Desde 1989, fala-se muito do fim da história. Desde que Francis Fukuyama pegou, política e sociologicamente, nos pedaços de cimento e ferros do Muro de Berlim. Já se disse também que a história não merece confiança absoluta, porque quem a escreve são apenas homens.
É nesta perspectiva que me coloco, entre a história dos princípios das Assembleias de Deus, sobretudo no Brasil, o fim dessa mesma história com o surgimento das ditas igrejas neo-pentecostais, e, passe a redundância, a instituição dos Institutos Bíblicos, nem sempre bem aceites pelo pensamento de alguns intervenientes dessa mesma história.
***
O fim da história
No plano bíblico, a história é uma relação de equilíbrio entre as acções dos homens e o senhorio de Deus sobre essa mesma história. Quando no prosseguimento das acções humanas a história trai os desejos de Bem de Deus no que respeita às Suas criaturas, dá-se a catástrofe. «Porque eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal.» (Jer 29,11)
No que concerne ao Novo Testamento, o fim da história é descrito na fórmula vitoriosa da asserção paulina, aos coríntios, com a aniquilação da morte como o último inimigo, o fim da mortalidade. Alguém abriu um número da revista Últimato e escreveu que o fim da história terá chegado quando todos os impérios cairem e a arrogância humana ruir para dar lugar ao Reino dos Céus.
Sobre todos, na superioridade absoluta da sua Autoridade, Jesus Cristo afirmou «os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar».
Mas a preservação dessas palavras como Palavra revelacional, a Palavra de Deus, ainda tem que continuar a ser ensinada. E para isso existem os Institutos Bíblicos.
Institutos Bíblicos
O ensino das Escrituras não é uma orignalidade cristã. A formalidade do ensino persegue, no bom sentido, a Igreja desde a instituição da Sinagoga (do gre. synago, reunir-se), do período exílico dos judeus. Já se viu aqui a circunstância do início da instituição, em Ezequiel(14,1), o ensino pela via do confronto com as inquidades idolátricas e da exortação.
Mesmo no exílio, Deus garantiu que seria para Israel um santuário (Ez 11,16), por extensão teológica e linguística, uma sinagoga para o ensino na perda do Templo. Jesus Cristo ensinou em sinagogas (Mc 6,2), os apóstolos propagaram a Fé cristã a partir de sinagogas. Já foi referido, porventura através de lenda, que existiam mais de 400 sinagogas só em Jerusalém, quando esta foi destruída no ano 70 aD.
Na era moderna e contemporânea, a bela sinagoga da cidade velha de Praga (a Staronová) ainda exibe essa particularidade de o edifício ter sido lugar social e de ensino, para a preservação da Torah. Olhando-a, ainda hoje, vemos nela a porta e as janelas góticas do Céu contra o portão da morte em Auschwitz.
Mas transcorridos os séculos e para arredondar ideias, chegar-se-ia ao ano 1886, no que concerne ao espaço para ensinar as Escrituras Sagradas. O grande evangelista Moody lançaria os alicerces para as modernas escolas bíblicas. Era o Bible Work Institute of Chicago Evangelization Society, um nome comprido que viria a ficar célebre apenas como Moody Bible Institute. O tamanho telegráfico do nome era inversamente proporcional ao seu alcance universal. Moody achava que uma educação centrada na Bíblia produziria um exército de pessoas capazes para a obra da evangelização.
Em 1900 sabia-se e já se dizia que o pentecostalismo moderno tinha nascido dentro de uma escola bíblica, o Instituto Bíblico Betel, de Charles Fox Parham.
Essa escola pretendia aprofundar o estudo da Palavra de Deus sobre o Baptismo com o Espírito Santo.
Diante destes dados históricos, entendamo-nos acerca das reacções fundamentalistas da década de 20, que não eram favoráveis aos institutos bíblicos, aos seminários evangélicos.
***
Reacções do Fundamentalismo
O problema aparente parecia ser a erudição. Há autores evangélicos que referem o compromisso deste ramo do cristianismo histórico com o afastamento da cultura. Embora já tenha sido escrito que o «legado fundamentalista não seja totalmente culpado da f alta de comprometimento com a actividade intelectual » dos evangélicos.
Outras causas houve e que não estão longe da análise sociológica e de uma incompreensível manutenção das comunidades abaixo do nível das classe trabalhadora, pequeno-burguesa e média. Numa frase que tudo tipificava: cultura é pecado.
Muitos líderes com responsabilidades devem ter ignorado as palavras do apóstolo Paulo, num pedido ingente a Timóteo: « traze a capa...e os livros, principalmente os pergaminhos.» (II Tim,4,13).
***
(*) - Coronário Editora Gráfica, 1997, com o apoio da Secretaria de Cultura dao Distrito Ferderal
***
João Tomaz Parreira