"E Jesus, respondendo-lhes, começou a dizer:
Olhai que ninguém vos engane;" ( Mc 13:5 ).
.Quando era pequeno, lá pelos meus 10, 11 anos, no interior de São Paulo, os meus amigos queriam só saber de futebol. Alguns, mais avançados para a idade, queriam saber já das menininhas que começavam a aparecer aos seus olhos como mais um dos regalos da vida. Eu não. Eu já queria mais, queria derrubar o governo. Vivíamos lá nos idos da revolução e eu, ao ver todo aquele ódio contra os "terroristas", jargão oficial usado para definir os que simplesmente, discordavam daquela bandalheira toda e autoritarismo, promovido pelos que tomaram de assalto a nação; desconfiava que algo ruim acontecia e nada que encontrasse eco na Palavra de Deus que, por aquela altura, já se fazia claridade ao meu coração. Quando cheguei aos 14, quando Jesus revelou-se a mim como mais do que religião e crendice de família, o meu pai, coitado, respirou aliviado ao pensar que o temor de ter um filho bandeado para os lados dos "que comiam criancinha" (no sentido literal do termo), o lado dos terroristas-comunas-safados, inimigos de Deus e da pátria, como queiram que se denominavam os que insistiam em andar à margem das leis - de exceção é bom que se diga - naqueles tempos difíceis. Ledo engano o do meu velho. Com o Evangelho no coração e a solidariedade ao pobre, ao marginalizado e desprezado que brotava do meu coração transformado, fiquei ainda pior. Dos cartoons que insistia em por - ou tentar a por nos jornaisinhos de colégio ou do cursinho, passei a reunir-me com toda gente que dizia não ao opressor, ao inquisitor, viesse ele de onde viesse. Eu cresci, o país mudou, o mundo mudou... (tirando Honduras onde um punhado de militares insistem na desgastada fórmula de usar aquilo que são de pior - forças e armadas - estão a tentar divulgar a sua "versão oficial" da história) continuo o mesmo. Ou talvez pior. Mais velho e mais mau-criado. E inimigos não faltam contra quem lutar. Aos inimigos que insistem em fazer da cruz algo de que usar para roubar e tirar proveito em detrimento dos outros, vai agora a minha indignação feroz. Não dá para calar-me e fazer como fazem as pessoas na sala de jantar (e nas igrejas) "ocuparmo-nos em nascer e morrer"... Já disse, dia desses a um irmão que tem feito aqui em Portugal, apologia (cristã, imagine) do nazi-fascismo: "na minha mesa, rapaz, cabem prostitutas, bêbados, gente que faz aborto, pecadores vários, mas aquilo não é mesa da "mãe-joana". Tenho princípios, meu velho. Lá não cabem os que dizendo-se irmãos, são guiados de um espírito usurpador, roubador, presunçoso que se acha mais do que outros e que explora, "costurando o véu que a cruz já rasgou", que pretendem capitaniar, controlar, explorar o que é livre, vendendo a graça que veio, de graça, do sacrifício de Cristo". Para esses, os picaretas falsos-apóstolos-profetas-evangelistas-pastores-doutores, por quem não oro, confesso, e nutro o mais profundo desprezo, vai o meu cartoonzito de hoje.
E aproveitem, porque hoje estou calmo.