O contributo de Johannes Kepler, astrólogo - assim eram designados na antiguidade os actuais astrónomos ou astrofísicos - alemão nascido em 1571, protestante e
estudante de teologia no início da sua vida académica, foi, segundo diz Carl
Sagan em Cosmos, de grande audácia e de importância
fundamental para a compreensão das leis físicas que regem o
universo, à semelhança da importância que teve também Galileu para essa mesma
compreensão. Diz ainda Sagan que Kepler,
sendo o último astrólogo científico, foi o primeiro astrofísico da
história. Tal como aconteceu com
Galileu, condenado pela igreja católica romana pela defesa e insistência na teoria
heliocêntrica, não seria fácil para
Kepler fazer aceitar a tese de que, para além do sol se encontrar estático - como já era conhecido - os planetas circundavam-no em rotas
elípticas não em círculos perfeitos, como defendido pelos
tradicionalistas convictos de que um Deus perfeito nunca iria colocar os planetas a
realizar órbitas em círculos imperfeitos ( Carl Sagan - Cosmos) e que isso derivava precisamente da
atracção que a nossa estrela exerce sobre os planetas que a rodeiam quando efectuam os movimentos de translacção.
Para além de se
ter dedicado ao estudo de diversas ciências que lhe permitiram olhar os
planetas numa outra perspectiva, Kepler era um cristão convicto que
achava que Deus exercia influência permanente no universo e que isso era muito mais do que apenas «uma brincadeira no intervalo do recreio de todas as outras actividades divinas».
Quando em 1543, antes portanto de Kepler e Galileu, um clérigo católico polaco de nome Nicolau Copérnico entregou ao mundo as suas convicções acerca do
movimento heliocêntrico dos planetas,
que punha desde logo em causa todo o conhecimento trazido à luz por Cláudio Ptolomeu e que durou cerca de mil anos, o mundo
religioso e científico de então foi completamente abalado.
Não esqueçamos que Ptolomeu bebera muito em Aristóteles e na ideia dos
quatro elementos, água, fogo, ar e terra, que dominavam, segundo a escola
Aristotélica, os comportamentos dos seres , pelo que algumas bizarrias que
Ptolomeu sustentava vinham na esteira desse posicionamento.
Ptolomeu acreditava que, não só os comportamentos eram influenciados
pelos planetas e estrelas, mas também que as questões de estatura, tez,
nacionalidade e até deformações físicas congénitas eram determinadas pelas
estrelas - Carl Sagan - Cosmos.
Jacinto Lourenço