Depois das manifestações de sábado passado em todo o país ( as maiores desde o 25 de Abril de 1974 ), sucederam-se as opiniões, por parte de gente dos partidos do governo, particularmente do maior partido que o integra, tentando explicar a insatisfação e revolta dos portugueses, ruidosa e numerosamente manifestada nas ruas, com um problema de deficiente comunicação, por parte do governo, das medidas de austeridade anunciadas, ou ainda pelo facto de as medidas não estarem a ser "moduladas" ou "balanceadas". A questão que se coloca, no fundamental, é a seguinte: será que estes doutos panegiristas ao serviço do desgovernação de Passos acham que nós, o povo, somos todos estúpidos ou irracionais ? Se não acham então é o que realmente parece.
Eu gostava de dizer a esses senhores, aos do governo e aos panegiristas que fazem coro para branquear a sua governação criminosa, que nós, o povo, não somos estúpidos nem irracionais; nós percebemos muito bem o que nos estão a fazer e o que estão a fazer ao país. Não há nenhuma confusão no nosso espírito nem nenhuma dúvida sobre aquilo que se passa. E, já agora, deixem-me que vos diga que o problema não é só com a TSU, é com tudo, e especialmente com vocês, os que governam e os que glorificam os que governam, por causa do que estão a fazer em Portugal. Vão-se embora, desapareçam, não provoquem mais desgraça e miséria. As empresas, os empresários, as pessoas responsáveis, os trabalhadores do privado e do público, os reformados, as crianças, os jovens, os velhos, ninguém vos quer mais à frente dos destinos do país. Nós percebemos muito bem o que estão a fazer. Pelos vistos, se há alguém que não percebe o que tem que fazer são vocês, os que acham que foi para isto que os vossos votantes vos mandataram. Podem ficar descansados, o governo comunica muito bem, tão bem que o povo já percebeu há muito o que é que tem que fazer convosco: correr-vos à vassourada, para poupar no verbo.
Lembro-me que após o 25 de Abril de 1974, o povo, livre ainda desta tirania partidária, veio para a rua manifestar-se por um futuro que pretendia melhor após 48 anos de ditadura de um regime corporativista e de influência fascista. A diferença para as manifestações de sábado passado são mais no número do que na substância: o povo continua disposto a lutar por um futuro digno para todas as gerações presentes e futuras e não há-de ser um governo ultra-liberal e correia de transmissão dos grandes interesses económicos, que o há-de vergar. Foi isso que foi dito nas ruas. Os espertos do costume, fingem que não entenderam a mensagem, e querem tomar-nos por parvos mais uma vez. Veremos.
Jacinto Lourenço