quinta-feira, 19 de novembro de 2009

19 de Novembro - Dia Internacional da Filosofia

( Foto jornal I )

Elogio da educação filosófica
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Sei que há pouca gente a dar por isso, mas hoje é o Dia Internacional da Filosofia. A data em si, determinada pela UNESCO para a terceira quinta-feira de cada Novembro, é irrelevante. Mas o dia serve para recordar a importância da educação filosófica na formação dos jovens e dos cidadãos. Aprender a filosofar significa, antes de mais, ser capaz de levantar as grandes interrogações da humanidade: o mistério da existência, o alcance do nosso conhecimento, a possibilidade da transcendência, a estrutura da realidade sensível, a destrinça entre o bem e o mal, a definição de uma sociedade justa, a justificação dos direitos do homem, etc. Mas significa também - e sobretudo - ser capaz de tratar estes e outros quesitos de um modo informado, em diálogo com as ciências e as humanidades, com espírito analítico, rigor argumentativo e abertura de espírito. Temos de reconhecer que, muitas vezes, este ideal não tem sido alcançado no ensino da filosofia. Na nossa tradição, a filosofia confundiu-se demasiadas vezes com uma retórica vazia, ou com a mera arqueologia das ideias do passado. Mas Platão, Tomás de Aquino, Kant ou Rawls não têm culpa nenhuma disso. Ainda que não estando sempre à altura das suas responsabilidades, o exercício filosófico, quando honesto e exigente, desempenha um papel fundamental no esforço colectivo para pensar com a maior clareza possível as questões que mais importam. Na semana passada, o filósofo inglês Anthony Kenny realizou uma palestra no Instituto de Estudos Políticos da UCP, sobre "A Ideia de Universidade". Na sua prelecção, Kenny enfatizou a importância da educação filosófica, muitas vezes associada àquilo que se chama nos Estados Unidos os "Liberal Arts Colleges". Nestas instituições, os alunos fazem licenciaturas plurais, com um pouco de ciências formais e naturais, um pouco de humanidades e história, e travam conhecimento com as grandes questões filosóficas e as teorias que as abordam. Só depois seguem percursos mais específicos e profissionalizantes, na gestão ou na economia, na medicina, no direito, etc. Infelizmente, a estrutura curricular do ensino universitário em Portugal não permite acolher esta tradição das "Artes Liberais" e a inserção da filosofia numa formação geral dos jovens - numa "paideia", como diziam os gregos. No entanto, a filosofia no ensino secundário, quando leccionada por professores talentosos, pode propiciar o despertar intelectual dos adolescentes. Da mesma forma, a filosofia ao nível da licenciatura pode conferir uma capacidade de inquirição e análise conceptual que se costuma revelar especialmente útil a todos aqueles que, depois, fazem estudos noutras áreas ou se lançam no mercado de trabalho. Por fim, a filosofia tem um valor especial na construção da cidadania. Nos tempos que correm, precisamos mais do que nunca da radicalidade da filosofia, da sua capacidade para pôr tudo em causa e conferir novos fundamentos à esperança.
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Por : João Cardoso Rosas
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In Jornal I de 19 de Novembro de 2009