sábado, 27 de junho de 2009

A Fama não cria deuses...

A fama é o pecado de se tornar importante para alguém que você não conhece e que não conhece você. Diz-se da pornografia que ela é degradante para os homens e mulheres que se despem e se rebaixam ao sexo explícito em benefício do espectador. Porém o segredo da pornografia, a verdadeira chave de sua atração e de sua consagração, está em que ela é tão degradante para o espectador quanto para o envolvido na sua produção. Nada há de inerentemente humilhante ou atraente no sexo, mas a pornografia oferece um pacto mútuo de desumanização, e nisso reside o seu apelo. A fama e a pornografia são indistinguíveis nisso, no que fornecem um mesmo acordo de desumanização entre produtor e consumidor, entre artista e espectador, entre famosos e fãs. Absolutamente ninguém encarnou melhor essa potência do que Michael Jackson, o homem mais irresistível do mundo, o rapaz bonito que se desfigurou publicamente porque, muito evidentemente, nós o desfiguramos. Agora que a Fera está morta podemos reconhecer, como numa reviravolta muito rasa de Shyamalan, que os desfigurados somos nós, porque adoramos um homem que não conhecíamos e o destruímos no processo. A fama não cria deuses, só cria bodes expiatórios.