De um momento para o outro, as acções caíram. Não era possível entender: até há uns dias eram só recordes de alta, uns atrás dos outros. Dinheiro fácil para qualquer pessoa que entrasse no jogo. Agora não. O dinheiro tinha desaparecido. Tanta gente tinha perdido tanto no mercado financeiro que já nem os bancos emprestavam – uns por medo de que os clientes que pediam empréstimos estivessem tão falidos que não iriam pagar nunca; outros porque estavam com as calças na mão.
Sem poderem contrair empréstimos para pagarem as suas dívidas, as empresas faliam umas atrás das outras. O desemprego aumentou, e quem continuava a trabalhar não tinha nenhuma certeza de que continuaria a ter trabalho. Por precaução, as pessoas começaram a economizar, comprando apenas o essencial.
Aí é que as coisas foram para o buraco de vez: as empresas, que já não tinham crédito no mercado, ficaram sem clientes. Falência geral: 72 companhias em 100 fecharam as portas. As que não morreram acabaram gravemente feridas. Até as acções da maior empresa do mundo caíram 80%, depois de terem atingido o seu maior valor de mercado na história. O governo precisava de agir para evitar o desastre completo. Primeiro agiu com a boca, apontando o grande culpado pela crise: a ganância dos investidores, que estavam a transformar a economia num casino. «Vamos restringir as práticas perniciosas dos negociantes de acções», disse o presidente da Câmara. Um analista financeiro resumiu bem o espírito de indignação: «qualquer pessoa poderia ter previsto que a alta das acções a um preço tão superior ao que elas valem teria uma consequência fatal».
Esta história serviria para narrar com alguma precisão o desenrolar da crise de 2008, mas aconteceu em 1697, no Reino Unido.
In Alexandre Versignassi, Crash
Fonte: Pó dos Livros