A natureza das instituições avalia-se pela sua resiliência às crises. O carácter dos amigos mede-se pela sua capacidade de ficarem ao nosso lado, contra tudo e contra todos, nas horas de perigo e desgraça. O que está a suceder a Espanha, a mergulhar numa espiral de destruição, revela que a União Económica e Monetária, como está, se tornou uma sala de tortura, condenada a perecer, e que os Estados membros da União Europeia são governados por uma gente pequenina que não percebe que é preciso ajudar os nossos aliados para nos ajudarmos a nós próprios. O índice IBEX, das maiores empresas espanholas, tem hoje menos valor bolsista do que dívida conjunta dessas empresas. A dívida pública espanhola (e italiana) está a subir em todos os prazos, apesar do incrível pacote de terror económico imposto por Berlim e Bruxelas a Madrid, para a aprovação do empréstimo de cem mil milhões de euros para o sector bancário. As autonomias, com Valência à cabeça, estão arruinadas. O cínico Weidmann, o torquemada monetarista à frente do Bundesbank, aconselhou Espanha a pedir um "resgate completo". Suprema crueldade! O FEEF está reduzido a trocos e o MEE está na mesa do Tribunal Constitucional Alemão, sob observação, pelo menos até 12 de setembro... O BCE nunca mais fez compras no mercado secundário. Prometer o que não se tem é o máximo insulto a quem precisa... Reina o silêncio dos cobardes na maioria das capitais europeias. O de Lisboa é inqualificável. Só Monti, que sabe ser a Itália o próximo alvo, expressa a sua inquietação em voz alta. Por este caminho, este será o último verão da Zona Euro. O último verão antes de uma nova, perigosa e incerta geografia política europeia, cujas dores de parto não pouparão ninguém.
Viriato Soromenho Marques in Diário de Notícias Online