quinta-feira, 23 de julho de 2009

À Porta da Caverna

Outro dia, entrei na caverna e sentei sobre uma pedra. Fiquei ali um bom tempo lamentando minha sorte. Entendi minha missão e tratei de iniciar um projeto para cumpri-la. Construí um site, bolei uma cartilha para informar as pessoas e planejei um sistema de apoio. Tudo pronto, faltava angariar pessoas e orar para elas nos apoiarem, com orações e contribuições. Era o velho método aprendido nas organizações por onde passei a trabalho. Mas comigo não funcionou na proporção esperada, aliás, ficou muito aquém. Enquanto isso, voltei a trabalhar com os dependentes químicos, visitei o Inácio e ele tinha algumas centenas internados nas unidades da clínica dele. Claro que eu faria isso como sempre, dar uma oportunidade a esses indivíduos e às suas famílias, talvez trabalhar duro na prevenção, meio abandonada por aí. Mas, embora haja milhares por aí, eles não me procuraram, mesmo com intensa propaganda via Google. Enquanto isso a cesta de contas encheu na mesma proporção que nossos celeiros esvaziariam, continuamos a pé e precisamos encontrar uma casa digna para morar em outra cidade. E onde anda Deus? Para que me enviar se não pretendia me abençoar. Pena que em cavernas não há poços, só umas lagoas rasas, se não me atirava. De repente, ouvi uma voz poderosa me chamando na porta da caverna. Fui até lá e havia uma figura de homem, majestoso com roupas as quais eu nunca vira antes. Então ele estendeu a mão e um grande vento se fez, um barulho ensurdecedor, cheguei a ver um ciclone ao longe e ele fez sinal e tudo voltou ao normal. Estendeu a mão novamente e uma grande tempestade se deu, com raios e trovões ensurdecedores e ele fez sinal com sua mão e tudo voltou ao normal. Olhando para ele, senti uma leve brisa, silenciosa e admiravelmente leve, tanto que chegava a dar prazer. Então fixou seus olhos penetrantes nos meus e perguntou: Lou, onde estava eu? Por acaso no barulho do vento forte, capaz de gerar um ciclone? Estaria eu nos trovões e raios da tempestade? Não estou bem a sua frente onde a brisa e a tranqüilidade você pode sentir e deliciar-se? Esbocei um sim muito acanhado. Aí aquela figura monumental emendou mais uma pergunta: Por que me procuras no barulho se estou no silêncio? Então se foi. Você deve estar pensando agora: “É o cara pirou de vez. Também, com tantas dores, não era para estranhar.” E quem acreditará nessa história, sem testemunhas que só ele viu? Tudo bem, entendo. Então erguemos nossos copos com pinga, deixando cair uns pingos para o santo e sugamos tudo em um gole só.

In Caverna do Lou