O arquipélago da Berlenga fica mais ou menos a 16 quilómetros a oeste de Peniche. Fui lá três vezes, à Berlenga Grande, levado pelo desafio da pesca desportiva. Confesso que em qualquer das deslocações feitas nunca fui muito feliz em termos de capturas. Valeram pelo passeio, pela contemplação da beleza bruta e pelo convívio. A fauna na ilha resume-se basicamente a duas espécies: gaivotas e coelhos. As gaivotas percebo como lá vão parar, já quanto aos coelhos precisava investigar para entender como foram introduzidos, facto que, para este pequeno texto, não iria representar qualquer valor acrescentado.
Os coelhos bravos, como sabemos, podem representar uma praga quando crescem sem qualquer controlo. Eles só fazem aquilo que têm que fazer: reproduzem-se, e muito, e devoram a flora existente. Ora, na Berlenga grande, os coelhos são mais que as mães e são tantos que é impossível não dar por eles quando passeamos pela ilha. Talvez por isso, quando morrem, de doença ou velhice, os seus esqueletos ficam espalhados um pouco por todo o lado.
Como em tudo, a vida faz-se por ciclos e isso é válido até para os coelhos, mesmo se dominam numa pequena ilha, como a Berlenga grande ou num pequeno país como Portugal. O ciclo do coelho não é muito estendido no tempo. Mas sendo momentaneamente dono exclusivo do prado pode prolongar um pouco mais esse ciclo, mas há-de haver um dia em o que o coelho já não terá mais forças para saltitar e irá cair junto aos seus locais habituais de pasto. Antes de se encerrar sobre si próprio, lança um último olhar sobre as rochas e pedras por onde passeava, olha o horizonte e o mar à volta e só então descobre que, ao contrário do que pensava, não era livre, estava confinado a uma ilha onde só havia coelhos iguais a ele, sem controlo, e gaivotas oportunistas.