...Em Setembro de 2013 está previsto o regresso ao mercado primário para nos financiarmos. Estaremos então com uma dívida pública da ordem dos €200.000M. Mas, com a economia de pantanas, as populações revoltadas e as agências de ‘rating’ a classificarem-nos como “lixo”, alguém acredita num cenário destes? Alguns ingénuos ainda olharam para o BCE como uma saída possível no mercado secundário. Mas Mario Draghi foi claríssimo: ou reconquistamos o “acesso total” ao primário ou não há nada a fazer.
A gestão de uma dívida envolve dois pagamentos: o capital e os juros. Sobre o capital, estamos conversados. Mas vale a pena reflectir um pouco sobre os juros. Não conheço a estrutura da nossa dívida, e muito menos a taxa de juro implícita. Mas admitamos que é da ordem dos 5% ao ano: com uma dívida de €200.000M, os juros sobem para os €10.000M anuais. Ou seja, o endividamento é de tal ordem que não nos deixa espaço para excedentes orçamentais. Lamento dizê-lo, mas nem os juros vamos conseguir pagar.
Com isto chegamos ao actual modelo de gestão. Parece evidente que o modelo da ‘troika’ – massacrar primeiro para aliviar depois – é de uma estupidez sem limites. Mas também é verdade que o Governo achou óptimo, propondo-se mesmo ir além do que a própria ‘troika’ exigia. Nunca ocorreu a estas cabecinhas tontas o que, nesta fase, seria realmente prioritário: investir, empregar, crescer. O resultado está aí, nesta monstruosidade social. A imagem que me ocorre é a de um país destroçado gerido por um bando de loucos.
Por amor de Deus, parem!
Daniel Amaral
In Diário Económico online