“(...) Amós (1:7), (...) deixou uma ameaça: "Assim fala o Senhor: (...) 'Porei fogo aos muros de Gaza.' O qual devorará os seus palácios. Exterminarei os habitantes de Azot [Ashdod]. E o que tem na mão o ceptro de Ascalon [Askhelon]."
A primeira referência bíblica a Gaza está no Livro de Génesis (10:19), definida como fronteira de Canaã, "na direcção" de Sodoma e Gomorra. Inicialmente uma "guarnição egípcia", Gaza foi uma das cinco cidades (Pentápolis) dos filisteus, navegadores e guerreiros de origem indo-europeia que chegaram e se instalaram, por volta de 1180 a.C. Cobiçada por muitos, fosse o rei David (o que matou Golias) ou Herodes, Pompeu ou Napoleão, assírios ou aqueménidas, hasmoneus ou selêucidas, por aqui passaram vários povos que deixaram marcas. (…)
O problema é que judeus e muçulmanos sacralizaram a sua terra. Quando isto acontece, a situação torna-se muito complicada. Porque sacralizar é fazer com que uma terra se torne numa ideologia religiosa. É considerar que a terra, sendo sagrada, não pode ser dividida por dois povos. E isso é verdade não só para os fundamentalistas islâmicos como para os judeus ultra-ortodoxos fundamentalistas, estejam eles em Israel ou na América." (…)
Muito depois de Sansão, Gaza voltou a conhecer destruição quando, em Outubro de 332, depois de três a cinco meses de cerco (há as duas versões), a cidade foi conquistada por Alexandre, o Grande, no avanço das forças macedónias em direcção ao Egipto.
Como castigo pela não rendição do governador local, toda a população masculina foi massacrada. As mulheres e as crianças foram vendidas como escravas. A região foi posteriormente repovoada com beduínos (nómadas) em áreas circundantes.
Gaza, que gozava de relativa independência, não queria ceder o controlo do comércio - era uma importante rota na costa do Mediterrâneo (a 15 quilómetros do mar), ligando o Norte de África (Egipto) ao Levante (Síria). Só à terceira investida contra a cidade fortificada, e depois de um grave ferimento no ombro, Alexandre saiu vitorioso.
Batis, o governador persa, teve o mesmo destino que Aquiles deu a Hector, príncipe de Tróia. Amarraram-lhe uma corda aos tornozelos e foi arrastado, vivo, preso a uma quadriga, pelas ruas da cidade. Ainda que Alexandre gostasse de ser misericordioso com os adversários, terá ficado furioso porque o eunuco Batis não se ajoelhou, permanecendo silencioso e numa atitude de desprezo.
Os egípcios, exultantes com a derrota dos inimigos persas - ainda hoje Cairo e Teerão disputam a influência em Gaza -, acolheram Alexandre como rei e entregaram-lhe o trono dos faraós. Com a coroa do Alto e Baixo Egipto, ele era visto como a incarnação de Rá e Osíris.
Cruzados e otomanos,
britânicos e israelitas
Em 1100, a Gaza dos muçulmanos fatimitas (xiitas) caiu nas malhas dos Cruzados que nela provocaram, segundo diversos relatos, "uma grande devastação". Em 1517, a cidade foi integrada no Império Otomano e assim permaneceu durante 400 anos, prosperando com os negócios de especiarias, azeite, ouro e incenso.
Ao contrário dos cruzados, que massacraram a pequena comunidade hebraica, os otomanos acolheram em Gaza os judeus fugidos da Inquisição na Península Ibérica, permitindo que eles e os samaritanos produzissem "os melhores vinhos regionais". Também exportavam cevada para cervejarias na Europa.
Sob os turcos, a convivência entre judeus, cristãos e muçulmanos era pacífica. Em 1965, proveniente de Salónica, chegou a Gaza o falso messias Sabbatai Zevi. O primeiro discípulo chamava-se Natan e a cidade rapidamente atraiu um movimento messiânico.
Durante a I Guerra Mundial, Gaza tornou-se campo de batalha. Os otomanos resistiram a dois ataques ingleses, em 1916 e em 1917, mas neste ano foram derrotados pelas tropas do general Allenby. Após o colapso da Sublime Porta, a administração da Palestina (incluindo Gaza) foi entregue aos britânicos, no âmbito de um mandato da Liga das Nações. Em 1947, depois de sangrentos motins e confrontos envolvendo grupos árabes, milícias judaicas e as autoridades mandatárias, a recém-criada ONU dividiu o território em dois estados - um judaico e um árabe (...)"
In Revista Publica de 18 de Janeiro, 2008 / Texto de Margarida Santos Lopes Versão integral do Texto: Ler aqui |