Ontem, os telejornais da noite mostraram uma cena de pancadaria ocorrida no interior de um estúdio de uma televisão grega a meio de um debate político em directo e entre representantes de alguns partidos de esquerda e direita. Ocorreu-me então este texto das Memórias da Segunda Guerra Mundial, de Winston Churchill, que acabei de ler. Já passaram umas décadas desde que o antigo primeiro-ministro britânico o escreveu, mas parece ter sido redigido agora:
Os gregos rivalizam com os judeus como a raça mais política que existe no mundo. Por mais desesperadas que sejam as circunstâncias ou por mais grave que seja o perigo que o país corre, isso não os impede de se manterem divididos numa pletora de partidos, com muitos líderes a lutarem entre si com vigor desesperado.
Diz-se, e muito bem, que onde quer que haja três judeus, encontrar-se-á sempre dois primeiro-ministros e um líder da oposição. O mesmo é verdade para aqueloutra famosa e antiga raça, cuja tempestuosa e interminável luta pela vida já vem desde os princípios do pensamento humano. Não há outras duas raças que tenham deixado marca mais profunda no mundo. Ambas mostraram uma capacidade de sobrevivência, apesar dos incontáveis perigos e sofrimentos causados por opressores externos, só igualada pelos seus próprios intermináveis feudos, querelas e convulsões internas.
A passagem de vários milhares de anos não alterou de modo algum as características de cada um destes povos nem diminuiu as suas provações ou vitalidade.
Sobreviveram, apesar de tudo o que o mundo fez contra eles, e o que eles fizeram contra si próprios. Cada um à sua maneira tão diferente deixou-nos a herança do seu génio e sabedoria. Nenhuma outra cidade foi tão importante para a humanidade como o foram Atenas e Jerusalém. As mensagens que nos transmitiram em termos de religião, filosofia e arte têm sido as principais luzes que guiam a fé e a cultura modernas. Séculos de domínio estrangeiro e indescritível e interminável opressão não os aniquilaram nem os transformaram; no mundo moderno, continuam a ser forças vivas, comunidades activas, onde as querelas internas perduram com vivacidade insaciável. Pessoalmente, sempre estive do lado de ambos e sempre acreditei na indestrutibilidade daquelas duas raças que, penso, sobreviverão sempre às lutas internas que as caracterizam e às forças do mundo que ameaçam a sua extinção. [...]
Winston Churchill
in Memórias da Segunda Guerra Mundial, pág. 931. Ed. Texto