"Paradigma" é uma palavra tramada! Desde logo porque, por si só, traz associado um conceito onde radica muito daquilo que costura a nossa vida, o mundo, as sociedades, as pessoas.
Hoje de manhã, com o rádio sintonizado na Antena 1, ( felizmente que há a Antena 1 no universo do éter ) no programa Memórias Vivas [ do meu ponto de vista, um dos melhores programas de todas as rádios - a "mãe" de todos os programas de rádio, :) ] , ouvia uma entrevista a um autor, de origem árabe, de que não retive o nome, que despertou a minha atenção e curiosidade. Falava ele dos paradigmas que têm dado forma ao mundo em que vivemos: políticas, guerras, nacionalismos, economia, petróleo, etc.
Tomei nota quando afirmou que uma meia dúzia dos grandes últimos paradigmas que enformam a sociedade global actual se prendem com acontecimentos vincadamente geo-políticos ou geo-estratégicos, de que saliento: a 2ª grande guerra mundial, queda do muro de Berlim, união europeia, petróleo.
De entre os paradigmas apontados, alertava o autor referido, que o petróleo era o que mais se insinuava como suporte do modelo de desenvolvimento económico, de há já alguns anos a esta parte. Até aí nenhuma novidade. A "novidade" reside no facto de que os paradigmas vão mudando sem que nós estejamos muito preocupados e envovidos na preparação que é necessária fazer para nos ajustarmos. Dizia o entrevistado, que tenho estado a citar, que isso aconteceu com a europa no pós-queda do muro de Berlim com todas as consequências que daí advieram. O mesmo vai acontecer com o petróleo, que é um bem finito e que se aproxima, a passos largos, do seu esgotamento. O pior é que ninguém parece empenhadamente preocupado com isso. Um bom exemplo veio da reunião do G8, com a dificuldade em definir metas credíveis para baixar os níveis do arrefecimento do planeta, a curto prazo, onde, como sabemos, o petróleo tem grandes responsabilidades por estar na base do principal modelo de desenvolvimento "insustentável" da economia mundial. Ou seja: precisamos de um novo Paradigma económico que, como sabemos, tem por si só capacidade de varrimento de um conjunto de outros paradigmas. Quando despoletado, esse varrimento, tem um efeito social e civilizacional semelhante ao de um "Tsunami": destrói tudo à sua passagem. Depois é preciso parar para pensar na melhor forma de reconstruir. O pior é que nem sempre há lucidez, tranquilidade e tempo, para reerguer as coisas sem que o atabalhoamento domine os planos.
E aí reside o principal problema: é que o mundo tem sido despertado a reboque dos paradigmas que surgem do caos. É o foguetório dos acontecimentos, a parte do rasgar dos novos paradigmas que nos interessa, como aconteceu com a queda do muro. Para o resto, para as paradigmáticas consequências dramáticas e trágicas, subsequentes, não temos espaço de reflexão.
O petróleo vai "estourar". As ondas de choque desse estouro vão varrer o planeta. As "guerras" pelo acesso às fontes de energia vão ser alimentadas pelos nacionalismos antigos ou emergentes. Por mim, já decidi: vou "sustentar" todos os esforços que visem o desenvolvimento e o favorecimento das energias limpas e envolver-me nisso. Só assim poderemos, todos, controlar o rompimento dos novos paradigmas, sem nos limitarmos, apenas, a dar o corpo aos estilhaços dos "rebentamentos" sociais e económicos não controlados.
Jacinto Lourenço
