quarta-feira, 29 de julho de 2009

Impressionismo - Manet

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31ª Conferência Desafio Jovem

Do nosso ponto de vista, o único evento cristão-evangélico verdadeiramente global em Portugal. Quer pela importância, pelo relevo do trabalho, pelo passado do Desafio Jovem ou pelo impacto que esta conferência costuma promover em quem frequenta as suas reuniões; normalmente congrega pessoas de todas as idades e gerações preocupados no usufruto de verdadeiro tempo e encontro com Deus em plena liberdade de espírito, mais do que qualquer outra coisa. É bom estar lá e viver a Conferência.
Ab-Integro

Um Deus Absolutamente Supremo !

"O Deus deste século vinte não se assemelha mais ao Soberano Supremo das Escrituras Sagradas do que a bruxuleante e fosca chama de uma vela se assemelha à glória do sol do meio-dia. O Deus de que se fala actualmente no púlpito comum, comentado na escola dominical em geral, mencionado na maior parte da literatura religiosa da actualidade e pregado em muitas das conferências bíblicas, assim chamadas, é uma ficção engendrada pelo homem, uma invenção do sentimentalismo piegas. Os idólatras do lado de fora da cristandade fazem "deuses" de madeira e de pedra, enquanto que os milhões de idólatras que existem dentro da cristandade fabricam um Deus extraído das suas mentes carnais. Na realidade, não passam de ateus, pois não existe alternativa possível senão a de um Deus absolutamente supremo, ou nenhum deus. Um Deus cuja vontade é impedida, cujos desígnios são frustrados, cujo propósito é derrotado, nada tem que se lhe permita chamar Deidade, e, longe de ser digno objecto de culto, só merece desprezo”.
Arthur Pink (1886-1952)

O Tipo Certo de Homens...

A igreja, neste momento, precisa de homens, o tipo certo de homens, homens ousados. Afirma-se que necessitamos de avivamento e de um novo movimento do Espírito; Deus, sabe que precisamos de ambas as coisas. Entretanto, Ele não haverá de avivar ratinhos. Não encherá coelhos com seu Espírito Santo. A igreja suspira por homens que se consideram sacrificáveis na batalha da alma, homens que não podem ser amedrontados pelas ameaças de morte, porque já morreram para as seduções deste mundo. Tais homens estarão livres das compulsões que controlam os homens mais fracos. Não serão forçados a fazer as coisas pelo constrangimento das circunstâncias; sua única compulsão virá do íntimo e do alto. Esse tipo de liberdade é necessária, se queremos ter novamente, em nossos púlpitos, pregadores cheios de poder, ao invés de mascotes. Esses homens livres servirão a Deus e à humanidade através de motivações elevadas demais, para serem compreendidas pelo grande número de religiosos que hoje entram e saem do santuário. Esse homens jamais tomarão decisões motivados pelo medo, não seguirão nenhum caminho impulsionados pelo desejo de agradar, não ministrarão por causa de condições financeiras, jamais realizarão qualquer acto religioso por simples costume; nem permitirão a si mesmos serem influenciados pelo amor à publicidade ou pelo desejo por boa reputação. Muito do que a igreja faz em nossos dias, ela o faz porque tem medo de não fazê-lo. Associações de pastores atiram-se em projectos motivados apenas pelo temor de não se envolverem em tais projectos. Sempre que o seu reconhecimento motivado pelo medo (do tipo que observa o que os outros dizem e fazem) os conduz a crer no que o mundo espera que eles façam, eles o farão na próxima segunda-feira pela manhã, com toda a espécie de zelo ostentatório e demonstração de piedade. A influência constrangedora da opinião pública é quem chama esses profetas, não a voz de Jeová. A verdadeira igreja jamais sondou as expectativas públicas, antes de se atirar em suas iniciativas. Seus líderes ouviram da parte de Deus e avançaram totalmente independentes do apoio popular ou da falta deste apoio. Eles sabiam que era vontade de Deus e o fizeram, e o povo os seguiu (às vezes em triunfo, porém mais frequentemente com insultos e perseguição pública); e a recompensa de tais líderes foi a satisfação de estarem certos em um mundo errado. Outra característica do verdadeiro homem de Deus tem sido o amor. O homem livre, que aprendeu a ouvir a voz de Deus e ousou obedecê-la, sentiu o mesmo fardo moral que partiu os corações dos profetas do Antigo Testamento, esmagou a alma de nosso Senhor Jesus Cristo e arrancou abundantes lágrimas dos apóstolos . O homem livre jamais foi um tirano religioso, nem procurou exercer senhorio sobre a herança pertencente a Deus. O medo e a falta de segurança pessoal têm levado os homens a esmagarem os seus semelhantes debaixo de seus pés. Esse tipo de homem tinha algum interesse a proteger, alguma posição a assegurar; portanto, exigiu submissão de seus seguidores como garantia de sua própria segurança. Mas o homem livre, jamais; ele nada tem a proteger, nenhuma ambição a perseguir, nenhum inimigo a temer. Por esse motivo, ele é alguém completamente descuidado a respeito de seu prestígio entre os homens. Se o seguirem, muito bem; caso não o sigam, ele nada perde que seja querido ao seu coração; mas, quer ele seja aceito, quer seja rejeitado, continuará amando seu povo com sincera devoção. E somente a morte pode silenciar sua terna intercessão por eles. Sim, se o cristianismo evangélico tem de permanecer vivo, precisa novamente de homens, o tipo certo de homens. Deverá repudiar os fracotes que não ousam falar o que precisa ser transmitido; precisa buscar, em oração e muita humildade, o surgimento de homens feitos da mesma qualidade dos profetas e dos antigos mártires. Deus ouvirá os clamores de seu povo, assim como Ele ouviu os clamores de Israel no Egito. Haverá de enviar libertação, ao enviar libertadores. É assim que Ele age entre os homens. E, quando vierem os libertadores... serão homens de Deus, homens de coragem. Terão Deus ao seu lado, porque serão cuidadosos em permanecer ao lado dEle; serão cooperadores com Cristo e instrumentos nas mãos do Espírito Santo...
Fonte: Editora Fiel
* * *
Depois de ler este texto, fica-se com a ideia de que não temos mais nada para ler que nos possa dar melhor contributo ao entendimento da realidade da igreja actual, mas também o caminho que ela ( e cada um de nós ) deve tomar . Confesso que fiquei mais tranquilo, mais calmo e mais seguro quanto ao propósito de Deus para cada um dos seus filhos, em que me incluo. Ele fala-nos de tanta maneira... Que possamos ouvi-Lo com o nosso espírito e alma limpos e isentos de qualquer grão de preconceito de superioridade ou inferioridade espiritual. Todos estamos reflectidos neste espelho de sabedoria e inspiração.
Ab-Integro

terça-feira, 28 de julho de 2009

Humanos já Comiam Peixe há 40 mil Anos

Descobertas feitas na China mostram dieta abundante e rica em proteínas. A análise de um maxilar encontrado numa gruta de Tianyuan, perto de Pequim, na China, permitiu concluir que os humanos já incluíam peixe na sua dieta há 40 mil anos. A equipa internacional que fez esta descoberta era formada por cientistas da Alemanha, da China e dos EUA. A análise química do colagénio proteico, usando relações de isótopos de azoto e enxofre permite mostrar se o consumo de peixe era ocasional ou um alimento regular. No entanto, embora seja hoje uma parte fundamental na dieta dos humanos, desconhece-se até que ponto os primeiros homens conheciam este alimento. A investigação com isótopos de carbono e azoto das ossadas e restos associados permitiu neste caso estabelecer a relação mais antiga, até hoje, entre humanos e consumo de peixe. No caso deste indivíduo com 40 mil anos, havia uma dieta elevada em proteína animal e, em particular, peixe de água doce. As observações dos locais arqueológicos permitem dizer que esta utilização de recurso alimentar ocorreu antes da invenção de ferramentas que facilitavam a pesca. A conclusão dos cientistas é que esta dieta reflecte pressões populacionais naquela parte da Ásia. A população humana estaria em rápida expansão na época.
In Diário de Notícias Online de 15 de Julho de 2009

Marcas de Destruição na Terra Vistas do Espaço

( foto jornal Público )
Astronauta identifica marcas da destruição humana no planeta Terra
Um astronauta canadiano a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês) identificou marcas da destruição humana no planeta Terra. Bob Thirsk falou ontem do degelo, fenómeno que evoluiu desde a última vez que tinha estado em órbita, há 12 anos.Thirsk está há dois meses na ISS e sempre que olha pela janela nunca deixa de ficar maravilhado. “É um véu muito fino de atmosfera que nos mantém vivos na Terra”, comentou o astronauta durante uma conferência de imprensa a partir do espaço.“Mas noto alguns efeitos da destruição humana na Terra. Pode ser apenas uma sensação, mas fico com a ideia de que os glaciares estão a derreter, o gelo nos picos das montanhas é hoje mais reduzido em relação ao que existia há 12 anos, a última vez que observei do espaço”. “Isso entristece-me um bocado”, admitiu.Thirsk deverá ficar na ISS durante seis meses.
In Jornal Público Online de 28 de Julho de 2009

ASSISTÊNCIA RELIGIOSA NOS HOSPITAIS

Ao longo de anos, muitos têm sido os casos de pastores e outros ministros que têm encontrado dificuldades no acesso aos hospitais quando pretendem visitar doentes das suas igrejas. Por vezes, o acesso é recusado, por vezes é apenas condicionado a um certo horário ou ao acompanhamento pelo capelão católico romano. É convicção da Aliança Evangélica Portuguesa que os casos que têm chegado ao nosso conhecimento não são mais do que "a ponta do iceberg" e a AEP deseja dar a conhecer a Sua Excelência a Ministra da Saúde a dimensão real do problema da discriminação de que quer os doentes quer os ministros de culto das confissões minoritárias vêm sendo objecto. Por favor, seja qual for a sua confissão religiosa, se se sentiu discriminado em virtude da sua opção religiosa em matéria de assistência religiosa num estabelecimento de saúde público ajude-nos a conhecer e a dar a conhecer a realidade da discriminação no nosso país. Relate-nos o seu caso com referência a locais, datas e tanto quanto possível identificando as pessoas envolvidas. Relatos anónimos não poderão ser validados. Pode enviar o relato para geral@portalevangelico.pt ou para Aliança Evangélica Portuguesa, R. Barjona de Freitas, 16-B (1500-204) Lisboa.Obrigado por colaborar com a Aliança Evangélica Portuguesa na luta contra a discriminação religiosa em Portugal.
In Portal Evangélico

Acordo sobre Assistência Religiosa

Fonte do gabinete do ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, que tutela este dossier, confirmou à Agência Lusa o acordo, sublinhando que abrange não só a Igreja Católica como todas as outras confissões religiosas.[...]
Ler todo o artigo aqui no jornal Diário de Notícias Online de 27 de Julho de 2009

Impressionismo - Degas

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Aprender a Amar

Amor, Ódio, Desprezo
Meus ódios são passageiros, os amores, claudicantes, os desprezos, perenes. Nunca tive medo de odiar. Minhas fúrias são inofensivas; no máximo, palavrões secretos. Meu maior pavor é desprezar, porque tornei-me mestre em esquecer. Sou ás em mutilar-me com amnésia. Treinei para olvidar. Sou culpado de homicídios emocionais. Frio, posso esquartejar quem quiser. Calculista, assassino com desdém.Amo com dificuldade, mas esqueço sem esforço. Viro as costas e pronto, acabou. Apago o contorno dos olhos. Anulo os cheiros. Rasgo memórias. Lixo tatuagens. Jogo na lixeira da alma quem me feriu. Nunca tramo vingança; não há necessidade, sou hábil em diluir quem me feriu. Não, não estou me gabando. Sei que peco contra mim mesmo quando desprezo. Acabo com a possibilidade do perdão, tranco a porta da misericórdia e me distancio do bem. Tenho que me esforçar para não deixar que a mediocridade, que tanto detesto, me apequene. Preciso da nobreza dos mansos que suplantam as dores do passado - a minha lateja por décadas. Reconheço que me aleijo quando deleto alguém. Não gosto de ser indiferente. Desde cedo sofri. Padeci e criei casca. Para sobreviver, revesti-me com a sobrepeliz da insensibilidade. Por isso, apaixonei-me por Jesus de Nazaré. Ele venceu o ódio sem punhal. Desarmado, só com bondade, atropelou a maldade. Sem contar com nenhum exército, fez da ternura a força mais admirável do universo. Reconheço a minha carência. Tenho muito o que aprender. Ainda hei de acolher quem joga pedra, compreender quem é torto de inveja e caminhar duas milhas com quem conspira para destruir.

Soli Deo Gloria

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Nobreza no Olhar

“Para um nobre coração os mais ricos presentes tornam-se pobres, quando aquele que oferece o presente já não mais demonstra afecto.”

William Shakespeare

Alguém, dentre todos, viu em mim alguma nobreza. Uma lisonja capaz de levar-me muito próximo ao desconforto. Percebo agora, é muito mais leve o peso da fama de um adorável trapalhão esculachado e rude em relação ao peso da fama de nobre. Há dor tremenda na oferta de um desprezador. O desprezo é o oposto do afecto. Não sei bem como, mas cheguei a esta etapa da vida e ela me deu novas directrizes. Meu actual script, paradoxalmente, é menos falante e mais observador. Meu papel actual inclui escutar e ler, em detrimento do falar. Até o escrever me angustia. Recebi a incumbência de ser mais conciliador e cordato. Duro é começar a ver mais, mesmo vendo menos, consequência da diminuição de palavras vertidas. Ao passar por uma rua pela primeira vez, não sabia o que eram aquelas portas e, tão pouco, conhecia o destino das transversais e vielas. Hoje, quando passo pelas mesmas ruas, surpreendo-me com a experiência, pois ela responde-me a essas perguntas, antes sem respostas. Sei agora quando escutar ou não e, sobretudo, quando lembrar ou não. Descobri o quão belo é esquecer um pecado ou uma afronta recebida, tempos atrás. Estou abraçando mais e melhor as pessoas. Meu aperto de mão se não tem o mesmo vigor, ganhou em sinceridade. Meus olhares são mais respeitosos e sensíveis. Ainda me irrito no retalho, mas estou bem mais longânimo no atacado. Talvez fique mais perto da perfeição quando galgar um grau acima. Por enquanto, não estou apto a receber o presente de quem não me tem nenhum afecto. Não que isso possa acontecer facilmente, se a vida me pregar uma peça dessas ou, de novo, vier uma traição qualquer, com a chegada de algo assim às minhas mãos, devolverei ao traidor ou desafecto. Então, olhando firme em meus olhos, pelo espelho, perguntarei a mim mesmo: Serei eu um nobre?
In Caverna do Lou

A Ética da Estética

Magritte é um grande génio, dos maiores de sempre. Os seus quadros interpelam-nos de uma forma inesperada
Qual o valor ético da arte?
A pergunta hoje surge aberrante. A arte é a arte, e está acima das questões humanas. Os autores sentem-se com a função eminente de criar coisas novas e por isso superiores aos demais. Num tempo que recusa o sublime e o transcendente, os valores estéticos ocupam o lugar do divino. Não parece fazer sentido sujeitar a arte a coisas como a ética. O papel dos trabalhos artísticos mudou muito através dos séculos. Na origem é provável que música e pintura das cavernas tivessem propósitos mágicos ou encantatórios. Com a chegada da civilização, mudou a função mas não o tema. A maioria dos artistas da Antiguidade trabalhava representando o divino, nos templos dos deuses e nos palácios do faraó ou imperador, deuses visíveis. A situação manteve- -se na Cristandade com a arte sacra dominante. Deste modo, se os artistas perderam os poderes espirituais da pré-história, recebiam dignidade ética directamente do Céu. Com a prosperidade da "revolução comercial", ganhou força uma nova forma de expressão ligada ao conforto dos ricos. Artes decorativas, retratos de família e música de câmara era algo que a Antiguidade vira apenas em surtos fugazes, nos períodos de florescência, mas que se popularizou na Europa da Baixa Idade Média. Este confronto entre as duas formas de arte, sacra e profana, foi-se travando ao longo dos séculos. Se em Giotto (1267-1337) e Dante (1265-1321) dominava a expressão do sublime, Petrarca (1304-1374) e Van Eyck (1395-1441) também tratavam temas familiares e comuns. No Renascimento, mitologia e Bíblia eram ainda a inspiração de Miguel Ângelo (1475-1564) e Rafael (1483-1520), mas a pintura mais famosa acabou por ser um simples retrato de uma burguesa, a jovem Lisa del Giocondo (1479-1542) pintada aos 20 anos por Leonardo (1452-1519) em 1503. A Idade Moderna, com as guerras de religião seguidas por revoluções, foi a pouco e pouco transformando a arte, de uma forma de oração ou adereço de conforto, em arma de intervenção. Murillo (1617-1682) e Bach (1685-1750) são devotos e Rembrandt (1606-1669) e Mozart (1756-1791) pretendem agradar aos patronos; mas David (1748-1825) e Beethoven (1770-1827) querem transformar a sociedade. Nessa altura, como disse Marx em 1845, não se tratava de interpretar o mundo, mas de o mudar (Theses on Feuerbach, 11). Curiosamente, nesse tempo em que a humanidade se assumia como divina, o Romantismo de homens como Byron (1788-1824), Manet (1832-1883) ou Chopin (1810-1849) combinava o dramatismo insurrecto com a mais prosaica emotividade burguesa. Foi o período em que a arte se pretendeu mais próxima da moral positiva, na construção da justiça social ou da relação amorosa. Mas esta aproximação entre ética e estética acabou na ruptura. A geração seguinte recusou a instrumentalização política ou doméstica da sua actividade e procurou afirmar algo totalmente novo na história do mundo: a arte pela arte. A estética era a ética. Depois de ferramenta de feitiçaria, expressão do divino, forma de bem-estar ou arma de revolução, a obra hoje julga-se a sua própria medida e finalidade. As pessoas são meros objectos da arte, não sujeitos ou observadores. Símbolo disso são os retratos de Edward James (1907-1984), poeta britânico e mecenas do surrealismo. Grato pelo apoio recebido, o pintor belga René Magritte (1898-1967) fez nada menos do que duas representações do seu patrono. Mas no primeiro, La reproduction interdite de 1937, o jovem aparece de costas diante de um espelho. Só que o espelho, segundo as regras excêntricas da escola, mostra-nos a imagem também de costas. Talvez arrependido da brincadeira genial, o artista voltou ao tema no mesmo ano, com Le principe du plaisir. Aí o amigo está de frente para nós. Mas a sua cabeça é substituída por uma explosão de luz. Magritte é um grande génio, dos maiores de sempre. Os seus quadros interpelam-nos de uma forma inesperada e desconcertante. Mas, apesar dos dois retratos, a imagem da sua Gioconda do surrealismo não conseguiu ficar para a posteridade.
João Cesar das Neves
In Diário de Notícias de 27 de Julho de 2009

Os Nossos Elfos

Havia uma crença comum na Idade Média que levava as pessoas a acreditar que os Elfos oprimiam o peito dos doentes e lhes inspiravam sonhos terríveis. Os imaginários Elfos eram pequenos seres endiabrados que roubavam crianças e herdades.O ser humano sempre procurou encontrar culpados para as suas dificuldades quotidianas. E com esta estratégia atinge dois objectivos. Por um lado alija a carga da possível responsabilidade ou culpa dos seus actos que, a montante do tempo, provocaram as presentes dificuldades. Já o apóstolo Paulo dizia, há dois mil anos, que “aquilo que o homem semear isso também ceifará”. Embora este princípio não seja rigorosamente constante e absoluto, a verdade é que boa parte dos problemas do presente é fruto de más escolhas, opções ou atitudes assumidas no passado. Acontece frequentemente em matérias como a saúde e os relacionamentos interpessoais, por exemplo. Por outro lado, ao apontar em todas as direcções, ou em última análise, para essa entidade abstracta, “a sociedade” em geral, vitimizo-me e concito a compreensão e compaixão gerais. Dá, pois, imenso jeito, ter a quem apontar o dedo, pois assim escapa-se ao peso da culpa e ainda se consegue o apoio daqueles com quem convivemos. Só que, apontar o dedo implica alguns riscos. Desde logo o risco de ser desmentido pelo acusado. Ninguém gosta de ser acusado e, quando é o caso, desenvolve de imediato uma dinâmica de autojustificação (o peso da culpa é insuportável) que se vira contra o acusador. Mas existe ainda o risco associado de, como diz o povo, zangadas as comadres, se venham a descobrir as verdades. Isto é, que o acusado, na ânsia de se justificar, revele os erros do acusador. E a telenovela prossegue… Além do mais há depois um jogo de espelhos de outros protagonistas secundários, ou observadores atentos, que estando fora da luta directa sabem interpretar os factos com distanciamento e isenção, sem ceder às habituais e compreensíveis perturbações emocionais do momento, no calor da refrega. Praticamente já entrámos em pré-campanha eleitoral. Para os partidos da oposição, os elfos são os governantes em geral. Para o governo os elfos são os sindicatos e os da oposição que já foram governo no passado. O eleitorado começa a entrar neste jogo de espelhos que reflectem a realidade, uns de modo mais fidedigno, outros de forma distorcida. Não nos esqueçamos, porém, que isto faz parte do preço da Democracia e da Liberdade.
Brissos Lino

domingo, 26 de julho de 2009

Qual o Nosso Modo de Orar ?

O modo de orar deriva da nossa visão de Deus.
Quem duvida, racionaliza;
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quem teme, suplica;
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quem confia, espera;
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quem ama, entrega-se.
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Frei Betto

A Nossa Vocação

Os discípulos falam das suas acções como manifestações da presença activa de Deus. Eles agem, não para provar o seu próprio poder, mas para mostrar o poder de Deus; agem, não para redimir as pessoas, mas para revelar a graça redentora de Deus; agem, não para criar um mundo novo, mas para abrir corações e ouvidos para aquele que está sentado no trono e diz: "Eis que faço novas todas as coisas" (Ap 21.5). Na nossa sociedade, que equipara o valor com a produtividade, a acção paciente é muito difícil. Estamos tão propensos a nos preocupar em fazer algo que tenha valor, em realizar mudanças, planear, organizar, estruturar e restaurar, que muitas vezes parece que esquecemos que não somos nós que redimimos, mas Deus. Estar "ocupado", estar "onde está a acção", estar "no auge das coisas", muitas vezes parece ter-se tornado a própria meta a ser atingida. Esquecemos que a nossa vocação não é demonstrar os nossos poderes, mas a misericórdia de Deus. A acção como forma de vida compassiva é prática difícil, justamente porque nós somos tão carentes de reconhecimento e de aceitação. Esta carência pode facilmente levar-nos a nos conformarmos com a expectativa de que iremos oferecer algo de "novo". Numa sociedade que está interessada em novos encontros, tão ávida por novos acontecimentos, e tão sedenta de novas experiências, é difícil alguém não ser seduzido para um activismo impaciente. Dificilmente nos damos conta desta sedução, especialmente porque aquilo que fazemos é tão obviamente "bom e religioso". Mas até mesmo o estabelecimento de um programa de ajuda, de alimentação dos que estão com fome e de assistência aos doentes pode ser mais uma expressão de nossas próprias necessidades do que um chamado de Deus. Mas não sejamos tão moralistas a respeito disso: nunca poderemos alegar motivos isentos de interesse próprio, e é melhor agir com aqueles e por aqueles que sofrem do que esperar até que tenhamos completamente sob controlo nossas próprias necessidades e os impulsos altruístas agindo plenamente em nós. Entretanto, é importante permanecermos críticos em relação às nossas tendências activistas. Quando as nossas próprias necessidades começam a dominar as nossas ações, o serviço a longo prazo torna-se difícil, e nós logo ficamos exaustos, esgotados e até mesmo exacerbados pelos nossos esforços. A fonte mais importante para combater a tentação constante de ceder ao activismo é a consciência de que em Cristo tudo foi consumado. Esta consciência deveria ser estendida, não como um discernimento intelectual, mas como um entendimento na fé. Enquanto continuamos a agir como se a salvação do mundo dependesse de nós, carecemos da fé que move montanhas. Em Cristo, o sofrimento e a dor humana já foram aceitos e suportados; nEle, a nossa humanidade enfraquecida foi reconciliada e admitida na intimidade do relacionamento entre o Pai e o Filho. Por isso, a nossa acção deve ser entendida como uma prática pela qual nós tornamos visível aquilo que já foi consumado. Esta acção baseia-se na fé de que nós pisamos terreno sólido mesmo quando estamos cercados pelo caos, pela confusão, pela violência e pelo ódio. Deus não é um Deus de ódio e de violência, mas um Deus de ternura e de compaixão. Talvez somente aqueles que muito sofreram entenderão o que significa que Cristo sofreu as nossas dores e consumou a nossa reconciliação na cruz. Henri Nouwen (1932 – 1996), escritor, preletor e mentor espiritual, foi professor nas Universidades de Harvard, Yale e Notre Dame, e passou a última década de sua vida pastoreando uma comunidade voltada para o cuidado de deficientes mentais, chamada Daybreak, em Toronto, Canadá.
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