...Quando se fala em capital, pensa-se fundamentalmente no capital monetário e financeiro. Evidentemente, também este é um capital simbólico, mas hoje é o dominante, acabando por subordinar os outros. O capital de consumo situa-se no mundo da vida, está ao serviço da vida e da produção de meios para o consumo, bem-estar e desenvolvimento da humanidade. Há um capital monetário ligado à produção e distribuição do poder, isto é, das relações sociais, no quadro dos valores humanos e da democracia, da distribuição dos meios que permitem a realização dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, num plano ético.
O problema maior é que nas últimas décadas se foi dando o triunfo do capital financeiro, sobretudo na sua vertente neoliberal, desligado da produção de bens materiais e da distribuição de bens sociais, para se transformar em fim em si mesmo, sem atender à vida das pessoas e acima dos próprios Estados, que devem garantir os direitos humanos e a igualdade dos cidadãos. Fim em si mesmo, domina os próprios mercados, que "já são mercados do capital".
Encontramo-nos diante do "perigo de um monoteísmo do capital financeiro, que aparece assim como o único Deus do nosso mundo. Um capital por cima da produção de bens e da administração da justiça dos Estados, um capital sem normas éticas, sem outra finalidade que não a do desenvolvimento do próprio capital nas mãos de poderes financeiros frequentemente sem nome."
Este capital toma conta de todos os outros, a começar pelo capital ético, e está na base de uma guerra em curso, que custa milhões de vítimas.[...]
Anselmo Borges in Diário de Notícias online