A terrível doença dos que não suportam as diferenças
Procusto, segundo a mitologia grega, era um famoso salteador que agia entre Mégara e Atenas. Atacava os viajantes, despojava-os de seus bens e submetia-os a cruel suplício. Forçava-os a se deitarem em um leito que nunca se ajustava ao seu tamanho. Cortava as pernas dos que excediam a medida e, por meio de cordas, esticava os que não a atingiam. Ficou conhecido como "aquele que estende". Essa faceta trágica por trás de uma "hospitalidade" ilusória ainda é encontrada em muita gente na conturbada atualidade. O mal de Procusto é encontrado nos esforços para anular todas as diferenças. É preciso entender que existem diferenças que podem e precisam ser, equilibradamente, celebradas. Infelizmente, grande parte da igreja hodierna carrega neuroses em relação ao diferente. É comum encontrarmos pessoas estigmatizadas por suas diferenças: mães solteiras, viúvas, pobres, ou até mesmo, as diferenças geradas pelas guerras das denominações, o conflito imposto pelos adeptos de "novas" visões, das teologias asfixiantes do legalismo. Diferenças que geraram traumas, marcas profundas, feridas na alma. A base para a celebração das diferenças está no respeito, na ética que eleva o outro e o recebe como amigo na alma. Existem diferenças fundamentais que precisam ser combatidas por causa do mal que trazem, como por exemplo, a mentalidade racista, preconceituosa, os desvios de caráter que podem comprometer a saúde da alma. Diferenças letais. Não são essas diferenças doentias que quero abordar, mas as sadias, aquelas que nos conferem singularidade, e por isso mesmo estão sendo novamente roubadas pelo mal de Procusto. Procusto hoje é o radicalismo do "é assim que é, e pronto!" É a tendência de "esticar e cortar" o que destoa do meu modo de ver a vida até que o indivíduo tenha a cara que eu quero. Quando a igreja age assim, adultera o sentido bíblico do Cristo - ele celebrava as diferenças! Basta olhar o grupo de discípulos que ele escolhe: de trabalhadores a cobrador de impostos, gente das diferenças. Gente escolhida não por ser uma eterna igualdade da massa informe, mas por ter a capacidade de ser-quem-é. Na atualidade, há uma gama enorme de pessoas marcadas, gente com uma história de dor pra contar. Essas pessoas foram à igreja em busca de abrigo e descanso para a alma, mas encontraram a terrível cama de ferro do legalismo e o Procusto das teologias ditatoriais. Deus não instituiu uma máfia eclesiástica, Ele instituiu uma igreja - gente simples celebrando as diferenças em amor. A igreja é feita das diferenças. Famílias diferentes, de lugares diferentes, com problemas diferentes - ninguém é igual. O que precisamos aprender com Cristo - o Mestre da sociabilidade - é a virtude de enxergar o outro como irmão e ajudá-lo a crescer independentemente de sua formação, posição social (o lixo das diferenças de classe) ou a cor da pele. A igreja pode celebrar as diferenças porque Cristo as celebra. Procusto, segundo a mitologia, foi morto por Teseu, que infligiu-lhe o mesmo martírio que ele infligia às pessoas. O que aprendemos aqui é que a "Lei da Semeadura" (o que plantarmos, colheremos) também se aplica a esse comportamento. Aqueles que atropelam as diferenças serão atropelados por elas mais tarde. Que Deus nos ajude a celebrar diferenças, a "suportar uns aos outros em amor" (Ef.4.2), e crescer em unidade, intimidade e carisma. Somente assim poderemos ganhar as nações para o abraço de Cristo. Até mais...
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Por Alan Brizotti
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Via Hermes Fernandes