quinta-feira, 31 de maio de 2012

Descoberto em Silves Vestígio Arqueológico Judaico mais Antigo da Península Ibérica




Quem terá sido Yehiel? Talvez um escravo judeu que viveu - e morreu - há mais de 1600 anos numa sumptuosa vila romana (uma casa senhorial) perto de Silves, no Algarve? Talvez nunca venha a saber-se. Mas o que parece estar garantido é que a descoberta agora anunciada por arqueólogos alemães, realizada em colaboração com arqueólogos portugueses, representa o mais antigo vestígio cultural judaico jamais encontrado na Península Ibérica.

A equipa de Dennis Graen, da Universidade Friedrich Schiller de Jena, na Alemanha, anda há três anos a escavar as ruínas de uma vila romana descoberta em 2005 por Jorge Correia no sítio das Cortes, próximo de São Bartolomeu de Messines e da Estrada Nacional 124. Na altura, este arqueólogo da Câmara Municipal de Silves encontrara cerâmicas e mosaicos romanos à superfície. [...]


Ler texto integral AQUI no jornal Público

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Portugueses no Holocausto



Lançamento do Livro "Portugueses no Holocausto - Histórias das vítimas dos campos de concentração, dos cônsules que salvaram vidas e dos resistentes que lutaram contra o nazismo", de Esther Mucznik. (Esfera dos Livros)


Sinopse:
Baruch Leão Lopes de Laguna, um dos grandes pintores da escola holandesa do século XIX, judeu de origem portuguesa, morreu em 1943 no campo de concentração de Auschwitz. Não foi o único, com ele desapareceram 4 mil judeus de origem portuguesa na Holanda, que acabaram nas câmaras de gás. No memorial do campo de Bergen-Belsen consta o nome de 21 portugueses deportados de Salónica, entre estes Porper Colomar e Richard Lopes que não sobreviveram. Em França, José Brito Mendes arrisca a sua vida, escondendo a pequena Cecile, cujos pais judeus são deportados para os campos da morte. Uma história de coragem e humanismo no meio da atrocidade. Em Viena, a infanta Maria Adelaide de Bragança também não ficou indiferente ao sofrimento, e não hesitou em ajudar a resistência nomeadamente no cuidado dos feridos, no transporte de armas e mantimentos, tendo sido presa pela Gestapo. Esther Mucznik traz-nos um livro absolutamente original, baseado numa investigação profunda e cuidada em que nos conta a história que faltava contar sobre a posição de Portugal durante a Segunda Guerra Mundial.

Autora:
Esther Mucznik viveu em Israel e em Paris onde estudou, respectivamente, Língua e Cultura Hebraicas e Sociologia na Sorbonne. É membro da direcção da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) e sua vice-presidente desde 2000. Fundadora da Associação Portuguesa de Estudos Judaicos e membro dos seus corpos dirigentes, é ainda redactora da Revista de Estudos Judaicos. Coordenadora da Comissão Instaladora do Museu Judaico e membro da coordenação do Itinerário Europeu do Património Judaico, sendo cofundadora da Associação Universos, Associação para o Diálogo Inter-Religioso e do Fórum Abraâmico de Portugal.


Via Eterna Sefarad

terça-feira, 29 de maio de 2012

A Política no Tempo dos Sábios...


Naquela época a que soe chamar-se a "idade de ouro", o governo estava nas mãos dos sábios: tal é a opinião de Possidónio. Os sábios impediam a violência, protegiam os mais fracos dos mais fortes, indicavam o que se devia ou não fazer, apontavam o que tinha ou não utilidade. Graças à sabedoria, providenciavam para que nada faltasse ao seu povo; graças à coragem, mantinham afastados os perigos; por meio dos seus benefícios, distribuiam bem-estar e prosperidade entre os súbditos. Para eles, governar era o exercício de um dever, e não a mera posse do poder. Ninguém tentava experimentar contra eles as suas forças, pois a eles deviam essas forças; ninguém tinha a ousadia de os injuriar, nem para tal havia motivo, pois é fácil obedecer a quem governa com justiça" [...]

Cartas a Lucílio, livro XIV,carta 90.5 - Edição Fundação Gulbenkian

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Os Tentáculos do Neoliberalismo



...O neoliberalismo nada tem contra haver Estado suficiente para parcerias público-privadas desastrosas para o erário público; para tráficos de influências e garantias de proveitosas carreiras; para salvamentos de bancos nacionais impostos por um sistema financeiro internacional que confisca a democracia; para sistemas educativos que formem elites ou para sistemas de saúde que se ocupem dos doentes que não são rentáveis para a medicina privada. O neoliberalismo nada tem contra haver na sociedade autonomia suficiente canalizada para o assistencialismo ou a caridade, desde que essa acção não questione intelectualmente, nem abale através de práticas, o imobilismo trágico das desigualdades socioeconómicas e a irracionalidade de um modelo económico iníquo.[...]


Sandra Monteiro in Le Monde Diplomatic edição portuguesa

sábado, 26 de maio de 2012

Meu Amor partiste - Um improviso

















Meu Amor partiste... eu sei
sempre partiste para longe, eu sei
e não há escudo que te guarde
nem euro nem barca nem vela que te traga
pois se nem notícia veio d' El-Rei...

a mesa está vazia, não há pão não há vinho
sem filhos não há leite
os velhos esquecidos nem comem
e não há pachorra que os oiça 
a dizer que é a miséria de outrora que volta

como a mesa a cama está vazia
sem dinheiro os prazeres são pecado
e só as saudades ficaram
daqui te mando palavras do meu amor
que por ora ainda não paga imposto
Meu Amor partiste, eu sei
e agora até o totobola dá pouco
só se for o TGV que te traga
- se é por ele que a gente se mata...



Maria Lascas

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Humor de Sexta - A Cauda da Europa...



Fonte: HenriCartoon

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Sei Lá...



Sei lá. Porque "lá" hei de saber. Sei lá. Porque, enquanto estou cá, sei apenas em parte. Sei lá. Porque "lá" saberei plenamente. Sei lá. Porque "lá" já estou mas, em percepção, ainda estou cá. Sei lá. E que o amor seja maior que a fé e a esperança por "lá". Sei lá. Porque - e me desculpem os religiosos e os que fazem suas apostas por "lá"! -, sem amor, de nada vale a fé na fé ou a esperança em causa própria. Sei lá. Porque não se chega "lá" sem o amor.


Alexandre Nunes de Sá in Revista Ultimato

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A Biblioteca Nacional vista por Pessoa em 1925



Fernando Pessoa tinha quase preparado para publicação um guia turístico bilíngue (português e inglês) intitulado "O que o turista deve ver - What the tourist should see" escrito provavelmente em 1925. Contudo nunca chegou a ver a luz da edição durante a sua vida e só em 1992 foi publicado pela editora Livros Horizonte. Actualmente vai na 11ª edição (2011).

Nesse guia turístico, que Pessoa pretende que seja um guia para conhecer a maravilhosa cidade de Lisboa por meio do automóvel, estão indicado todos os monumentos, edifícios e paisagens que o autor achava meritórios de serem vistos e apreciados pelos turistas. Nele consta a Biblioteca Nacional de Lisboa, descrita da seguinte maneira pelo poeta:
«A Biblioteca Nacional está no segundo andar [no edifício do antigo convento de S. Francisco em Lisboa]. Foi fundada em 1796 com o nome de Real Biblioteca Pública da Corte, tendo sido criada com os livros que formavam a biblioteca da Mesa dos Censores, quer dizer, com os livros que tinham pertencido aos Jesuítas, e à Academia Real da História. A biblioteca tem sido sucessivamente enriquecida através de aquisições e donativos. Tem 11 salas e 14 galerias, em dois andares, e contém 360 000 volumes. À entrada estão a estátua da Rainha D. Maria I, de Machado de Castro, e os bustos de Castilho (de José Simões de Almeida) e de D. António da Costa. Os azulejos policromos do século XVI merecem ser vistos; pertenciam antigamente à capela da Senhora da Vida, na igreja de Santo André, que agora já não existe.
No andar de baixo são as salas de leitura para investigação privada e leitura geral, a sala de ficheiros e a sala de periódicos. No andar superior estão a tipografia, os serviços, o gabinete de estampas e a importantíssima sala dos Livros Reservados, que contém as mais raras obras, verdadeiras relíquias bibliográficas, algumas delas exemplares únicos, espécimes com encadernações e ilustrações raras, manuscritos, moedas, e muitos documentos escritos de todos os géneros, formando todo este conjunto uma colecção bibliográfica merecedora do maior cuidado possível. E quase se pode dizer que esta secção da Biblioteca, como de resto todas as outras, é agora objecto de adequado cuidado e vigilância. A Biblioteca distingue-se agora pela limpeza e pelas boas instalações, considerando especialmente que o edifício não é o mais apropriado para este fim. Recentemente, e especialmente desde que foi nomeado seu director o Dr. Jaime Cortesão, escritor e poeta consagrado, a Biblioteca tem tido um marcante e bem necessário progresso.

O visitante pode também ver a secção especial de Bíblias (que possui uma das duas cópias ainda existentes da primeira edição da Bíblia da Mogúncia ou de Gutenberg), os Arquivos da Marinha e do Ultramar, que incluem mapas e cartas, o gabinete de catalogação, a Biblioteca do Convento do Varatojo, que conserva a sua disposição original, incluindo o oratório, a Sala Fialho de Almeida com o busto deste escritor (de Costa Mota Sobrinho), etc.

Há um vasto terraço no topo do edifício, com uma belíssima vista. A Biblioteca está aberta todos os dias úteis das 11 da manhã às 5 da tarde, e das 7.30 às 10 da noite.»


Fonte: Blogue de História e Estórias

terça-feira, 22 de maio de 2012

A Culpa da Grécia e a Culpa da Alemanha



Quando, em maio de 1945, a Alemanha perdeu a II Guerra Mundial, tinham morrido, ninguém sabe ao certo, uns 40 milhões de pessoas. O país estava literalmente destruído e contava, por sua vez, cerca de sete milhões de mortos. As potências vencedoras decidiram viabilizar economicamente a nova Alemanha, apesar de a terem separado da Áustria e de a terem dividido: a RFA sob a tutela da Grã-Bretanha, França e Estados Unidos; a RDA sob a tutela da União Soviética. Mas esta solução foi bem melhor do que a que Churchil, o primeiro-ministro inglês da guerra, chegou a planear: transformar o país num enorme campo agrícola, sem indústrias, sem serviços, sem nada.

De 1947 até 1952 a Alemanha Ocidental recebeu, do Plano Marshal, 3,3 mil milhões de dólares. Esta dívida foi paga ao longo de 25 anos, até 1978: mil milhões pelo Governo, os restantes 2,3 mil milhões por um Fundo que emprestou esse dinheiro a juros baixos e a prazos longos, principalmente a pequenas e médias empresas.

A partir de março de 1960 - 15 anos depois do fim da guerra - a Alemanha Ocidental - graças a um dos maiores crescimentos económicos de sempre, de que o povo da RFA tem todo o mérito mas que só foi possível realizar por não ter faltado dinheiro para investir - começou finalmente a pagar indemnizações devidas a 11 Estados : a Grécia recebeu 115 milhões de marcos alemães, a França 400 milhões, a Polónia cem milhões, a Rússia sete milhões e meio, a então Jugoslávia oito milhões. Foram pagos três mil milhões de marcos a Israel e 450 milhões a organizações judaicas.[...]

Ler texto integral AQUI no Diário de Notícias Online

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ainda a Fúria no Pingo Doce...


Agora, que a espuma das notícias já se diluiu na comunicação social,  que explorou à exaustão o "filão" Pingo Doce, julgo que posso reflectir um pouco sobre a campanha dos 50% desta cadeia de supermercados, especialmente porque não fico  indiferente ao que se passa neste país sui géneris chamado Portugal.

Ao contrário do que uma parte da imprensa tentou fazer passar, a marcação da tal promoção para o dia 1 de Maio não foi inocente e nem se tratou de mera coincidência. A prová-lo, o facto dos patrões do Pingo Doce terem pago o dia a 500%, isso mesmo, 500%,  aos trabalhadores que se apresentaram ao trabalho furando a greve convocada pelos sindicatos respectivos. Podiam ter feito a promoção, ( e não temos nada contra as promoções no comércio )  num sábado, num domingo ou num outro qualquer dia da semana, mas não, o que lhes deu mesmo jeito, com tantos dias disponíveis para isso,  foi o dia 1 de Maio... Houve portanto, parece-me, a intenção clara da entidade patronal desferir um "golpe" no movimento sindical e, simultaneamente, no simbolismo do 1 de Maio que é, desde há muitos anos, como sabemos, um dia historicamente associado à luta dos trabalhadores pela dignidade do trabalho. Claro que o primeiro dia do mês de Maio, feriado nacional em boa  parte dos  países do mundo, não é uma "vaca sagrada" intocável, mas também é verdade que deveria merecer mais respeito seja por parte dos trabalhadores, dos patrões ou dos governos. Afinal, as efemérides valem por aquilo que representam e, de facto, para patrões e para a generalidade dos trabalhadores portugueses, valem muito pouco, hoje,  a observar pela importância que uns e outros lhe dão. Hoje troca-se dignidade por meia dúzia de bolotas...

As imagens que vi na televisão, e que mostravam o interior dos supermercados e a sofreguidão das pessoas por produtos, mesmo que não lhes fizessem falta nenhuma, mostraram  que os piores sentimentos existentes no ser humano podem ser despertados e vir ao de cima a qualquer momento nas situações mais inopinadas.

Não é verdade que esta campanha do Pingo Doce tenha sido ditada por sentimentos de compaixão dos donos da cadeia face à crise que atinge os mais pobres.  Aliás, poucos pobres, em Portugal,  podem dispor, assim do pé para a mão, sem estarem a contar, e em função de marcação aleatória de uma campanha, de cem, duzentos, trezentos euros ou mais  para irem a correr fazer compras no supermercado. Quem aproveitou a campanha, tinha dinheiro para gastar,  e dinheiro que não lhe iria fazer falta no imediato pois caso contrário não o teriam gasto...

A campanha dos 50% mostrou os estados de alma que norteiam muitos portugueses consumidores e alguma distribuição, e desses estados de alma emerge a face mais negra do consumismo e da ganância e ainda da falta de ética e de valores que levam alguns ditos empresários a pretenderem arrasar com a produção nacional e com tudo o que cheire a dignidade e ética empresarial no meio em que operam. Soares dos Santos deixou cair, agora completamente, a máscara de "campeão" da ética e da responsabilidade social. É quase impossível alguém voltar a acreditar nas palavras deste homem quando ele for às televisões  dar  "lições" de moral aos portugueses.

Finalmente uma palavra para os sindicatos e alguns partidos políticos que vieram reclamar nos media do "dumping" praticado pela Jerónimo Martins face à concorrência. Confrangedor, ver partidos e sindicatos que, à falta de outros argumentos ( e tinham-nos com fartura ), utilizavam os que seria normal serem utilizados pela concorrência do Pingo Doce. Desde quando é que o "dumping" é assunto que deva estar em primeiro plano no léxico dos sindicatos e de alguns partidos que se reclamam, principalmente, da defesa dos direitos dos trabalhadores ?  Talvez fosse melhor ocuparem o seu tempo com um debate interno à volta  da razão que leva milhões de trabalhadores a afastarem-se das festividades do dia do trabalhador em lugar de se preocuparem com os assuntos que a 1 de Maio deviam ser do domínio da concorrência na distribuição e das autoridades reguladoras competentes. Apenas deprimente. 

Depois de 2012, o dia 1 de Maio, em Portugal, não voltará a ser olhado da mesma maneira, para mal dos trabalhadores, dos sindicatos e de alguns empresários com "e" pequeno. O consumismo irresponsável e a ganância, esses continuam a dar cartas e a ter via aberta para um futuro sem ética nem padrões de espécie nenhuma na vida de muita gente.


Jacinto Lourenço    

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Humor de Sexta - Desemprego Controlado...




Fonte: HenriCartoon

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Europa Morreu em Auschwitz...

...Recentemente, no Reino Unido, debateu-se a intenção de remover o holocausto do curriculum das suas escolas, porque era uma ofensa para a população muçulmana, a qual diz que isto nunca aconteceu.

Até agora ainda não foi retirado do curriculum. Contudo é uma demonstração do grande receio que está a preocupar o mundo e a facilidade com que as nações o estão a aceitar. Já passaram mais de sessenta anos depois da Segunda Guerra Mundial na Europa ter terminado. O conteúdo deste email está a ser enviado como uma cadeia em memória dos 6 milhões de judeus, dos 20 milhões de russos, dos 10 milhões de
cristãos e dos 1 900 padres católicos que foram assassinados, violados, queimados, que morreram de fome, foram espancados, e humilhados enquanto o povo alemão olhava para o outro lado.
Agora, mais do que nunca, com o Irão entre outros, reclamando que o Holocausto é um mito, é imperativo assegurar-se de que o mundo nunca esquecerá isso.[...]


Ler texto integral AQUI no blogue Eterna Sefarad




Nota: Este texto não traduz, para o Ab Integro, uma total concordância com  parte das ideias e fundamentos expressos no mesmo. No entanto é  um desafio, do ponto de vista sociológico e religioso, ente outros, e por isso merecedor de reflexão.

J.L.

terça-feira, 15 de maio de 2012

RUA CHAMADA DIREITA























Rua Direita, em que o sol estreita os raios
num único os raios oblíquos
uma rua de Damasco, simples endereço
onde por um acidente celeste
Saulo entrou, hóspede
dos planos divinos e esperava
os dias eram cegos com o olhar colado a escamas
tremia ainda, pelo calafrio da luz
que penetrara até à raíz dos olhos?
pela Voz que, qual punho, o derrubara
na poeira de veludo da estrada de Damasco?


14/3/2012

 © João Tomaz Parreira

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A Trindade Capitalista



 J. I. González Faus, da Faculdade de Teologia da Catalunha, faz uma crítica acérrima à presente situação. Voltando ao documentário célebre Inside Job, num artigo ácido que intitula "Agencias de rating o de raping?", denuncia os Bancos de investimento que vendiam activos tóxicos, sabendo-o. Lá estavam os peritos da Moody's e Standard and Poors, dizendo: "são AAA (fiabilidade máxima)." Deste modo, as três agências (Moody's, S & P e Fitch) ganharam milhões. Elas poderiam ter terminado a festa, dizendo: vamos ajustar os critérios. Mas não; pelo contrário, deram triplo A a Madoff, dias antes da sua queda. Meses antes da derrocada de Lehman Brothers, o próprio FMI declarou que estava "em boa situação financeira e os riscos parecem baixos".

Por isso, na arbitragem das agências, ao contrário do que deveria suceder, "é preciso partir do pressuposto da sua parcialidade e desonestidade, a não ser que se prove o contrário". O problema é que vivemos num sistema montado sobre a agressão do capital insaciável. [...]
A quem lhe atira que é um ignorante ou analfabeto económico responde: "Tive uma irmã gémea que morreu de cancro por culpa de uma clara falha médica. Quando lhe foi comunicado o diagnóstico fatal, limitou-se a dizer: 'Eu não saberei de medicina, mas quando digo que algo me dói é porque dói; mas ao médico não doía'. Receio que aos nossos médicos económicos lhes não dói."

José M. Castillo, da Universidade de Granada, pergunta: "Quem são os mercados?" O que se sabe é que, uma vez que o que interessa é o lucro, as pessoas investem somas fabulosas no capital financeiro e, neste momento, "ninguém sabe até onde chega a montanha imensa de dinheiro que os mercados manejam". O que é facto é que o movimento de capitais financeiros se move pelo mundo sem qualquer controlo, e um indivíduo, a partir de casa, com o seu computador, pode transtornar e afundar a estabilidade económica e as poupanças de milhões de pessoas.

Que fazer? Afinal, "a corrupção maior e mais perigosa não é a desta ou daquela pessoa, deste ou daquele político, desta ou daquela empresa. A corrupção mais grave é a corrupção do sistema económico em que estamos metidos", que enriquece mais os ricos e empobrece mais os pobres. Quem manda no mundo não são os políticos, mas a economia e a finança. "É urgente que nós todos pressionemos, cada um como puder e sempre com a mais transparente honradez, os que gerem o poder económico e político, para que regulem e controlem os mercados, aumente a produtividade e, em todo o caso, que o que se produz não beneficie tanto uns poucos à custa da ruína dos outros."

Xabier Pikaza, da Universidade de Salamanca, reflecte sobre a nova Trindade, frente à Trindade cristã. "A Trindade cristã era formada por Deus Pai, o Filho Jesus Cristo (que éramos todos os seres humanos) e o Espírito Santo (que era a comunhão ou amor entre Deus e os seres humanos, entre todos os seres humanos). Mas agora surgiu uma Trindade diferente, formada por Deus-Capital (que não é Pai, mas monstro que tudo devora), pelo Filho-Empresa, que não redime, mas produz bens de consumo ao serviço dos privilegiados do sistema, e pelo Espírito Santo-Mercado, que não é comunhão de amor, mas forma de domínio de uns sobre os outros."

Anselmo Borges in Diário de Notícias

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Humor de Sexta - Republicanos, mas Pouco...




Fonte: HenriCartoon

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ser Conduzido pela Fé




...Podemos ter uma atitude política, tentar intervir na realidade. Mas, se não formos conduzidos pela fé, o realismo leva-nos a desistir. O cristão tem possibilidade de se livrar dessa fatalidade na sua relação com o céu. Na metáfora que utilizo, levantar o céu, é trazer a terra ao encontro do céu. 
Aí, não estamos sós. Temos a intervenção de Deus, temos a fé na redenção, no perdão dos pecados, no valor do sofrimento, na abnegação, na bondade... Temos também a fé na cultura, na inspiração extraordinária dos grandes artistas, que alcançam níveis fantásticos de captação da bondade, da beleza do mundo. E temos a renovação constante da vida: se há um incêndio numa mata, vemos daí a pouco aparecerem as flores, as ervas. A vida não desiste de se reproduzir, de envolver a realidade.[...]


José Mattoso in Jornal Público

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Que Europa para Celebrar ?!




( Assinatura do tratado de Roma -1957 )


«A União Europeia celebra hoje, em Bruxelas e um pouco por todas as capitais dos 27 Estados-membros, o "Dia da Europa", que assinala este ano o 62.º aniversário da chamada "Declaração Schuman" (1950), considerada o início do projeto europeu.» 

Diário de Notícias, 2012,05,09



Shuman, Adenauer e Monnet, talvez soubessem que projecto tinham para a europa. Hoje é difícil que alguém na europa saiba o que é isso de projecto europeu.  Uma europa dominada por ambições e particularismos sociais e económicos de um ou dois países não pode ser, nunca, um projecto credível que leve os cidadãos europeus a acreditarem e a nele investirem. A europa que temos hoje pode ser tudo o que se pretender mas não pode já ser celebrada em nome de um sonhado projecto que talvez fosse, quiçá, demasiado visionário  e não tivesse levado em conta a incapacidade de os países europeus gerarem líderes políticos capazes de olharem além dos seus próprios umbigos. Faz pouco ou nenhum sentido celebrar hoje o "Dia da Europa", especialmente porque já ninguém sabe o que é ou virá a ser a europa, mais ainda quando quem manda são os alemães.  Por muito que isso possa pesar sobre a memória dos "pais" da UE, celebrar um pretenso projecto europeu à distância de  62 anos vale hoje pouco menos do que  mera retórica.


Jacinto Lourenço 




Governo 2 - Vaticano 2 = Portugueses 0



Fonte: Henricartoon

terça-feira, 8 de maio de 2012

67 Anos após a Barbárie


A 8 de Maio de 1945 o marechal de campo alemão, Keitel,  assinava a rendição alemã que poria fim às hostilidades da  segunda guerra mundial na europa, muito embora esta continuasse por  mais alguns meses com os japoneses.

É uma data tristemente histórica, desde logo porque arrasou com uma boa parte das cidades e territórios da europa  e com a economia europeia que só voltaria a reerguer-se nos anos sessenta depois de um bem gizado e bem sucedido Plano Marshall  posto em prática pelos Estados Unidos da América para a recuperação dos países europeus afectados pela guerra.

Mas fundamentalmente, e após 67 anos, não nos sai da memória a quantidade de vidas ceifadas, que terão rondado o indescritível número  de cerca de setenta milhões, sendo que quase dez por cento desse número se refere a judeus assassinados pelos alemães nos guetos e campos de concentração, no  que haveria de ficar conhecido  para a história da humanidade como o Holocausto. Não esqueceremos a barbárie. Nunca. Mesmo que muito poucos meios de comunicação queiram publicar algo sobre a data, nomeadamente em Portugal. Compreendo, não vende papel nem dá share, e os mortos não se fazem ouvir... É por isso que o lembramos hoje, passados 67 anos, quando os ventos que sopram na europa voltam a ser de esquecimento, confusão e dão lugar à  emergência de nacionalismos de recortes vários.

Jacinto Lourenço

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O Mundo em Duas Semanas e um Arrepio...


Passaram apenas duas semanas desde que saí. Pensamos sempre que duas semanas pouco podem alterar o rumo de uma vida, de um país, de uma região, do mundo. Mas acho, afinal, que as duas últimas semanas contrariam esta ideia feita, que se calhar era só minha, já que até  Heraclito de Éfeso  dissera há cerca de dois milénios e meio  "não haver nada permanente excepto a mudança"...

No alentejo profundo, a centena e meia de  quilómetros de casa, só pensámos na chuva, que nunca mais parava, no sol que nunca mais vinha, nos passeios  pelos campos floridos daquele atapetado multicolor de que apenas os  campos alentejanos se sabem cobrir  que tardavam em mostrar-se. Tudo trocado, apesar disso, por felizes momentos passados a ouvir o crepitar da lareira e a ler o jornal da semana anterior ao som da chuva a cair do lado de lá da janela, a descansar das rotinas e do stress com que as actividades diárias e o lufa lufa urbano se encarregam de nos repassar. Um pouco de televisão à noite e eis que somos atingidos em cheio pela "bomba" sociológica lançada pelo Pingo Doce. Não tenho muito mais a dizer sobre tal assunto, tudo já foi explorado à exaustão pelos media e comentadores de serviço habituais que são capazes de dizer, sobre um mesmo assunto, a mesma coisa e o seu contrário esperando depois que nós, comuns cidadãos, sejamos todos muito burros e incapazes de perceber o que se passou realmente.
Não me apetece agora discorrer sobre aquilo que, em minha opinião, se passou no dia 1 de Maio de 2012 em Portugal, mas desconfio que o mundo também não estará muito expectante sobre o  que eu tenha para dizer acerca da tal "bomba" sociológica.

O que era expectável foi o que se passou hoje, quando terminaram as minhas férias molhadas, em França e na Grécia. Parece que se fizeram, só em França, 300 e tal sondagens sobre os previsíveis resultados eleitorais para a presidência francesa... O que eu acho espantoso é que praticamente todas davam a vitória a Hollande, tanto na primeira como na segunda volta das eleições, e com erros mínimos nas previsões. Hoje confirmou-se que os franceses são de ideias fixas mas têm certezas não absolutas quanto às suas escolhas, a julgar pela divisão de votos entre os dois candidatos. Já os gregos mantiveram-se fiéis às suas dúvidas e incertezas quanto ao  que querem do futuro, muito embora me pareça que sabem exactamente o que não querem, só que, da soma das suas dúvidas,  sobram-lhes, parece-me, mais problemas que soluções. 

Enquanto eu me recolhia ao calor da minha lareira alentejana e ouvia na rua a chuva a cair sobre a terra sedenta, o mundo, cá dentro e lá fora,  mudava a ritmo acelerado, e de arrepio. Afinal, em duas semanas, o mundo dos homens pode mudar muito mais do que se possa imaginar, mesmo que não tenhamos nenhumas certezas sobre o que é que isso pode significar no futuro imediato para todos nós. Depois, bem, depois temos sempre presentes as palavras de Jesus: "basta a cada dia o seu mal". Talvez a inquietação permanente não deva ser o nosso objectivo principal quando nos levantamos a cada novo dia. Talvez devamos então preferir a esperança e a força vital que nos faz caminhar pelo meio da tempestade sabendo que a seguir a esta virá, quase de certeza, a bonança e que o arco iris trará a mesma certeza de sempre.


Jacinto Lourenço    

quarta-feira, 2 de maio de 2012

OS PESCADORES DA RIA
















Ficam ali parados a pescar
a raridade
de um peixe, gostam de estar
sozinhos, sentados ou então
como um farol, recortado na luz
suja da sombra, também pescam
além de peixes, reflexos na água
pescam luzes de prata
na corrente.

© João Tomaz Parreira

19/3/2012