...O PM fala do "sofrimento" e da angústia" das famílias, mas os reformados e pensionistas continuam privados de dois meses de vencimento, como destacou André Macedo. E, pasme--se, os trabalhadores com salário mínimo perderão 34 euros mensalmente na "revolução fiscal" que transformará a contribuição dos assalariados para a Segurança Social num verdadeiro imposto (como sublinhou Bagão Félix). Mas o pico da indigência moral deste discurso é a passagem em que o PM, referindo-se aos funcionários públicos, afirma que: "O subsídio reposto será distribuído pelos doze meses de salário para acudir mais rapidamente às necessidades de gestão do orçamento familiar." Que subsídio reposto? Se o corte do segundo subsídio é mantido, e o corte do primeiro é substituído pelo novo imposto para a Segurança Social (aliás, por excesso, pois os 7% são aplicados à massa bruta do salário, como destaca Pedro S. Guerreiro), o PM, sem corar de vergonha, redistribui mensalmente pelas famílias referidas, uma grandeza negativa! Em 2007, Naomi Klein lançou o seu profético ensaio "A Doutrina de Choque", onde mostra como nos últimos trinta anos se tem construído no mundo inteiro, à custa de situações de emergência, um verdadeiro "capitalismo de desastre", onde os abismos de classe aumentam exponencialmente. Portugal, com a emergência da troika, juntou-se ao clube dos países onde o Governo se transformou na principal fonte de subversão política e de instabilidade social.
Viriato Soromenho Marques in Diário de Notícias Online