A Agência Espacial Europeia lança hoje dois telescópios que vão oferecer uma nova visão sobre o Universo. O gigante 'Herschel' vai estudar galáxias e estrelas, enquanto o pequeno 'Planck' vai olhar para a radiação cósmica de fundo. Um físico português está envolvido nesta última missão e a empresa Critical Software ajudou a desenvolver o sistema operativo.
William Herschel descobriu a radiação infravermelha no séc. XVIII e Max Planck foi o pai da teoria quântica, no início do séc. XX. Em comum, além da paixão pela ciência, têm o facto de terem nascido na Alemanha e darem nome aos dois telescópios que hoje partem a bordo do foguetão Ariane 5, da estação de Kourou, na Guiana Francesa. Pela frente, têm uma viagem de dois meses até ao segundo ponto de Langrange, a 1,5 milhões de quilómetros da Terra, a posição ideal para darem aos astrónomos uma nova visão do universo.
Se tudo correr como previsto, 26 minutos depois do lançamento (previsto para as 16.12 de Lisboa), o Herschel vai separar-se do foguetão Ariane 5 e dirigir-se ao destino final. O Planck vai segui-lo, três minutos depois. Após seis meses de testes, o primeiro começará a sua missão de, no mínimo, três anos. Já o Planck começará os seus 15 meses de observação um mês depois de atingir a sua posição. Duas missões da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).
O Herschel, o maior dos dois telescópios, com um espelho de 3,5 metros de diâmetro, vai observar a luz infravermelha e submilimétrica para investigar como as estrelas e as galáxias se formaram e como evoluem. Irá equipado com o seu próprio sistema de refrigeração, de forma a manter os seus detectores a uma temperatura perto do zero absoluto (273 graus Celsius), através de um sofisticado sistema criogénico, com hélio.
O seu irmão mais pequeno vai analisar a radiação "fóssil" do Big Bang. "Através da observação da radiação cósmica de fundo podemos tentar perceber como foram os primeiros instantes do universo e ainda medir as ondas gravitacionais produzidas pela inflação - modelo cosmológico que prevê uma aceleração na expansão do universo, nos seus instantes iniciais", explicou no site da ESA o físico português Luís Mendes, que participa na missão do Planck.
Há ainda outra contribuição portuguesa: a empresa Critical Software integrou o consórcio europeu que adaptou e qualificou o sistema operativo usado nos computadores de ambos os satélites.
"O Herschel e o Planck são parte da nova geração de observatórios astronómicos. Começámos perto da Terra e, gradualmente, fomo-nos movendo para mais longe. No futuro, a maioria dos observatórios será no espaço profundo, para lá da órbita da Terra", disse à BBC David Southwood, director de ciência na ESA.
Os dois telescópios levaram mais de dez anos a desenvolver e custaram 1,9 mil milhões de euros, sendo este voo o mais valioso da história da agência europeia. "Vamos estar extremamente nervosos até o foguetão estar fora do planeta. Pegamos neste trabalho muito sensível, de alta tecnologia, e colocamos em cima de um grande fogo-de-artifício", acrescentou.
Por Susana Salvador
In Diário de Notícias de 14 de Maio de 2009