Muitos de nós, inclusive eu, não soubemos o que é passar, literalmente, por uma guerra, e muito menos por uma guerra de dimensão mundial.
Na 2ª Guerra mundial, perderam a vida cerca de 55 milhões de pessoas, civis e militares.
A loucura de uns e o atavismo de outros, dirigentes politicos da altura, trouxeram, até à actualidade, para este palco sangrento do mundo, que é a Europa, duas guerras mundiais. É verdade que noutros palcos, noutras latitudes, se representou esta tragédia, mas foi na europa que confluiram, em grande parte, as forças opostas.
Aliados, alemães, japoneses, americanos, canadianos, australianos, neo-zelandeses, ingleses,franceses, são algumas de entre tantas outras nacionalidades de soldados que perderam as suas vidas em defesa de ideais que, na maior parte dos casos, nunca chegaram a entender. A morte não perguntava por quem lutavam ou porquê lutavam, quando vinha no seu encalço, nem qual o seu ideal. Simplesmente ceifava-os, jovens e menos jovens. Famílias, países, nações, foram destroçados em nome da barbárie ou contra ela.
Talvez que a maior parte das gerações de hoje não tenham sequer ouvido falar do dia 06 de Junho de 1944 e do que aconteceu nas praias da Normandia, em França, nesse dia, e não tenham percebido muito bem o que é que Obama celebrava com Sarkozy, na semana que passou. No entanto é bom que todos saibam que ali perderam a vida, num só dia, milhares de soldados, combatendo por países que não eram o seu, numa guerra por ideais que desconheciam.
É bom que, pelo menos, saibamos porque ideal combatemos e se ele está em linha com a nossa dignidade e a do nosso próximo.
Se não nos conseguimos furtar a todas as guerras, pela via do diálogo, travemos então aquelas que tenham em vista combater todo o tipo de barbárie que ofenda gravemente a nossa dignidade e do nosso próximo.
Lembremos que é sempre preferível não deixar que loucos, déspotas ou ambiciosos tomem a nossa liberdade como sua possessão. Foi essa a lição do dia 06 de Junho de 1944: o alto preço que teve que ser pago para recuperar algo que se deixou perder em nome "de uma certa diplomacia" de uma certa paz podre.
Quando a vida, a dignidade e a liberdade estão em jogo, é sempre melhor evitar desembarques furtivos em praias falsamente calmas, à espera de poder surpreender o sono dos maus; é que eles vigiam o horizonte da sua intranquilidade. Não dormem e estão sempre dispostos para a arquitectura da maldade que trave as naus da liberdade trazidas por madrugadoras ondas favoráveis. O mais razoável, a fazer em tempo útil, é impedir que construam "bunkers" de mentira, e falsidade. Depois de lá instalados, o preço a pagar para os desarraigar será sempre dramaticamente mais elevado. A linha da praia é deles. Os inocentes serão sempre alvos fáceis para um farisaico sacrifício a manchar a areia de vermelho.
Chegamos a cansar-nos da história por ela repetir os erros de quem tem sempre de ser herói para os poder apagar.
Jacinto Lourenço