Mais do que tudo, por estes dias, o que verdadeiramente me assusta, não é a economia, a queda das bolsas mundiais, o casamento gay, a eutanásia, o imobiliário, a religião, a política, as fraudes fiscais, a violência urbana ou social em geral, o desamparo dos idosos, o abandono de crianças, a fome, a perseguição, a injustiça, a perda, a saúde, o insucesso profissional ou escolar. Também não me assustam a crise da família nem a violência doméstica, tal como não me assusta a perda de empregos, a bancarrota de países, ou o encerramento de empresas. O que me assusta, em definitivo, é o encerramento dos corações, a ausência do Amor, a desistência de amar e ser amado.
Ontem, quando chegava a casa, após mais uma jornada de trabalho, olhei, por breves instantes, para o aparelho de televisão que debitava informação na minha cozinha, com o jornal da tarde, qual ave de rapina, a recortar-se no crepúsculo do dia, pendurado este no suave dealbar das últimas luminiscências que apressadamente insistiam em se esconder, antes que as trevas as alcançassem.
Não teria sentido tanto e tão profundamente a dor, caso me tivessem dado um murro no estômago, como quando ouvi uma brevíssima entrevista a um jovem adolescente institucionalizado numa casa de reeducação.
Foram duas as perguntas da jornalista, simples, directas e fáceis de responder, embora o jovem não tivesse percebido o alcance de cinquenta por cento do que lhe foi perguntado:
- Já alguma vez te sentiste amado ?
- Não !
- Já alguma vez amaste ?
- Não, tirando “umas curtes”…
Isto sim, assusta-me; assusta-me verdadeiramente a indignidade percebida do ferrete aquecido ao rubro na fogueira da crueza bruta das breves respostas, que não deixam portas abertas, e que nos marca a epiderme da alma, estigmatizando, infinitamente, mais do que podemos imaginar . E, ao contrário do que se pretenda fazer passar, eis aqui, redundantemente exposto, o “drama mater” que cria, sustenta e condiciona todas as crises , pessoais, humanas, particulares, sociais, geracionais, nacionais ou globais, qualquer que seja a escala.
Chegaram então à minha memória diversas citações bíblicas sobre o amor, e o Amor de Deus em particular, e a sua operação no coração de todos os seres humanos, mesmo os que dizem não possuir o dom da fé. Deixo-vos com o capítulo 13 da Primeira Epístola de Paulo aos cristãos de Corinto. O tema é a suprema excelência do Amor:
1-Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
2- E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
3- E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
4- O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, näo se ensoberbece.
5- Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
6- Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
7 -Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8- O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
9 -Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
10 -Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
11- Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
12- Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face;
agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
13 -Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.
Utopia de Deus, dirão uns. Loucura dos homens, dirão outros.
Digamos nós o que dissermos, Só o Amor edifica, só ele produz resultados no coração dos homens.
Só a Cardiologia de Deus faz vacilar e recuar crises!