terça-feira, 5 de junho de 2012

Portugal, o Ambiente e o Abismo



Há dias assim, em que não nos apetece escrever nem dizer nada. Hoje estou num desses dias.

Ouvi na Antena 1, às sete da manhã, que hoje é o "Dia Mundial do Ambiente", e o pensamento fugiu-me logo para o facto de neste velho país europeu plantado à beira do atlântico, o ambiente andar de cortar à faca. Claro que não falo do ambiente, da fauna, da flora, do ar, da água, dos animais, da natureza, dos recursos naturais cada vez mais ameaçados, etc; falo do ambiente social, político, económico, do ambiente nas famílias, como dizia o meu avô, cada vez mais "encalacradas" com a vida. Falo dos desempregados, dos jovens sem expectativas nem esperança, dos trabalhadores sem futuro, dos doentes a definharem por não terem dinheiro para pagar as taxas moderadoras, da austeridade criminosa que se impõe a um país sem soluções que não seja a de tirar aos pobres para dar aos ricos. 

Os bancos portugueses ( depois de receberem mais uns largos milhões ), dizia o ministro gaspar (escrevo o seu nome com letra pequena propositadamente), "são dos mais capitalizados da europa". Sim, claro, pensei eu: e de que é que isso serve aos portugueses se  os bancos vão pegar no dinheirinho  e depois emprestar a juros altos, como convém a qualquer bom agiota, impedindo assim as pequenas e médias empresas de lhe acederem para se desenvolverem ?! Enquanto isso, todos os dias ficam desempregados largas centenas de portugueses, porque todos os dias fecham as empresas onde tinham o seu emprego e de onde sustentavam a sua família, pagavam a casa, a luz, a água, etc. Claro que a  "boa notícia" é que vão deixar de pagar essas despesas caseiras por terem que entregar a casa ao banco; a má notícia, é que mesmo entregando a casa ao banco continuam a não ter dinheiro para sustentar os filhos e acabam por cair na situação de dependência económica de familiares que ainda podem acudir-lhes. É por isso que que se torna intolerável ouvir Passos Coelho dizer que já não estamos à beira do abismo, já que todos vimos que caímos mesmo nele, demos um Passos em frente...

As sondagens hoje publicadas em alguns meios de comunicação dizem que a esquerda  é neste momento maioritária. Mas o que é que isso interessa quando não ouvimos nenhuma ideia capaz vinda dos partidos de esquerda ?!  "Martelar" na direita até eu sou capaz de fazer, o problema são as ideias e as políticas que abram os horizontes a um país cansado de si mesmo, e aí a esquerda não ata nem desata. Ao pé desta esquerda até  algumas vozes mais esclarecidas  da área política dos partidos do governo nos parecem mais radicais.

Confesso que estou cansado. Tinha 20 anos, acabados de fazer, quando se deu o golpe militar do 25 de Abril de 1974. Pensei que, acalmada a fúria revolucionária do PREC, o país fosse assentar e encontrar um caminho de paz e a prosperidade possível no seio da europa. Fiquei contente de ver que aquela meia-dúzia de famílias que tinham dominado Portugal, como se de sanguesugas se tratassem, estavam afastadas, mas nunca pensei que ao cabo de trinta e sete anos os seus filhos netos e bisnetos continuassem a "obra" dos seus ancestrais no país. Ou seja: Portugal continua a ser  devassado pelos mesmos de sempre e alguns novos ricos, clientes dos partidos políticos do zona do poder, que se afirmaram neste país de brandíssimos costumes. Provavelmente temos o que merecemos como povo ao permitirmos que assim seja.

Para os mais jovens, que agora estão confrontados com este "resgate" que nos devora, uma mensagem e um aviso: percam as ilusões, este não há-de ser o último "resgate" da vossa vida. Eu pensava que o primeiro, no final da década de 70 do século passado, pela mão do PS/CDS, seria o único a que assistiria na minha vida, afinal não, e em 1983 viria outro pela mão do PS/PSD, e agora este pela mão do PS/PSD/CDS. Ou seja: os políticos portugueses, do centro e da direita, são viciados em resgates e quem paga as favas somos sempre nós, aqueles que trabalham ou se dão ao luxo de ter algum rendimento, nem que seja o ordenado mínimo nacional.

Eis aqui, pois, a razão do meu enfartamento, da minha azia com Portugal, este país governado por políticos que os portugueses elegem. Era por isso que hoje não me apetecia escrever. O ambiente em Portugal é a causa da minha falta de vontade de ainda me pronunciar sobre o que quer que seja. Se ao menos os políticos tivessem algum decoro nas palavras que utilizam quando se dirigem aos portugueses... Mas nem isso. Para Passos Coelho e o gasparzinho, somos um sucesso, e os bancos os mais ricos da europa... Só é pena  que os portugueses estejam em queda abismo abaixo, mas isso, como já percebemos, é uma questão de somenos para o governo, para a troika e para os bancos, até porque para estes últimos há sempre dinheiro, o dinheiro que é sacado aos portugueses que pagam mais de metade dos seus salários  em impostos.

Jacinto Lourenço