Havia uma crença comum na Idade Média que levava as pessoas a acreditar que os Elfos oprimiam o peito dos doentes e lhes inspiravam sonhos terríveis. Os imaginários Elfos eram pequenos seres endiabrados que roubavam crianças e herdades.O ser humano sempre procurou encontrar culpados para as suas dificuldades quotidianas. E com esta estratégia atinge dois objectivos. Por um lado alija a carga da possível responsabilidade ou culpa dos seus actos que, a montante do tempo, provocaram as presentes dificuldades. Já o apóstolo Paulo dizia, há dois mil anos, que “aquilo que o homem semear isso também ceifará”. Embora este princípio não seja rigorosamente constante e absoluto, a verdade é que boa parte dos problemas do presente é fruto de más escolhas, opções ou atitudes assumidas no passado. Acontece frequentemente em matérias como a saúde e os relacionamentos interpessoais, por exemplo. Por outro lado, ao apontar em todas as direcções, ou em última análise, para essa entidade abstracta, “a sociedade” em geral, vitimizo-me e concito a compreensão e compaixão gerais. Dá, pois, imenso jeito, ter a quem apontar o dedo, pois assim escapa-se ao peso da culpa e ainda se consegue o apoio daqueles com quem convivemos. Só que, apontar o dedo implica alguns riscos. Desde logo o risco de ser desmentido pelo acusado. Ninguém gosta de ser acusado e, quando é o caso, desenvolve de imediato uma dinâmica de autojustificação (o peso da culpa é insuportável) que se vira contra o acusador. Mas existe ainda o risco associado de, como diz o povo, zangadas as comadres, se venham a descobrir as verdades. Isto é, que o acusado, na ânsia de se justificar, revele os erros do acusador. E a telenovela prossegue… Além do mais há depois um jogo de espelhos de outros protagonistas secundários, ou observadores atentos, que estando fora da luta directa sabem interpretar os factos com distanciamento e isenção, sem ceder às habituais e compreensíveis perturbações emocionais do momento, no calor da refrega. Praticamente já entrámos em pré-campanha eleitoral. Para os partidos da oposição, os elfos são os governantes em geral. Para o governo os elfos são os sindicatos e os da oposição que já foram governo no passado. O eleitorado começa a entrar neste jogo de espelhos que reflectem a realidade, uns de modo mais fidedigno, outros de forma distorcida. Não nos esqueçamos, porém, que isto faz parte do preço da Democracia e da Liberdade.
Brissos Lino
Via A Ovelha Perdida