Quatro anos de dedicação a esta página, celebrados hoje, começam a traduzir uma persistência que nem sempre é conseguida noutras vertentes da vida.
Quando somos crianças achamos sempre mais uma desculpa para acrescentar algum tempo à nossa idade pensando que, com esse artifício, exibimos respeitabilidade proporcional a uma ou outra circunstância em que isso nos pareça necessário. Lembro-me, por exemplo, que quando andava pelos meus 15, 16 anos e queria ir ao cinema ( sim, nessa altura ainda só se viam filmes nas salas de cinema ) ver películas para maiores de 17, procurava sempre que o meu aspecto físico de adolescente estivesse mais em linha com o objectivo de passar pelo crivo perspicaz e implacável de quem regulava o acesso às salas do grande écran. Umas vezes passava no controlo experimentado daquele quase torniquete humano que se impunha impante, outras não, e lá se iam os vinte e cinco tostões do bilhete... Mais tarde, já adultos, o que queremos é que o tempo não nos fustigue, ou pelo menos que a sua passagem seja branda nas marcas que deixa. Dois paradigmas que jamais conseguiremos reconciliar numa só vida: ser, a um tempo, mais velhos e mais novos, conforme o nosso desejo ou necessidade de ocasião. Mas se só temos uma vida ( pelo menos física ) para viver e não lhe poderemos retirar ou acrescentar tempo, pelo menos de forma planeada, vivamo-la então o melhor que pudermos e soubermos. Sem pressas nem vagares, dando tempo ao tempo, cada coisa a seu tempo, como sempre ouvimos de antanho. Tem sido este o caminho que o Ab-Integro tem feito nestes quatro anos de vida.
Hoje o tempo continua a abrir umas portas e a fechar outras: por algumas queremos passar, por outras não e, por outras ainda, não nos deixam. Será sempre assim que a vida se há-de apresentar, para todos. Sempre a tomei por inteiro, a vida, e sempre como ela se me apresentou, e as minhas opções pessoais são disso consequência, para o bem, para o bom, mas também para as coisas menos positivas com que por vezes me deparo. Interrogo-me se poderia ter descrito outra trajectória, sublimado os meus defeitos, melhorado as minhas virtudes ? A resposta é sim e não. Por um lado somos sempre resultado das nossas circunstâncias e das opções que tomamos face às mesmas, por outro lado há coisas que nunca conseguiremos mudar, fazem parte da nossa idiossincrasia, estão-nos nos genes e é um pouco também isso que faz do ser humano uma criação perfeita e desafiadora. Somos, a um tempo, todos diferentes e todos iguais. Voltaire afirmou que "Deus concedeu-nos o dom de viver, compete-nos a nós viver bem" . O Ab-Integro é um pouco consequência desta perspectiva. Viver bem a vida de acordo com a visão daquele que no-la concedeu, sem peias, amarras ou receio de críticas de quem discorda de nós. Damo-nos, por inteiro, com toda a frontalidade e lealdade à vida que recebemos dEle. Este blogue integra-se nesse propósito há quatro anos. A trajectória nem sempre tem sido calculada. Somos condicionados pela realidade que nos cerca e respondemos face a ela. Elogiamos, indignamo-nos, revoltamo-nos, sonhamos, temos derrotas e vitórias, batemo-nos pelo bem, pelos bons, e por aquilo que é justo e de justiça. Como dizia Paulo, " combatemos o bom combate" em todas as frentes; afinal, ser cristão, é muito isso. Este Blogue vive dessa necessidade e premência. Nessa perspectiva só podemos desejar que, se alguma influência podermos exercer, que ela seja só positiva, e que se estenda a todos os que por aqui repousam o olhar, independendo de quem são, o que são e como pensam. Bem hajam por continuarem comigo. Obrigado pela companhia nesta caminhada de quatro anos. Feliz Natal. Bom ano novo, seja isso quando for na vida de cada um.
Jacinto Lourenço