Embora haja em Deus a disposição em perdoar o ser humano por seus deslizes, há uma condição essencial que deve ser preenchida pelo ofensor: o arrependimento. Antes da Cruz, cabia ao pecador penitente oferecer a Deus um sacrifício para cobrir a sua culpa diante de Deus. Tais sacrifícios eram necessários para que o pecador reconhecesse a gravidade do seu pecado. Eles, porém, não tinham poder de remover o pecado, apenas cobri-lo. Já o sacrifício de Jesus foi poderoso o suficiente para remover nossos pecados de uma vez por todas, oferecendo a Deus uma base perfeita para que pudéssemos ser inteiramente perdoados. Portanto, a base sobre a qual somos perdoados é o sacrifício de Jesus, e não algum tipo de penitência que possamos fazer para compensar o nosso erro. A única coisa que se exige do pecador é que ele se arrependa do seu erro.
Da mesma forma, Deus estabeleceu o arrependimento como uma condição para que o ofensor seja perdoado por aquele que foi ofendido. Jesus disse:
“Olhai por vós mesmos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes no dia vier ter contigo, e disser: Arrependo-me; perdoa-lhe.” (Lc 17.3-4)
Caso o ofensor não se arrependesse, e não pedisse perdão, a parte ofendida não estaria obrigada a perdoá-lo. Não importaria quantas vezes a ofensa fosse praticada, contanto que o ofensor se arrependesse de coração.
Assim como deve haver em nós a disposição de perdoar, devemos nos dispor a pedir perdão quando ofendemos alguém.
Se magoarmos alguém conscientemente, e não formos capazes de nos arrependermos, e pedirmos o seu perdão, nossa comunhão com Deus estará comprometida, e não teremos paz em nosso coração. Por isso Paulo insiste: “Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Rm 12.18). E a paz tem um preço: o perdão mútuo. Temos que estar dispostos a sacrificar o nosso orgulho e perdoar, como também pedir perdão quando necessário. Tudo isso em nome da paz!
Mesmo que o nosso ofensor não se arrependa, embora não sejamos obrigados a perdoá-lo, melhor é que o perdoemos. Quando guardamos mágoa contra alguém, quem mais sofre com isso somos nós mesmos.Às vezes encontramos pessoas que acham que podem sair por aí ofendendo uns e outros, sem se preocupar em ter que pedir perdão a ninguém. Estes acham que basta confessar a Deus, e serão perdoados.
A verdade é que devemos confessar os nossos pecados àqueles que foram ofendidos. Se pecamos contra Deus somente, é a Ele que devemos confessar, e a ninguém mais. Porém, se o nosso pecado atingiu a mais alguém, não adianta confessar só a Deus. Temos que confessar nosso erro à pessoa a quem ofendemos. Por isso Tiago nos aconselha: “Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados” (Tg 5.16). Quando confessamos somente a Deus um pecado que atingiu a mais alguém, somos perdoados por Deus, porém, não somos curados daquela ferida. Esta ferida aberta é que compromete a nossa comunhão com Deus e com os irmãos. Mas quando confessamos nossos pecados a Deus, e àqueles que ofendemos, somos curados, e nossa comunhão é restabelecida.
Todo mundo sai perdendo com a falta de perdão. Tanto o que não foi perdoado, quanto o que reteve o perdão.
Há aqueles que dizem que não são obrigados a perdoar a ninguém, pois só Deus teria poder de perdoar pecados. Trata-se de uma evasiva muito usada hoje em dia. Porém não devemos nos esquecer que Esse Deus vive em nós através do Seu Espírito Santo, capacitando-nos a perdoar como Ele. Ao despedir-Se dos Seus discípulos, João diz que Jesus assoprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles aos quais perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; aqueles aos quais não perdoardes, ser-lhe-ão retidos.”(Jo 20.22-23)
Diante disto, não podemos nos desculpar dizendo que somente Deus pode perdoar. Temos a obrigação de ser veículos deste perdão. Afinal, não recebemos o Espírito Santo só para sentirmos sensações maravilhosas e falarmos em línguas! Recebemos o Espírito para capacitar-nos a fazer o que de nós mesmos jamais poderíamos fazer.
Temos tanto o poder para perdoar, quanto para reter o perdão. Quando o retemos, estamos dentro do nosso direito de fazê-lo, entretanto, criamos uma ferida no Corpo de Cristo. Não podemos pôr em risco a comunhão que temos com Deus e com os irmãos por causa de uma mágoa. Se nos é custoso perdoar a alguém nos magoou, muito mais custoso foi para Deus perdoar todas as nossas falhas. O perdão de todos os nossos pecados custou a vida do Seu Filho Amado.
Portanto, não usemos do direito de reter o perdão, mas disponhamo-nos a perdoar, mesmo àqueles que não forem humildes o bastante para confessarem e se arrependerem do mal que cometeram.
Hermes Fernandes
Via Púlpito Cristão