Dia 17 de Junho, quando se realizarem de novo as eleições gregas, muito mais estará em causa do que aquilo que qualquer um de nós possa supor. As diversas sondagens que semanalmente se vão realizando naquele país não têm sido esclarecedoras quanto aos resultados que se podem esperar sobre quem irá sair vencedor na Grécia. Nova Democracia, da direita, e Syriza, da esquerda, revezam-se, a fazer fé nas sondagens, como candidatos ao podium enquanto possíveis vencedores.
Há diversas verdades que saltam à vista em toda esta tragédia grega que nos tem entrado diariamente casa dentro. Em primeiro lugar o que está evidente há muito tempo é que a democracia está confiscada na Grécia e um pouco em toda a União Europeia. É sintomático que as instâncias europeias e o próprio FMI estejam permanentemente a "ameaçar" os gregos com a saída do Euro se estes não votarem nos partidos políticos que defendem a continuação da miserável austeridade que lhes está imposta e que conduz, a continuar assim, a Grécia para um abismo de que não terá retorno nas próximas décadas. A curiosidade deste facto está em que a União Europeia quer que os gregos votem maioritariamente nos partidos que levaram a Grécia, nos últimos trinta anos, à situação em que se encontra e que, por arrasto, trouxe olímpicos problemas à zona euro. É por isso tanto mais incompreensível que os poderes europeus queiram manter os corruptos de sempre à frente do governo da Grécia. A quem é que isso pode interessar ? De certeza que não é ao povo grego. Por outro lado, os senhores da Europa pressionam os gregos para que não votem nos partidos à esquerda do Partido Socialista ( Pasok) pois aqueles são manifestamente contra as condições miseráveis e humilhantes em que o povo se encontra no estado helénico e, ao que dizem, pretendem reformular as condições do resgate para que seja possível recuperar a sanidade social e económica do país. Esta esquerda que emerge, não me parece saber também muito bem o que pretende fazer em caso de vitória. Para mim, observador à distância, mas não desinteressado, a única verdade disto tudo é que a democracia se expressa pela vontade do voto popular vá ele em que direcção for. Como europeu preferia que os governos europeus tivessem à sua frente gente séria e que zelasse, seria e honestamente, em primeiro lugar, pelos interesses dos povos. O povo grego, e a Europa, estão assim encurralados. E quando se está encurralado e as opções de fuga são uma parede, os resultados são imprevisíveis.
Posto isto, a União Europeia, e o FMI, e igualmente a Alemanha, o que pretendem é que se mantenham no poder os bandidos que sempre lá estiveram desde que a Grécia saiu da ditadura militar e que, pelos vistos, são os únicos em quem a Europa de Merkel confia para que o saque aos gregos tenha êxito, e para isso utilizam uma linguagem agressiva, e até ofensiva para com a Grécia, afim de levar a água ao seu moinho. Todos percebemos que quem pactua com bandidos só pode ser bandido e esse é o papel que União Europeia, Alemanha e FMI têm assumido no problema grego e europeu.
Derrubam-se governos e substituem-se por outros não sufragados pelo voto popular, proibem-se referendos, ameaçam-se e constrangem-se nações quanto ao resultado das consultas populares, que terão que ser de feição aos interesses dos senhores da Europa, tudo com um objectivo: permitir que o saque financeiro dos povos europeus continue a realizar-se pontualmente sem interferência nem expressão da vontade das populações. A democracia está aprisionada e refém de Berlim guardada pelos esbirros da UE e FMI, e Merkel a certificar-se de que os fluxos financeiros entram nos seus cofres, cada vez mais robustecidos. E venha alguém que ouse contrariar esta gente que confiscou, impune e literalmente, a democracia na Europa. Os resultados de referendos e eleições têm que ser os que eles querem e, se não forem, realizam-se novos referendos ou eleições até que o voto do povo vá no sentido da canina obediência à vontade suprema da UE ( leia-se Alemanha ), isto, claro, depois de muita chantagem política e económica pelo meio.
Feitas as contas, desde que estalou a crise em 2008, já se efectuaram 24 cimeiras para a resolver. O resultado dessas 24 cimeiras, uma após outra, tem sido sempre a piorar para os países, e mais valia, a observar pelos resultados, que elas não se tivessem realizado...
Espanha e Itália estão agora mais perto do resgate do que nunca estiveram, com todas as consequências que se adivinham. Mariano Rajoy não tem já soluções internas para poder dar a volta ao monstro económico que devora Espanha. Bate a todas as portas e, de cada vez que bate, bate também contra a vontade da Alemanha em permitir encontrar soluções credíveis e aceitáveis. É que as soluções credíveis para os restantes países europeus não interessam à Alemanha que se sente perfeitamente confortável com os bolsos cheios. A mim, que não sou político nem economista, parece-me que a Alemanha tem duas agendas políticas e económicas distintas. Uma em que como membro da UE beneficia desse facto e surge forte numa economia global onde pode exportar à vontade sem que os países europeus lhe façam sombra, a outra agenda complementa esta e assenta na necessidade de contar com um euro credível e expurgado das economias débeis, ou, no mínimo, controladas economicamente, como faz, aliás, para poder aparecer aos olhos dos mercados internacionais como o único país credível, seguro e forte em que vale a pena apostar dentro da UE. Toda a gente vê isto, este papel de prestidigitador da sra. Merkel, mas ninguém ousa denunciá-lo de viva e alta voz com medo das consequências.
Espanha e Itália estão agora mais perto do resgate do que nunca estiveram, com todas as consequências que se adivinham. Mariano Rajoy não tem já soluções internas para poder dar a volta ao monstro económico que devora Espanha. Bate a todas as portas e, de cada vez que bate, bate também contra a vontade da Alemanha em permitir encontrar soluções credíveis e aceitáveis. É que as soluções credíveis para os restantes países europeus não interessam à Alemanha que se sente perfeitamente confortável com os bolsos cheios. A mim, que não sou político nem economista, parece-me que a Alemanha tem duas agendas políticas e económicas distintas. Uma em que como membro da UE beneficia desse facto e surge forte numa economia global onde pode exportar à vontade sem que os países europeus lhe façam sombra, a outra agenda complementa esta e assenta na necessidade de contar com um euro credível e expurgado das economias débeis, ou, no mínimo, controladas economicamente, como faz, aliás, para poder aparecer aos olhos dos mercados internacionais como o único país credível, seguro e forte em que vale a pena apostar dentro da UE. Toda a gente vê isto, este papel de prestidigitador da sra. Merkel, mas ninguém ousa denunciá-lo de viva e alta voz com medo das consequências.
Há quem chame a este estado de coisas, democracia. Aquilo que aprendemos na escola sobre democracia é que os povos escolhem o seu próprio destino e caminho. Admitimos que, dentro da UE pode haver "democracia", mas não esta que nos querem vender por boa. A "democracia" vigente não passa de um sucedâneo de democracia. Esta União Europeia em que vivemos actualmente é uma vergonha e ficará na história como o sistema político que conseguiu impor uma ditadura "validada" pelo voto popular.
É por isso que a 17 de Junho, na Grécia, as eleições podem representar um importante ponto de viragem. Ou os gregos, chantageados e amedrontados, votam nos criminosos que os levaram ao estado em que estão ou atiram uma pedra contra o charco de lodo em que esta Europa se transformou e veremos o que daí pode advir. Mas o que quer que seja, só pode ser, ou não, quanto a mim, mais clarificador do que as 24 cimeiras já realizadas para supostamente resolver a crise económica europeia. É que, nas eleições gregas, não é só a Grécia, o berço da democracia, que está em causa, é a europa, são todos os povos que vivem num regime dito democrático mas em que a democracia, enquanto expressão efectiva da vontade dos povos, está sob confisco aferrolhada em Berlim. Estes são os factos. O Tempo está a esgotar-se para este projecto chamado União Europeia.
Jacinto Lourenço