Ouvia ontem à noite, na televisão, as palavras do socialista António Vitorino, a tentar justificar ( ou não ) as trapalhadas do Secretário Geral do P.S., José Sócrates, quanto à questão da duplicidade das candidaturas de alguns políticos ( autárquicas e europeias ) que, pelos vistos, terão mais olhos do que barriga, quando veio à minha memória o texto que reproduzo abaixo, publicado a 29 de Junho no Blogue Portugal Contemporâneo, versando a capacidade de auto-governação dos portugueses. Sem dúvida elucidativo sobre a forma como nos organizamos enquanto nação e país. E andamos há nove séculos nisto... Nenhum de nós, portugueses, está desculpado ou ilibado. Acho que os italianos têm um problema semelhante, para além de um ego grande de mais...; só que, no seu caso, a história e a geografia proporcionaram-lhes maior desafogo económico, coisa que a situação periférica de Portugal não nos legou, com a pequena excepção temporal do período áureo dos descobrimentos mas que, mesmo assim, os governantes de então transformaram num fartar vilanagem. Restaram, para os séculos posteriores, uns quantos monumentos de que continuamos todos muito orgulhosos mesmo se em nada contribuiram para o desenvolvimento real do país. Enfim, somos assim mesmo ! Não sei se há volta a dar ...?! Eu quero acreditar que sim.
Jacinto Lourenço
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"Para fugir aos naturais enviesamentos da forma como nos olhamos a nós próprios, é sempre útil procurar ver-nos no espelho do olhar dos outros (...) O olhar de dentro de Teixeira de Pascoaes ajuda, talvez, a compreender melhor, e a relativizar o olhar de fora de Kapuscinski e a sua sentença de "individualistas empedernidos". Os portugueses têm, de facto, sinais comportamentais que não facilitam a sua organizada inserção comunitária. Daí, provavelmente, a frase que sobre os nossos antecessores Lusitanos é atribuída a Gaius Julius Caesar (110-44 aC): "há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar". Mas não creio que o português típico - se é que existe essa figura - apesar de desorganizado e ter pouca disponibilidade para cooperar com os outros, seja especialmente dotado para afirmar e assumir a sua individualidade. (...) Por isso tenho alguma simpatia por uma interpretação baseada na tese que Michael Oakeshott (*) sustentou, em 1958, nas suas Conferências de Harvard. (...) De um lado (...) a "moralidade da individualidade" (...) de outro lado (...) a "moralidade do colectivismo". (...) Assim e à luz desta tese de Oakeshott, creio ser mais razoável identificar o "carácter" dos portugueses com a moralidade do segundo tipo de governados. Aliás, o que o filósofo José Gil escreveu, a dado passo do livro, "O Medo de Existir", tende a reforçar a interpretação que aqui partilho."
-Bento, Vítor (2009). Perceber a crise para encontrar o caminho. Lisboa: Bnomics.
-(*) Para mais acerca do pensamento de Michael Oakeshott leiam o ensaio de João Carlos Espada publicado este fim de semana no "i".