quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

"Oração para 2010"

Senhor,

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se neste novo tempo

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não me deres novas coisas

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para viver

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dá-me então um olhar novo

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sobre tudo

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o que já conheço.

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Obrigado.

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Brissos Lino 31/12/09

Via A Ovelha Perdida

Comer Todo o Chocolate do Mundo

Chegamos ao fim de um ano civil, em 31 de Dezembro, de acordo com o calendário gregoriano que nos marca o compasso do tempo, e só temos uma possibilidade: "continuar em frente", para o ano seguinte. Hoje estamos a viver o último dia do ano da graça de 2009. Amanhã estaremos em 2010. Isso muda alguma coisa na nossa vida para além de nos acrescentar mais um ano ? O mais provável é que não, que não mude grande coisa. Quando o ponteiro dos segundos vencer, no mostrador do relógio, a última barreira das 24 horas deste dia 31, mais logo à noite, os tempos, ou melhor, o tempo, não irá assumir diferente notoriedade. As clivagens do tempo são vincadas por aquilo que esse tempo comporta e não o contrário. Ou seja: o tempo não é um Absoluto; Absoluto é aquilo que nele ocorre. Minuto atrás, minuto à frente, não é isso que fará qualquer diferença na nossa vida. Quando eu era criança, queria que o tempo passasse rápido para poder atingir, mais veloz, outros patamares que me fizessem escapar às restrições e penalidades que os adultos "infligem discricionariamente" à miudagem. Pode ser uma visão redutora, mas não para um miúdo de sete, oito ou mais uns poucos anos. Chegar ao topo, não ter que cumprir ordens dos adultos, poder ser dono do meu nariz, comer todo o chocolate do mundo entrecortado por laranjadas, gasosas ou pirolitos ( para aproveitar os berlindes destes - um luxo de abafador para qualquer catraio da minha infância ) e comprar todos os brinquedos que me apetecessem; não me deitar quando me mandassem mas sim quando eu quizesse. Praia, jogo da bola, passeios; enfim todo um fartote de brincadeira e de jogos. Era o que eu pedia e queria da vida nessa altura. Escola ? Venha o primeiro dizer que a preferia aos jogos de pião, às correrias no recreio ou a uma boa futebolada a acabar aos doze e mudar aos seis. Nenhuma aritmética, verbos ou geografia eram moeda de troca suficientemente aliciante face à glória de ser sempre jogador incondicional na perspectiva de ocasionais seleccionadores que disputavam a sorte ditada pela sobreposição do pé imposta na contagem dos passos definidos, para poderem escolher, em primeiro lugar, o melhor de todos os jogadores. Mais relevante que tudo isso, para mim, só a carrinha da Gulbenkian que, qual ave de arribação, chegada na primavera do dia esperado, pousava no largo do Coreto, religiosamente, a cada 15 dias e em cujas prateleiras , repletas de leituras , eu me perdia, por largos momentos. Só isso, mais os seis livros que podia levar para casa por mais 15 dias, ou eventualmente o Super-Rato, ao domingo, me amansavam a rebeldia da infância e me faziam dar folga a todas as outras ocupações de menino ladino. As idades que o tic-tac do relógio foi levando, ao ritmo do rasgar das páginas do calendário, tiveram, cada uma delas, interesses diferentes e expectações diversas, mas balanços de vida eram coisa que o passar dos anos não me propunha nessa altura. Eu achava que o mundo, as estrelas, o céu, se não me pertenciam, eram pelo menos meus cúmplices em jogos que nenhum tempo podia vencer ou devorar. Eu saía sempre vencedor. Só o relógio e os anos no calendário me queriam mal por passarem tão devagar; e logo quando eu queria era crescer rápido por entre aventuras dos Cinco, dos Sete ou dos Nove, para além de todas as restantes histórias que o senhor motorista da carrinha da Gulbenkian me permitia viver nesses verdes anos de sonho, mergulhado em páginas e páginas puídas pelo tempo, pelo uso e pelos quilómetros percorridos de aldeia em aldeia, vila em vila. Hoje, prestes a submeter-me ao balanço torpe do ponteiro dos segundos que me obrigará a uma ( presumível ) viagem no futuro de mais um ano civil, constato que calendários e relógios, continuam a não ser meus amigos, mas pelas razões opostas às da minha infância, adolescência e juventude. Hoje, preferia que eles não se desdobrassem com tanto afinco e pressurosamente nas suas tarefas e que não me galopassem tão avidamente na pista dos anos. É que chegar ao "final" não é, para mim, uma questão de vida ou de morte, até porque o tempo é um valor etéreo, a eternidade e o céu, o firmamento e as estrelas, continuam a ser meus, agora por herança do meu Pai Celestial. Não penso já que os mereço apenas porque sou criança, adolescente ou jovem, ou até porque possa ser, eventualmente, um adulto muito responsável e certinho, que faz tudo muito bem feito e que tira o chapéu ao tempo sempre que ele passa por mim, que o respeita como se ele fosse um pequeno deus ou até um ditador impiedoso e temível a quem tenha que se dar oferendas para que ele nos destine só coisas boas e agradáveis. Não, não se trata disso, e também nem sequer se trata de eu ainda achar que tudo é meu só porque eu quero que seja assim ou porque tenho o direito de o exigir assim e pronto. O céu é meu, porque me foi dado por herança através da Graça de Deus e da vitória de Jesus Cristo no Calvário, por mim. Ali, na minha Pátria Celestial, diz a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada, o tempo não é um Absoluto, Absoluto é o Senhor Deus. Senhor dos Céus e da Terra. Ali, não mais me preocuparei com o tempo, esse devorador de verdes anos. Não vou usar relógios nem pendurar calendário na parede.
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Jacinto Lourenço

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

"Viver Faz Bem"

Sei que não preciso explicar, mas estou crescentemente apaixonado pela vida. Amo a vida porque as cores me fascinam, os gênios me intrigam, as poetisas me seduzem, os santos me quebrantam, os justos me desafiam, os solidários me estimulam. Tudo é esmagadoramente formoso.

Sei que corro o risco de ser redundante, mas estou crescentemente viciado em viver. Amo a vida porque os sabores me esfomeiam, os silêncios me atraem, os mistérios me intrigam, os horizontes me instigam. Já meio estrábico, encaro de perto o milagre da vida e fico sem reação. Tudo é avassaladoramente delicioso.

Sei que posso resvalar no lugar comum, mas estou fascinado com a aventura de viver. Amo a vida porque as mulheres me encantam, os altruístas me humilham, os sábios me instruem, os artistas me animam. A fertilidade criativa é infinita. As bibliotecas, um dia, não caberão tantos livros. O Louvre precisará de anexos. Quero viver até o final do milênio para testemunhar o que ainda será inventado, criado e recriado. Tudo é magnificamente grande. Sei que me repito, mas estou maravilhado com o dia a dia. Amo a vida porque não espero o previsível, não aceito a manipulação dos espertos e não convivo com o domínio dos poderosos. Acolho o insólito e enfrento o traumático para não fugir da realidade da dor. Se evito as atrocidades é para nunca afeiçoar-me com o mal. Tudo é poderosamente desafiador.

Sei que retorno ao mesmo tema, mas estou deslumbrado com as contradições da vida. Amo a vida porque sofro com angústias que não são minhas e abrigo felicidades alheias. Eu e meus irmãos somos paradoxais, saltamos como a corça e nos entocamos como a lebre, rujimos como o leão e bailamos como o colibri. Celebro a liberdade de orvalhar o papel com as lágrimas da poesia e encharcar a camisa com o suor dos meus ideais. Tudo é fantasticamente misterioso.

Sei que posso arrefecer a força de minha escrita, mas estou colado ao ofício venturoso de viver. Amo a vida porque tento entupir o ralo por onde podem descer os poucos dias de minha vida, escapo do banal. Parei de dissimular, não pretendo ver-me consumido com ódios que gastam tanta atenção. Prego em tábuas as memórias para não deixá-las fugirem. Se me comparocom os amigos que envelheceram é para dizer: Meu Deus, eles se desgastaram mais do que eu! Disponho-me a pagar o preço da longevidade. Não invejo o Monumento ao Soldado Desconhecido e nem as flores que recebeu do imperador. Não desejo a sorte dos Camelots: John Kennedy, Che Guevara, James Dean, Lady Diana - todos morreram cedo. Tudo é fortemente cativante.

Sei que preciso enfatizar, mas eu preciso dizer a mim memso que é bom viver. Amo a vida porque engasgo com o semblante do noivo naquele instante mágico em que a porta da igreja se abre para sua noivinha vir dizer sim. Emociono-me com o café que incensa a manhã pueril. Ouço a canção da menina desafinada como de uma soprano erudita. Leio o bilhete do presidiário como um tratado filosófico. Acolho as razões da avó como verdades inquestionáveis. Tudo é profundamente sensível.

Sei que posso dizer mais uma vez, e em letras garrafais: Eu amo viver! Amo a vida porque perdi a pressa. Desisti das omnipotências, abri mão da perfeição e comecei a perceber que Alguém me ama sem que precise provar nada para Ele. Tudo é infinitamente gracioso.

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Soli Deo Gloria.

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Via Blogue pr. Ricardo Gondim

«Os Antinómicos "Ser-para-Morte" e "Ser-para-os-Outros" »

Duas propostas sobre o Ser que contendem na natureza humana, e cujas perspectivas apreciadas por dois pensadores do século XX, um existencialista ateu e outro cristão radical, apontam caminhos diversos dentro das mesmas realidades a que o humano não pode fugir, a Morte e a Vida. O « ser-para-morte» de Heidegger e o «ser-para-os-outros», de Bonhoeffer. São frases, mais conhecida a primeira que a segunda, construídas sobre uma estrutura da evidência da condição humana, que é, não obstante os defeitos, a condição humana do Ser. [...]
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Texto de João Tomaz Parreira para continuar a ler AQUI no Papéis na Gaveta, Blogue do autor.

"Fragmentos de Túmulo Egípcio Regressam ao Cairo"

( Imagem D.N. )

Os cinco fragmentos de decoração mural do túmulo do nobre egípcio Tetiky até há pouco no Museu do Louvre, e cuja devolução vinha sendo reclamada pelo Egipto, já se encontram no Museu do Cairo.[...]
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Ler texto integral AQUI no Diário de Notícias Online

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

"Deus é Inocente"

O primeiro dos dilemas é criar ou não criar. O segundo é criar com liberdade ou sem liberdade. O terceiro é assumir o ónus da liberdade ou deixar este ónus nas mãos da criatura. Deus faz as escolhas que o machucam, que lhe causam dor, que o fazem sofrer, que o diminuem. Simone Weil diz que “Deus e todas as suas criaturas é menos do que Deus sózinho”. Deus escolhe criar. Escolhe criar um ser livre, pois se não fosse livre não seria à imagem do Criador. E escolhe arcar com ónus da liberdade que concede à sua criatura. Na cruz de Cristo está Deus, dando ao rebelde o direito de existir. Na cruz de Cristo está Deus, entregando a sua vida, voluntariamente, em favor dos pecadores. O mal deflagrado pela raça humana levanta a sua sombra sobre o trono de Deus. E Deus levanta-se como um Cordeiro que se doa, pois escolhera morrer, em detrimento de matar. Na cruz de Cristo está o Deus que morre para que todos tenham vida, vida completa, abundante vida.

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Ed René Kivitz

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Via Laion Monteiro

"Feliz Mundo Novo"

A palavra "cosmos", traduzida em nossas bíblias como "mundo", significa originalmente "ordem", sendo o antônimo de "caos", ou "desordem". As Escrituras afirmam que a presente ordem jaz no Maligno. Na Cruz, o Velho Mundo recebeu o golpe fatal. O último suspiro de Cristo foi o último suspiro da velha ordem iniciada em Adão. Por isso Paulo podia declarar convictamente que o mundo fora crucificado. Ele agora é um cadáver em decomposição. Já morreu, mas ainda mantém a aparência de que vive. Mas a aparência deste mundo passa. Não há pulsação, nem reflexo, apenas aparência. A Cruz não foi apenas um lugar de morte. Foi também um lugar de Concepção. De acordo com Paulo, céu e terra convergiram em Cristo, e na Cruz contraíram núpcias. E o fruto desta união é a concepção de um novo mundo, isto é, de uma nova ordem, contrapondo-se à velha ordem danificada pelo pecado, e ao caos original. O Novo Mundo é uma criança recém-concebida, ainda em estado embrionário, mas prestes a nascer. Já fora concebido, mas ainda não nasceu. Está sendo gerado no útero da nova humanidade, a quem as Escrituras chama de ekklesia (igreja). A Igreja ( com "I" maiúsculo) é o útero, enquanto que a "igreja instituição" é a placenta. A hora do parto se avizinha. E quanto mais próxima, mais fortes são as contrações, as tais dores de parto a que se referem Jesus e Paulo. Terremotos, tsunamis, furacões, e outros catlamismos são contrações de uma criação em estado avançado de gravidez. Aumenta-se a intensidade das contrações, e diminui-se o intervalo entre elas. Em breve a bolsa vai se romper, o líquido amniótico será derramado, e um novo cosmos emergirá. Então, em vez de dizermos "Adeus ano velho, feliz ano novo", diremos: "Adeus mundo velho, e feliz mundo novo!".
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Por Hermes Fernandes
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Via Genizah

Sorrir para a Vida

Estava a ver, na televisão, o divertidíssimo vídeo que reproduzo abaixo e que foi gravado na área de check-in do aeroporto de Lisboa, em 23 de Dezembro corrente , quando a minha atenção foi aprisionada por um breve instante, um flash das imagens que corriam. Os potenciais passageiros, os mais afoitos, lá se foram entrosando no momento musical e cénico, absolutamente inesperado, e algo sui generis, proporcionado pela TAP e pela ANA, num horário em que, inesperada, costuma ser apenas a interrupção do sono, em contra-natura, obrigada pela imperiosa necessidade de viajar e que faz com que as pessoas se dirijam ao espaço de pré-embarque de um aeroporto. Para além de ter gostado de ver , ainda que não ao vivo, acho que os portugueses, e as pessoas em geral, andam carentes de momentos assim, que os surpreendam pela positiva, que os reconciliem com a vida e com os valores da vida, com as coisas simples da vida, que são normalmente as mais saborosas. Um facto registo desde logo: se fosse eu que estivesse ali para embarcar, com o sentimento misto de apreensão e expectação que normalmente me invade sempre que antevejo a possiblidade incontornável de ter que me meter dentro de uma passarola sustentada pelo vento ( para simplificar muito as coisas ), se fosse eu, nunca mais iria esquecer na vida aquele momento passado num aeroporto às seis e picos da manhã. Talvez não saltasse para a improvisada pista de dança para onde alguns, mais ou menos ousados, foram convidados a ir, desde logo, e para além do mais, porque nunca soube dançar; mas que ia vibrar interiormente, lá isso ia. Viveria sem dúvida o momento. É destes pequenos momentos que também se faz a nossa vida, e que são, na maior parte das vezes, irrepetíveis. Mas houve um detalhe, um breve flash, como dizia acima, que sustentou o meu olhar durante o tempo que durou. O medley de canções trouxe um êxito dos Abba e, uma provável passageira, iniciava algum acompanhamento corporal da música quando, de repente, foi interropida por um gesto de reprovação de uma menina, que talvez andasse entre os oito e os dez anos, porventura sua filha. Caramba, pensei, afinal os "Velhos do Restelo" podem povoar até a cabeça de uma criança, de curta idade, e levá-la a repreender os próprios adultos quando estes adoptam atitudes menos formatadas ou mais espontâneas ou até pouco consentâneas com os padrões comportamentais que passam a vida a impor-lhes. E isto levou-me a outro pensamento relacionado com a minha fé em Cristo e com a minha vivência cristã. Durante anos e anos elas foram formatadas por uma determinada visão, distocida e não bíblica, é verdade, mas a que me fui ajustando, embora cada vez menos confortavelmente, é certo, em prol da salvaguarda de valores e padrões que eu achava, ainda assim, ter que preservar, por alguma razão pouco segura, até entender, num flash, num pequeno detalhe, que só vale a pena preservar valores e padrões, e travar as lutas, que dignifiquem a verdade e a pureza do evangelho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e não o contrário, porque o contrário só cauteriza e destrói a nossa fé; só nos tranforma em pequenos ou grandes fariseus, portadores de uma fé fingida ou superficial, autênticos "sepúlcros caiados". Passamos a vida envolvidos em causas. O cristão é um homem ou mulher de causas. Mas não devemos olvidar que estamos sempre em trânsito para uma pátria melhor, e que as nossas causas não podem perder de vista esse objectivo caso contrário perdemos-lhe o propósito e, sem isso, não há causa que subsista ou valha a pena. Talves a analogia que vou estabelecer, não seja das mais felizes, mas mesmo assim não resisto a fazê-la: no local mais inesperado, no momento menos pensado, por entre as subtilezas da biologia humana, que nos quer manter adormecidos, devemos, enquanto cristãos, manter a atitude da ANA e da TAP, duas empresas que tiveram a capacidade de fazer sorrir para a vida, por breves instantes, uma pequena quantidade de passageiros, em trânsito não sabemos para que latitude ou vivência, sabendo que a sua viagem, naquele dia, foi encarada de outra maneira, mais optimista, mais alegre, a pensar noutros valores, como os da vida, sem formatos pré-concebidos, que vale a pena ser vivida Quebrar tabus, ferir susceptibilidades de "velhos do Restelo", mesmo que venham mascarados de "novos", rasgar horizontes, fazer sorrir para a vida, nem que seja por por breves instantes, pode não mudar o mundo, mas poderá vir a marcar e mudar positivamente quem, mesmo que em trânsito, e sabe-se lá para que pátria, assiste, observa e, quiçá, "fotografa" o instante que nós proporcionamos enquanto filhos de Deus, imbuidos de vida. O apóstolo Paulo disse a determinado momento aos Gálatas: "Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão" ( Gál. 5:1). Firmeza ( um padrão irrenunciável ) quanto à liberdade conquistada, é aquilo que se espera de cada cristão, e não nos devemos contentar com menos. Afinal, quando somos livres somos felizes e podemos fazer os outro felizes, olhamos a vida e as pessoas de outra maneira , mantemos a esperança na certeza dO que nos suporta. Eu duvido sempre de quem me transmite a ideia de que sou livre mas depois me quer fazer viver uma liberdade formatada por algo que não tenha a ver com o sangue de Cristo, que me libertou eficazmente, e com a Palavra da Vida que me faz sorrir, sendo que isso nada nem ninguém me poderá tirar. Normalmente somos pessimistas por natureza e optimistas por opção. Como cristãos fizémos essa opção junto à Cruz do Calvário. Não fomos chamados, individual ou colectivamente, como cristãos ou como comunidade de igreja local , para mudar o mundo todo mas para, pelo menos, não o deixarmos, à nossa volta, tão mal quanto o encontrámos. Esse terá que ser o nosso propósito e desafio, ser Sal e Luz, se é que Jesus fez algo em nós. É como imaginar um cirurgião que identifica e diagnostica claramente uma doença num paciente e sabendo que a pode resolver; ele terá que abrir para aceder ao cerne do problema e, seguramente, quando fechar, espera naturalmente ter deixado o seu paciente em muito melhores condições de saúde do que as que tinha anteriormente. Se não fosse assim, se ele não tivesse condições de resolver problemas de saúde através da cirurgia, perdia-se a expectativa e o objectivo principal do seu trabalho. Abrir, ver o problema e fechar sem o querer resolver, ou tentar resolver, não é o objectivo final de nenhum cirurgião. Claro que ,sózinho, um cirurgião não poderá aceder e operar todos os doentes do mundo, mas ele irá intervir nos que tiver ao alcance melhorando assim a sua qualidade de vida. Formatos para a mudança ? Amar o próximo, sem que isso implique pretender que ele seja exactamente igual a nós. A matriz é Jesus Cristo, não eu, não tu . Viver na Graça e na Liberdade do Senhor são os formatos em que Deus se empenha para a subversão dos valores e padrões alternativos e obsoletos, por desajustados e estranhos ao Evangelho, que nos querem impor e que nos agrilhoam a pesadas correntes e fortes amarras disfarçadas, na generalidade das ocasiões, de Liberdade, Graça e Amor de Deus. Se há coisa em que os religiosos são especialistas, é em mimetismo de recorte espiritualista; o apóstolo Pedro alerta-nos para isso nas suas epístolas, bem como Paulo.
Viver na Graça e no Amor de Deus, é sorrir para a vida, sem máscaras ou formatações miméticas. É viver na espontaneidade da constante presença de Jesus no nosso dia a dia. É esperar nEle como uma criança espera no pai.
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Jacinto Lourenço
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A Ressaca do pai natal...

Eu bem avisei que o pai natal não era de fiar, mas as pessoas insistem... ***

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Afinal, o Que é o Tempo ?!

[Titulo original do autor: "O que é o tempo ? "]
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Interessante reflexão sobre "o tempo", ou sobre a finitude do mesmo, pelo prof. Anselmo Borges.
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"...Afinal, o que é o tempo, uma vez que o passado já não é e o futuro ainda não é? Só o presente existe, mas, por outro lado, o presente o que é senão esse contínuo trânsito do futuro para o passado, do ainda não para o já não? Indestrutível mesmo é só o passado, pois nem Deus pode fazer com que o que foi não seja e o que aconteceu não tenha acontecido." [...]
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Ler Aqui versão integral do texto no Diário de Notícias Online

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Natal é Cristo no Coração.

Bonhoeffer, a Ética e o Natal

Dietrich Bonhoeffer escreveu sobre a Ética, sobre esta e o Advento de Jesus. Antes que o nazismo lhe secasse a verve e a vida. Ele considerou que era a obra da sua vida, contra a «grande mascarada do mal» que durante dez anos na Alemanha perverteu um povo e seduziu igrejas.Morreu num campo de concentração nazi, regime em estertor e a dar as últimas, a dois passos da libertação pagou com a vida o preço do seu pensamento, no campo de Flossenburg em Abril de 1945. Para além de grande teólogo, do ramo cristão protestante, foi uma grande testemunha do seu útimo tempo, um tempo europeu sem Ética, numa Europa com fundamentos. Todo o livro designado pela editora portuguesa como Ética, de resto o título original( Ethik), está estruturado em textos do teólogo redigidos entre 1940 e 1943, os tais anos em que a Europa de Schiller ou Goethe, Haydn ou Beethovem, caiu na bárbarie e perdeu essa Ética, com a qual edificou uma Cultura de Valores e do Espírito designadamente na Alemanha. Bonhoeffer, como outros téologos e alguns autores de pensamento literário, compreenderam na perfeição essa gravíssima perda desse período europeu. As suas palavras foram no sentido de testemunhar o valor do homem, não por si próprio, mas pela sua ligação imprescindível ao divino. Como tal, escreveu a propósito do Advento, do tempo de Natal, que só ele – «o Advento trará a plenitude do ser-homem e do ser-bom. Mas o Senhor que vem irradia já sobre estes uma luz, a luz exigida para a preparação e a espera adequadas. Por isso, só a partir do Senhor que vem e que veio podemos saber o que é ser-homem e ser-bom.» O Natal transporta em si mesmo desde a primeira narrativa conhecida a partir dos Evangelhos como Mateus e Lucas, uma Ética que coloca o Homem, crente ou não, na presença insuspeitada do Divino.É na Revelação do Deus que Lutero dizia estar «Absconditus», mas que o Menino de Belém veio revelar e colocar em contacto com a humanidade, que a tal Ética cria valores e ergue o Homem. Deu-lhe a dimensão de que Bonhoeffer fala de poder ser-homem e ser-bom. Por esta razão é incompreensível que o homem limite o Advento a estruturas meramente simbólicas e materialistas.Simbólicas, porquanto o Natal se apresenta num registo que deixa por vezes o plano da religião, como início do Cristianismo, e passa para o plano social, estritamente com os horizontes limitados a troca de presentes, por exemplo, e focado numa festa anual da família; e materialistas porque cede demasiadamente ao apelo do consumismo. E o que dizer de outros exemplos, que nem são simbólicos nem materialistas, no sentido que lhes dei, e que estão hoje nos hábitos das estruturas partidárias? A verdade é que fazem o seu «simbólico» jantar de Natal onde o que passa para a sociedade civil, pela pronta e necessária avidez dos meios de comunicação social, é a luta política na relação do discurso explícito Oposição versus Governo. Sem tréguas natalícias. O mesmo Dietrich Bonhoeffer escreveu, na sua derradeira obra – Resistência e Submissão (Cartas da Prisão) – «que o Cristianismo surge do encontro com um ser humano concreto: Jesus.».Hoje o Natal passou a ser a figura simbólica das ruínas da ética dita cristã, subsititui-se a Jesus Cristo, é só o Natal.Salva-O o melhor do mundo, que são as crianças, como o reconhecia Fernando Pessoa, salvam o Natal as crianças, mesmo contra o marketing violento que as atinge.

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(Fonte: João Tomaz Parreira, Diário de Aveiro)
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Ab-Integro: de Repente já Um Ano

Faz um ano, hoje, 23 de Dezembro, que este Blogue, o Ab-Integro, se deu a conhecer pela primeira vez. Correu depressa, o tempo. Se nos tivessem dito então que, percorrido este tempo, iríamos alcançar um total de perto de vinte mil acessos, seria difícil imaginar tal meta, especialmente tratando-se de um Blogue de matriz cristã em que a principal preocupação não é que o seu editor fale de si próprio, da sua vida, dos seus anseios, preocupações ou desafios, mas sim que seja um ponto de encontro, um veículo de comunicação, um espaço alargado de reflexão fundado sobre a integridade da vida, da visão e da esperança cristã. O nosso desiderato é, em primeiro lugar, que o Ab-Integro cumpra esse objectivo; depois, que possa ser uma casa comum onde todos os que o acessam se sintam bem. Claro que tem, este Blogue, uma personalidade própria, e isso está presente mesmo que os temas abordados ou mesmo que uma parte dos textos editados não sejam da nossa autoria ( respeitando sempre escrupulosamente as fontes ). Há um fio condutor, um perfil próprio que o define e o baliza e a que são transversais vectores tão importantes quantos os que são determinados pelas artes, a cultura, a astronomia, a história, as ciências, a arqueologia, a vida, o planeta, as pessoas, as religiões, a igreja cristã, para além de outros. Mas há uma Trave Mestra que nos suporta e anima nesta caminhada: Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador. Ele é o mentor do Ab-Integro e sua máxima referência, o bastião em que nos resguardamos, a Razão pela qual chegámos até aqui e pela qual queremos continuar a caminhar. Até hoje muitos têm sido os amigos e companheiros que nos têm animado a proseguir não deixando nunca de nos incentivar. Colaborações, como a do poeta, e meu amigo João Tomaz Parreira, escritor e pensador cristão-evangélico notável, reconhecido não só em Portugal mas igualmente além-fronteiras, honram não só o Ab-Integro como a mim próprio. O meu coração dilata-se em gratidão a Deus e a tantos quantos os que, de uma ou de outra forma, têm tornado possível esta "aventura", mesmo se a caminhada encontrou alguns escolhos. Oxalá que os desafios que temos pela frente, com a continuada edição do Ab-Integro, nos permitam estar à altura dos mesmos com toda a dignidade e com os olhos postos nAquele que é Luz e Vida para nós. Recuperamos, abaixo, partes do texto que editámos, faz precisamente um ano hoje, em 23 de Dezembro de 2008, e que servia de mote ao lançamento do Ab-Integro nessa data. Com a vossa ajuda, continuaremos no Caminho que nos trouxe. Grato no Amor de Cristo,
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Jacinto Lourenço
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"...Colocar na "rede" uma página pessoal é forçosamente um atitude que requer ponderação. Desde logo, sobre o interesse que tal página possa vir a ter para uma comunidade alargada de "internautas" onde, como é óbvio, navegam mil e um olhares e motivações distintos. A certeza de que deveria avançar para uma divulgação mais célere, acabou por se revelar através de uma descoberta, no meio de "sombras e luzes", de qual o objectivo, qual o alvo ou alvos para o meu Blogue. Em consequência dessa descoberta, a deslocação dos holofotes do eventual interesse sobre mim próprio, ou daquilo que eu valha ou tenha para dizer, para o que eu represento enquanto pessoa e cristão convicto da minha fé naquele que me redimiu, o Senhor Jesus Cristo, foi absolutamental natural . Não deixando de falar de mim ( o que comporta desde logo um "risco de exposição" com que não estou ainda familiarizado ), porque é o mínimo que pode ser feito para que esta página possa garantir autenticidade e verificação matricial dos valores e padrões nela encontrados por quem cá "deixar rasto", não sou eu que interesso em especial. Importante serão os conteúdos e a liberdade que teremos [...] para os abordar em afloramentos que provavelmente só serão possíveis em Fóruns como este. Os últimos 37 anos da minha vida têm sido balizados por Cristo. São as marcas que Ele tem deixado no meu percurso, que me animam, desafiam e incentivam a avançar. Tem sido sempre assim. O apóstolo Paulo, homem de Deus que aliou a sua grande visão e vivência espiritual a um percurso, também ele humano, de "combates", como metaforicamente afirmou nos seus escritos epistolares, disse a determinada altura aos cristão da Galácia: "Desde agora ninguém me inquiete porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus".
São essas marcas, indeléveis também em mim, que dão substância a esta decisão de divulgação pública do AB-INTEGRO ainda em 2008. São elas que determinam a minha forma de sentir, observar, intervir. O pulsar deste Blogue depende e dependerá sempre das "marcas" que ostento; da minha identidade, cidadania e filiação no Reino. O meu principal desiderato passa por ficar com a absoluta certeza de que a perspectiva que cruza esta página pessoal, em relação a tudo o que a ela vier, cumpre com a minha matriz e responsabilidade cristã, enquadradas sempre pelo amor de Deus e pelo Seu permanente compromisso de vinculação, renovação e actualização na vida de cada homem em particular e nas gerações que se sucedem. Um Deus de Luz, não quer escurecer o nosso caminho ou castigar-nos rigidamente em cada falha. Na essência, as suas "marcas" em nós, demonstram a capacidade infindável que Jesus tem para nos amar, mesmo quando o desiludimos, quais "Pedros" na voragem de acontecimentos fatídicos num qualquer pátio . Se um blogue poder ter uma dedicatória, então eu faço-a neste momento ao meu Senhor, à minha família, aos meus amigos e àqueles que se cruzem aqui comigo na construção desta "casa comum" . Procurarei honrar a todos, já que nem sempre será possível conjugar o verbo "agradar", seja por incapacidade, inépcia, impossibilidade ou imperativo ético, moral ou espiritual. Graça e Paz" ***
Jacinto Lourenço

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Ceias de natal.

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Isaías 9:6

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Hoje de manhã, ao preparar-me para sair de casa, veio à minha mente este versículo bíblico. Como habitualmente faço, ouvia as primeiras notícias do dia na Antena 1 e, com elas, a de que os dois maiores partidos portugueses tinham realizado os seus jantares de natal, no mesmo dia, na mesma noite, a de ontem. Ora, como sou uma pessoa adulta, resolvida e medianamente inteligente, não estava à espera naturalmente que os dois líderes partidários se tivessem dedicado, mutuamente, poemas ou canções de natal, ou mesmo uma simples mensagem de boas festas. Mas também não esperava que o Natal, ou um simples jantar de natal, à volta do qual as pessoas normalmente se reunem para comer, beber e falar de tudo menos daquilo que é o Natal, viesse a servir de mote para que os líderes partidários, pessoas de quem devíamos esperar atitudes minimamente positivas por esta altura, se dirigissem mensagens, sim, mas de ataque pessoal e político, transmitindo desta forma, a ideia de que aquilo que conta não é o país ou as pessoas mas as suas intrigas político-palacianas, contrariando até o espírito deste natal “humanista” com que somos brindados pela sociedade mercantilista . Claro que não sou ingénuo, mas caramba, pelo menos que, nessa noite, em que juntam as suas hostes para um suposto jantar de natal, se coibissem de se digladiar e agredir e passar dessa forma mensagens negativas para a nação. Várias questões se colocam: desde logo saber como é que se pode confiar em alguém que nem por altura do Natal se coibe de trazer para terreiro todo o fel que nutre pelo seu adversário político ? Que mensagem passam à população, estes dois partidos, os que normalmente alternam no poder, e que utilizam a época natalícia para continuar a lavar a sua roupa suja ? Que expectativa podemos ter nós, portugueses, para o futuro do país, liderado por gente que não sabe avaliar, pelo menos, o significado de um jantar de natal em que, no mínimo, se pede contenção e decoro ? Decididamente ( embora já o soubéssemos ) a mensagem de Cristo, não traduz nenhuma expressão ou significado, que vá além da banalidade para a generalidade das pessoas que se juntam em ceias de natal que se multiplicam aos milhares nesta época. O texto bíblico do livro do profeta Isaías, que acima reproduzo e que foi escrito setecentos anos antes do nascimento de Cristo, não perdeu nenhuma actualidade e continua a apelar ao espírito de mansidão e concórdia, que é aliás o mesmo presente na mensagem de anunciação quando do nascimento de Jesus. Bom era que quando nos reunimos sobre a égide do Natal, à volta de uma mesa, pensássemos, por breves instantes, acerca do propósito que ali nos conduziu e que essa reflexão servisse para projectar uma mudança de coração e de postura face ao nosso próximo, nos tempos futuros. Há um conjunto de razões que justificam que eu não troque o calor da minha lareira e do convívio familiar, nas noites desta época, por qualquer “jantar de natal”; algumas dessas razões estão plasmadas neste texto.
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Jacinto Lourenço

domingo, 20 de dezembro de 2009

O SALMO 139 - Uma perspectiva de John A.T.Robinson

É um salmo que trata sobretudo dos atributos de Deus e dos limites do Homem. Para o bispo anglicano era o salmo da profundidade de Deus.

Para nos ajudar a entender a incomensurável distância que vai entre esses atributos divinos e o homem limitado, o salmista usou uma linguagem poética com referentes e objectos comunicáveis, que o nosso espírito e a nossa mente podem compreender.

Situa-nos, por assim dizer, num Átomo divino, numa pequeníssima parte das faculdades distintivas e únicas de Deus, contudo distante do pensamento humano e usa um termo que viria séculos depois, dizendo que «tal conhecimento (ciência) é maravilhosíssimo».

Tal «ciência» (na versão das nossas Bíblias) ou o que o salmista entende como tal, reflecte o que o termo hebraico ( da’ath) significa e amplia: conhecer ou saber acima de.

Introduz também o leitor crente nos domínios da relação de Deus com a Sua Criatura, o homem, e, segundo alguns autores, o homem crente, porquanto o Senhor está ao redor daqueles que o temem e sobre eles coloca a Sua mão ( vs.6).

Não deixa, porém, de colocar a limitação do ser humano perante o Todo-Poderoso, ao pôr na boca do Eu poético estas palavras de resignação à condição humana: «Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face?» (vs.7)

Mais de vinte e cinco séculos depois da criação literária do Salmo 139, como uma produção do sentimento religioso, da inspiração espiritual e de uma categoria lírico-poética da literatura nacional hebraica, um bispo anglicano do século XX, John Albert Thomas Robinson, afirma que se trata de «uma meditação penetrante sobre a presença de Deus», no mundo que Ele próprio criou.

Escreveu para reforçar o que classificou de retorno ao que a Bíblia nos diz acerca da natureza de Deus, o seguinte: «É no salmo 139 que se encontra uma das meditações mais penetrantes, em toda a história da literatura, sobre o sentido e a presença de Deus. Nele perpassa, como em nenhum outro trecho, o sentido da maravilha suprema irresistível da omnipresença divina em todas as direcções – acima, abaixo, atrás e à frente.»(Um Deus Diferente, Morais Editora, 1967, págs. 70/1

É salmo que tem o locus classicus para a doutrina da omnipresença e da omnisciência de Deus.

Esta afirmação seria comum e resultante de uma normal análise de conteúdo do discurso poético do salmo em questão, não fosse ela pronunciada por quem foi, por isso não é um pronunciamento trivial.

A verdade é que, não sendo tal apreciação do bispo anglicano contestável, foi-o porém o seu autor enquanto uma totalidade personalizada numa marca teológica que colocava com honestidade intelectual e espiritual as suas dúvidas numa década especial, que foi a de 60.

«Às vezes, também eu me sinto assediado por estas dúvidas»- escreveu Robinson. No tempo em que se questionava se era de facto o vazio que muitos sentiam, «um vácuo em forma de Deus», especialmente na Europa pós-nazismo.

Tratava-se de um teólogo controverso e um dos criadores da teologia radical protestante dos anos 50 e seguintes. Não uma teologia heterodoxa, contrária ao Evangelho, mas radicada no que ele chamava um cristianismo de raiz ( daí o termo radical) que deveria chocar pelo radicalismo cristão, porque era, segundo ele e nós próprios ainda hoje, necessário apresentar o Deus da Bíblia ao homem hodierno que acha que não precisa de Deus, que Este está «lá em cima» ou em outro qualquer lugar e desinteressado dos problemas «cá de baixo», e do próprio homem.

Foi o mesmo teólogo e bispo de Woolwich, na Grã Bretanha, que proferiu um aforismo cristão genial, que a Igreja não deve estar tão longe do mundo que ninguém a ouça, nem tão dentro que não se distinga (citei de cor e sem referência).

A sua preocupação levou-o porém a defender algumas posições que acabaram por ser controversas, sustentando-se sobretudo no pensamento teológico de Rodolf Bultmann, que o homem secular já não admite que Deus é real nos nossos dias. E também que as Escrituras estão antiquadas quanto a fazerem compreender o ponto de vista de Deus presente no mundo tanto quanto Deus «lá em cima».

John A.T.Robinson marcou, de facto, o início da década de 60 ao radicalizar a teologia protestante e ao retomar a ideia luterana do Deus Absconditus.

Contudo, a partir do facto de que se trata de uma prova da presença de Deus no mundo, transcendente ao universo, mas imanente à Sua Criação, integra o salmo na sua mais polémica obra, Honest to God (Um Deus Diferente), de 1963, a contra-corrente, todavia como a mais perfeita doutrina da Omnipotência e da Omnisciência de Deus, que é o salmo 139.

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João Tomaz Parreira

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-Colaborador-