Pronto, confesso que estou sem tema, que seja pelo menos inédito, para escrever, hoje.
O sábado acordou lânguido, como acorda o país quase todos os dias. Ainda não ouvi rádio, como costumo fazer todas as manhãs e, portanto, não adivinho sequer o que possa ter acontecido enquanto dormia. Jornais, só mais logo, quando despejar os quilos de papel que o meu amigo Wilson me guarda, religiosamente, todos os fins de semana e passar a vista pelas gordas em busca de algo que prenda os meus olhos gulosos por novidades, boas notícias ou criatividade jornalística. Mas imagino que não vá ler nada que os dias rotineiros da semana que passou não tenham já trazido até mim. Relevância fatídica para um morto por "aste de toro" em Pamplona: um golpe de "mala suerte", diz a jornalista da TVE internacional. Jovem, 27 anos, e a vida a esfumar-se, em segundos, por entre assomos de intrepidez estúpida. Enfim é a "fiesta" a cobrar o preço a quem arrisca tudo o que tem. Fico atónito face ao desprezo que as pessoas revelam pela sua própria vida quando, sem qualquer defesa, se expõem às bestas que carregam toneladas de musculo sem freio. Assim, os "golpes de mala suerte" em cada metro de calçada nas escorregadias "calles" podem acontecer a qualquer momento.
Novidade, novidade, só se for a de que o meu filho André, num verdadeiro golpe de "mala", ficou sem a sua, num voo interno por terras de África. Mas isto não é tema para escrever. E também não é novidade para ninguém que, em trabalho ou de férias, tenha que se deslocar de avião. E afinal, malas há muitas, o vestuário é que pode ficar curto para o tempo... Malas há muitas. O que nos cria momentâneas dificuldades é o que vai lá dentro e deixou de ficar ao nosso alcance.
Jacinto Lourenço