta, a  marcação de território, ostentação de opiniões absolutistas,  ou exibicão de narcisismos  pseudo-culturais com pouca saída em foruns de  mais avisada assistência. Recuso liminarmente os púlpitos virtuais que se erguem nesta rede social  onde pregadores ocasionais proclamam em "deriva profética" um evangelho de consumo imediato, pessoal ou utilitário. Tenho, como sempre tive, e só isso me levou a "aderir", uma visão puramente hedonista do FB, ou melhor: o FB é um dos meus lugares de "veraneio"  na rede e nada mais, onde convivo com os amigos descontraidamente. Que me perdoem os puristas da coisa ou os que possam ter outra visão mais "séria" do assunto que eu sinceramente nunca consegui, nem quero, atingir.

Também já não tenho paciência para um certo  "imperialismo militante", de muitos sectores ditos cristãos, fundamentalistas  religiosos, donos de toda a verdade e revelação. Jesus disse que Ele era a Verdade e é essa Verdade que eu defendo "com unhas e dentes" por ser a Única Verdade. Esse é o evangelho que leio e que guia a minha vida. De resto, o respeito que tenho por qualquer cristão que, como eu, leia apenas e siga  esse evangelho,  é infinitamente  maior do que o que tenho por  qualquer exegeta, doutor da lei, apóstolo ( destes modernos que circulam por aí agora ) ou pregador, mesmo que possa ser muito relevante o seu papel numa qualquer igreja.
Já não tinha nenhum respeito nem paciência  para cristãos, pastores, evangelistas, ministros, que acham que por o serem,  a sua fé não pode ser confrontada,  ou que  estão acima de qualquer questionamento. O Senhor Jesus nunca fugiu aos debates, aos diálogos com aqueles que o questionavam sobre a Salvação e até acerca da sua própria condição humana-divina. Paulo buscava os confrontos que esclarecessem as posições e o alcance da fé cristã. Mais modernamente Lutero ou todos os outros reformadores tiveram que se questionar igualmente sobre as "verdades" absolutas da fé que os tinha formatado tendo a sua vida sido um constante corrigir de percurso e erros, muito deles, infelizmente graves e irremediáveis. Há muito de farisaísmo numa fé que se refugia na fuga ao debate, ao diálogo, que acha que não se deve deixar questionar por quem dela duvida. Gente com uma fé assim anda sempre carregada de pedras nos bolsos, vive num círculo fechado, é habitada por um  "Trento" protestante.

Já se me esgotou a paciência, há muito, para igrejas que se escondem em lugar de se exporem mostrando que também são feitas da mesma "massa humana" que toda a gente que não é igreja. Igrejas que necessitam de redenção!  Já não tenho pachorra para tolerar  "superioridades" espirituais que mais parecem apontar para  regimes de castas sublinhadas por particularismos pontuais que marcaram a vida da igreja de todos os tempos. Sou cristão-pentecostal, sim, mas  não tenho isso como fundamental ou como matriz diferenciadora da minha fé ou do meu comportamento cristão. Não julgo que haja qualquer virtude cristã especial em ser pentecostal, em ser batista, presbiteriano, etc. Somos todos, se efectivamente somos, um em Cristo, nada mais. Não faço  leituras ou exegeses abusivas da Bíblia Sagrada que tenham em vista aprisionar onde o evangelho libertou.

Noutro domínio, já não tenho paciência para governos de esquerda, de direita e menos ainda de centro direita. Cansam-me as causas fracturantes da esquerda e os populismos da direita; a vacuidade das falsas  ideologias que nos faz andar em círculos subindo na escala da babel dos ódios de estimação. Prefiro causas sociais,  pessoas reais, trabalhadores, empresários e sindicalistas sérios, que não vêm o capital como o fim último dos seus interesses ou dos seus combates, mas as pessoas, o povo, a nação, como fim último do seu trabalho . 

Chateia-me Olivença e os seus amigos portugueses em romaria anual a lembrar aos espanhóis que lá vivem que aquilo já foi português. A guerra de fronteiras encerrou-se há muito na península ibérica e os "fantasmas", como é sabido, não gostam de Espanha; preferem os ares mais taciturnos deste lado da fronteira onde os touros nunca andam em pontas e a investida é sempre mais dócil porque nada se arrisca.

Perdi a paciência com um país de penacho onde as pessoas se tratam por doutores e engenheiros como se título académico fosse nome próprio ou apelido de pai ou mãe. Esgota-me a paciência  ver uma justiça onde muitos  juízes prendem  polícias e soltam  ladrões. É bem provavel que tenham cabulado no exame de acesso à profissão...

Não dá mais para suportar o eterno desprezo a que é votada a cultura em Portugal, que hostiliza Nobeis portugueses, raros, como sabemos, e os deixa morrer fora de portas apenas porque são polémicos ou incovenientes para as oligarquias do regime. Menos paciência tenho  ainda para tolerar uma cultura-de-faz-de-conta-que-é-mas-não-é  promovida por quem não sabe respeitar um povo que se soube afirmar contra ventos e tempestades e onde falta uma nova geração de Avis que recoloque Portugal no lugar que é seu no concerto das nações.


Jacinto Lourenço