Que designação óbvia pode atribuir-se a alguém que, tendo a responsabilidade de prover o bem-estar e o desenvolvimento e assegurar um futuro ao povo que o elegeu ( mesmo que tenha sido eleito apenas por uma ínfima parte desse povo ) com base nas promessas feitas, faz precisamente o oposto, renegando o programa político e de governo apresentado antes do acto eleitoral, agravando as condições de vida, espoliando as famílias, os velhos, os trabalhadores, negando o futuro a crianças e jovens, aplicando programas de criminosa destruição sócio-económica e do país em geral ? Sim, que designação pode aplicar-se a alguém que se ocupa em implementar e impor a vontade de governos estrangeiros dentro do seu próprio país e indo mesmo muito mais além do que aquilo que esses governos lhe exigem ? Ocorrem-me algumas designações, mas a mais óbvia, a que me surge assim de repente é a de anti-patriota.
Um anti-patriota é alguém que não gosta do seu povo, que não o estima nem protege, que colabora activa e/ou passivamente na sua destruição, que o explora ou que permite a sua exploração em proveito de declarados interesses de grupos de vampiros económicos internos e externos, que o expõe à ignomínia do empobrecimento calculado e executado premeditadamente. É isto, e muito mais, um anti-patriota, mesmo se na lapela insiste em usar emblemas da bandeira nacional que desrespeita com as suas atitudes e palavras. São assim, Passos Coelho e os seus apaniguados, anti-patriotas. Gente que não respeita o seu país, a sua pátria, o povo de onde emerge e que, em nome de um qualquer programa de ajustamento, que já poucos defendem lá fora, se obstina em aplicar até às últimas consequências, que só podem ser trágicas, a receita da destruição. Se deixarmos que continuem a sua acção, só pararão quando já nada mais restar, quando todo o país estiver hipotecado e destruído, quando o povo se arrastar pela lama sem forças para lutar mais em prol de um sonho colectivo que tem já novecentos anos.
Portugal neste momento está realmente tomado por forças anti-patrióticas. O episódio do içar da bandeira no 5 de Outubro foi premonitório e, quiçá, revelador. O país só pode ser, nesta fase da sua história, comparado à França de Vichy, governada pelos colaboracionistas e anti-patriotas Pétain e Laval . Um e outro acabaram condenados à morte por alta-traição à Pátria. Este foi o destino escolhido pela França liberta para os colaboracionistas de Vichy que desonraram o seu povo ao aceitarem uma tutela estrangeira que só ansiava pela destruição da pátria francesa. Sorte idêntica teve também Miguel de Vasconcelos em Portugal, na revolução que em 1640 restaurou a pátria portuguesa e a libertou da tutela castelhana. Bem sei que hoje existem tribunais e que, felizmente, Portugal aboliu há muitos anos a pena de morte, mas pode um grupo de anti-patriotas sair incólume desta aventura ignominiosa a que sujeita um povo inteiro sem ser julgado e severamente punido pelos seus tresloucados actos ?
Jacinto Lourenço