Fernando Pessoa tinha quase preparado para publicação um guia turístico bilíngue (português e inglês) intitulado "O que o turista deve ver - What the tourist should see" escrito provavelmente em 1925. Contudo nunca chegou a ver a luz da edição durante a sua vida e só em 1992 foi publicado pela editora Livros Horizonte. Actualmente vai na 11ª edição (2011).
Nesse guia turístico, que Pessoa pretende que seja um guia para conhecer a maravilhosa cidade de Lisboa por meio do automóvel, estão indicado todos os monumentos, edifícios e paisagens que o autor achava meritórios de serem vistos e apreciados pelos turistas. Nele consta a Biblioteca Nacional de Lisboa, descrita da seguinte maneira pelo poeta:
«A Biblioteca Nacional está no segundo andar [no edifício do antigo convento de S. Francisco em Lisboa]. Foi fundada em 1796 com o nome de Real Biblioteca Pública da Corte, tendo sido criada com os livros que formavam a biblioteca da Mesa dos Censores, quer dizer, com os livros que tinham pertencido aos Jesuítas, e à Academia Real da História. A biblioteca tem sido sucessivamente enriquecida através de aquisições e donativos. Tem 11 salas e 14 galerias, em dois andares, e contém 360 000 volumes. À entrada estão a estátua da Rainha D. Maria I, de Machado de Castro, e os bustos de Castilho (de José Simões de Almeida) e de D. António da Costa. Os azulejos policromos do século XVI merecem ser vistos; pertenciam antigamente à capela da Senhora da Vida, na igreja de Santo André, que agora já não existe.
No andar de baixo são as salas de leitura para investigação privada e leitura geral, a sala de ficheiros e a sala de periódicos. No andar superior estão a tipografia, os serviços, o gabinete de estampas e a importantíssima sala dos Livros Reservados, que contém as mais raras obras, verdadeiras relíquias bibliográficas, algumas delas exemplares únicos, espécimes com encadernações e ilustrações raras, manuscritos, moedas, e muitos documentos escritos de todos os géneros, formando todo este conjunto uma colecção bibliográfica merecedora do maior cuidado possível. E quase se pode dizer que esta secção da Biblioteca, como de resto todas as outras, é agora objecto de adequado cuidado e vigilância. A Biblioteca distingue-se agora pela limpeza e pelas boas instalações, considerando especialmente que o edifício não é o mais apropriado para este fim. Recentemente, e especialmente desde que foi nomeado seu director o Dr. Jaime Cortesão, escritor e poeta consagrado, a Biblioteca tem tido um marcante e bem necessário progresso.
O visitante pode também ver a secção especial de Bíblias (que possui uma das duas cópias ainda existentes da primeira edição da Bíblia da Mogúncia ou de Gutenberg), os Arquivos da Marinha e do Ultramar, que incluem mapas e cartas, o gabinete de catalogação, a Biblioteca do Convento do Varatojo, que conserva a sua disposição original, incluindo o oratório, a Sala Fialho de Almeida com o busto deste escritor (de Costa Mota Sobrinho), etc.
Há um vasto terraço no topo do edifício, com uma belíssima vista. A Biblioteca está aberta todos os dias úteis das 11 da manhã às 5 da tarde, e das 7.30 às 10 da noite.»
Fonte: Blogue de História e Estórias