Os discípulos falam das suas acções como manifestações da presença activa de Deus. Eles agem, não para provar o seu próprio poder, mas para mostrar o poder de Deus; agem, não para redimir as pessoas, mas para revelar a graça redentora de Deus; agem, não para criar um mundo novo, mas para abrir corações e ouvidos para aquele que está sentado no trono e diz: "Eis que faço novas todas as coisas" (Ap 21.5). Na nossa sociedade, que equipara o valor com a produtividade, a acção paciente é muito difícil. Estamos tão propensos a nos preocupar em fazer algo que tenha valor, em realizar mudanças, planear, organizar, estruturar e restaurar, que muitas vezes parece que esquecemos que não somos nós que redimimos, mas Deus. Estar "ocupado", estar "onde está a acção", estar "no auge das coisas", muitas vezes parece ter-se tornado a própria meta a ser atingida. Esquecemos que a nossa vocação não é demonstrar os nossos poderes, mas a misericórdia de Deus. A acção como forma de vida compassiva é prática difícil, justamente porque nós somos tão carentes de reconhecimento e de aceitação. Esta carência pode facilmente levar-nos a nos conformarmos com a expectativa de que iremos oferecer algo de "novo". Numa sociedade que está interessada em novos encontros, tão ávida por novos acontecimentos, e tão sedenta de novas experiências, é difícil alguém não ser seduzido para um activismo impaciente. Dificilmente nos damos conta desta sedução, especialmente porque aquilo que fazemos é tão obviamente "bom e religioso". Mas até mesmo o estabelecimento de um programa de ajuda, de alimentação dos que estão com fome e de assistência aos doentes pode ser mais uma expressão de nossas próprias necessidades do que um chamado de Deus. Mas não sejamos tão moralistas a respeito disso: nunca poderemos alegar motivos isentos de interesse próprio, e é melhor agir com aqueles e por aqueles que sofrem do que esperar até que tenhamos completamente sob controlo nossas próprias necessidades e os impulsos altruístas agindo plenamente em nós. Entretanto, é importante permanecermos críticos em relação às nossas tendências activistas. Quando as nossas próprias necessidades começam a dominar as nossas ações, o serviço a longo prazo torna-se difícil, e nós logo ficamos exaustos, esgotados e até mesmo exacerbados pelos nossos esforços. A fonte mais importante para combater a tentação constante de ceder ao activismo é a consciência de que em Cristo tudo foi consumado. Esta consciência deveria ser estendida, não como um discernimento intelectual, mas como um entendimento na fé. Enquanto continuamos a agir como se a salvação do mundo dependesse de nós, carecemos da fé que move montanhas. Em Cristo, o sofrimento e a dor humana já foram aceitos e suportados; nEle, a nossa humanidade enfraquecida foi reconciliada e admitida na intimidade do relacionamento entre o Pai e o Filho. Por isso, a nossa acção deve ser entendida como uma prática pela qual nós tornamos visível aquilo que já foi consumado. Esta acção baseia-se na fé de que nós pisamos terreno sólido mesmo quando estamos cercados pelo caos, pela confusão, pela violência e pelo ódio. Deus não é um Deus de ódio e de violência, mas um Deus de ternura e de compaixão. Talvez somente aqueles que muito sofreram entenderão o que significa que Cristo sofreu as nossas dores e consumou a nossa reconciliação na cruz. Henri Nouwen (1932 – 1996), escritor, preletor e mentor espiritual, foi professor nas Universidades de Harvard, Yale e Notre Dame, e passou a última década de sua vida pastoreando uma comunidade voltada para o cuidado de deficientes mentais, chamada Daybreak, em Toronto, Canadá.
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