Fico constantemente confuso com a estranha forma como Deus escolhe os seus amigos.
Deus faz algumas escolhas que considero muito engraçadas, ou seja, escolhas que eu não faria necessariamente. Repare, sempre pensei que Deus tinha uma casa enorme em que as pessoas que lhe obedeciam poderiam morar, louvar e ter comunhão com Ele. Do lado de fora ficariam os outros, os que não lhe obedeciam. Eu, é claro, entraria porque sempre fiz a sua vontade, ou pelo menos procurava fazer. Achava que a minha sinceridade podia ser o “passe” para entrar. Mas estava errado.
Deus disse a Moisés em Êxodo 33:19: “Diante de ti farei passar toda a minha bondade, e diante de ti proclamarei o meu nome: O Senhor. Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão.” Dito de outra forma, Deus escolherá os seus amigos e ponto final.
Isto sempre me incomodou. Sou provavelmente tão religioso como qualquer outra pessoa que você possa conhecer . Talvez até mais religioso. Dou aulas de religião num curso de pós-graduação. Coloco-me perante milhares de pessoas e falo sobre assuntos religiosos. Escrevo livros religiosos, faço seminários e programas de rádio religiosos.
Sou muito religioso.
O que me incomoda é que Deus escolhe amar pessoas que não são religiosas, ou que não são tão religiosas quanto eu. Tenho visto que Deus faz, de acordo com o meu julgamento, escolhas estranhas. Ele ama pessoas que eu detesto e tem misericórdia de pessoas pelas quais eu jamais seria capaz de nutrir tal sentimento. Ele move o seu Espírito para além de instituições religiosas e faz amizade com pessoas de quem eu nunca seria amigo.
Whoopi Goldberg, que diz não acreditar em Deus, não é uma das minhas referências como pessoa. Você já assistiu ao filme “Do Cabaret para o Convento” ? É sobre uma mulher, cantora de clubes nocturnos, que está em fuga porque alguns marginais a querem matar. O que faz dessa fuga algo único é o facto de que ela se esconde num convento Católico. A cantora disfarça-se então de freira e torna-se a regente do coral, ensinando as demais freiras a cantar músicas mais animadas e divertidas do que as que geralmente cantavam no convento.
O que chamou a minha atenção nesta história é que, no início do filme, a igreja do convento é velha e composta por pessoas idosas e muito religiosas. A partir do momento em que a cantora/freira começa a dirigir o coral, diversas pessoas marginalizadas (prostitutas, viciados e outras personagens estranhas) começam a frequentar a igreja e a esgotar a sua lotação.
Quando vi esta cena pela primeira vez, comecei a chorar (Quase nunca choro. Sou homem, percebe ?). A minha esposa estava comigo e o seu olhar dizia-me claramente: “Pára com isso! Isto é uma comédia. Não vês que toda a gente no cinema se está a rir por te ver a chorar? Vou-me sentar noutro lugar e fingir que não te conheço.”
No entanto, eu não conseguia deixar de chorar. Quando o filme acabou, questionei Deus sobre a minha reacção peculiar e senti que a sua resposta dizia que o meu choro era sua responsabilidade. Ele estava a falar comigo por intermédio daquela cena.
Resmunguei e disse: “Mas Senhor, logo Whoopi Goldberg ? Não podias ter falado comigo através de Billy Graham ou do papa ?” Não obtive resposta.
Tenho muitas vezes o sonho de que estou em casa, enfim, no céu, sentado à mesa do Senhor preparado para as Bodas do Cordeiro. Ali estão também presentes todo o género de pessoas . Lá está o clero, alguns líderes da igreja e até um ou dois pastores tele-evangelistas. Mas quando olho à minha volta, reparo em adúlteros e vejo também mentirosos e ladrões. Antigas prostitutas e prostitutos, cobradores de impostos e bêbedos. Também vejo ex-homosexuais e pessoas que eu conhecia como viciados em sexo. E, francamente, fico chocado.
Então, nesse meu sonho, ouço uma voz vinda do trono e palavras que me são dirigidas. É a voz Deus, que me pergunta: “ Como é que achas que pudeste vir para aqui ?”. Julgo que Ele está a brincar comigo, mas não tenho a certeza. Geralmente acordo antes de descobrir.
Costumava pensar que o amor de Deus poderia ser logicamente explicado e mensurado. Agora compreendo que o amor de Deus é muito mais profundo do que podemos tentar imaginar.
Houve um tempo em que eu tinha a certeza que podia explicar e defender Deus. Descobri, no entanto, que Ele está além de qualquer explicação e que não precisa de defensores. Ele estava muito bem antes de eu chegar, e ficará muito bem depois de eu me ir embora. Mas, por alguma razão, este grande, assustador e confuso Deus, que escolhe amigos estranhos, resolveu amar-me . Vejo o seu amor em tudo, sem excepção. A questão não é: “Onde está o amor de Deus?”, mas sim “Onde não está o amor de Deus?”.
Por Steve Brown In Cristianismo Hoje
Adaptado ao português usado em Portugal por Ab-Integro