Mulher de rara beleza e extrema inteligência (filósofa, astrónoma e matemática), que foi assassinada, em 415, devido a disputas religiosas que ocorreram em Alexandria, fundada por Alexandre, o grande, e famosa por sua biblioteca e museu, quando o Egipto era governado pelos romanos.
Na verdade, Hipácia foi condenada devido a uma disputa de egos e política entre o novo patriarca de Alexandria (412), São Cirilo de Alexandria, um ferrenho combatente de heresias e Orestes, o governador romano da cidade e que fora aluno de Hipácia. Ele protegia-a dos cristãos, que torciam o nariz face à sua inteligência e identificavam o paganismo na sua figura, justamente por, já à época, simbolizar o conhecimento e a ciência. Inventou o astrolábio e o densímetro.
"Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e a base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. A última cientista foi uma mulher, considerada pagã. O nome era Hipácia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciência, e devido a Alexandria estar sob domínio romano, após o assassinato de Hipácia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época." (Carl Sagan)
Além do invejável intelecto, Hipácia mantinha uma rotina de exercícios físicos que lhe garantia um corpo perfeito e sadio. Antecipando em dezenas de séculos o perfil da mulher moderna. Em sua época, as mulheres mal podiam sair de casa e deveriam apenas prover herdeiros para os homens, sem terem direito ou acesso ao conhecimento. O responsável por ela ter sido essa extraordinária mulher foi seu pai, o filósofo Teon de Alexandria, director do museu de Alexandria, que a instruiu e afirmava que deseja que sua filha fosse um ser humano perfeito. Em favor de seu desenvolvimento intelectual, consta que Hipácia não aceitou diversas propostas de casamento.
Em setembro de 2009 deverá estrear uma produção internacional dirigida pelo chileno Alejandro Amenábar (Mar adentro), estrelada por Rachel Weisz, vencedora do Oscar, que interpretará Hipácia no filme Ágora.
Um drama histórico fixado no Egipto romano, sobre um escravo que viu na crescente onda do cristianismo a esperança de liberdade, e se apaixona por sua mestra, a famosa filosofa Hipácia de Alexandria.
Hoje discute-se até que ponto ciência e religião estão unidas ou não. Eu, particularmente, acredito que uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa. Quando a religião se mete na ciência, o resultado não é dos melhores e vemos algumas barbaridades acontecerem ou serem ditas, como as asneiras do actual Papa, o Bento XVI.
Que a Igreja Católica nunca foi amiga da ciência todos nós sabemos e exemplos de perseguição a cientistas e pensadores, além da ocultação de factos científicos que poderiam colocar o seu poder em cheque, não é novidade(…).
Mas, voltando ao assunto religião versus ciência, percebo que a coisa não é nova e por causa dela, Hipácia, a primeira mulher realmente cientista da história, foi assassinada durante uma revolta cristã em Alexandria, quando o Egipto estava sob o domínio romano, no século IV d.C., e devemos lembrar que neste mesmo século ocorreu o primeiro Concílio de Nicéia (325), quando foram fundadas as bases do catolicismo. Hipácia viveu entre 370 e 415. Portanto, tudo em que ela acreditava, visto ser astrónoma, matemática e filósofa ia de encontro às idéias que o Império Romano começara a propagar como suas, desde que Constantino se convertera ao Cristianismo. Sendo assim, ter sido considerada herética foi, infelizmente, o caminho natural para o seu assassinato, que, segundo fontes históricas, aconteceu de forma trágica. Foi torturada até à morte tendo seu o corpo sido dilacerado por conchas afiadas – ou cacos de cerâmica, segundo outras fontes – e depois jogado numa fogueira. Diria que foi quase premonitório das fogueiras da Inquisição que proliferariam séculos depois.
O facto é que, após o seu fim trágico, o mundo ocidental mergulhou num período de verdadeira obscuridade científica.