Consagrei a segunda-feira desta semana à publicação de alguns textos, no Ab-Integro, que versam temas relacionados com igreja e, naturalmente, com a preocupação dos seus autores quanto aos problemas que a mesma enfrenta na actualidade.
Hoje, ao dar uma saltada ao Canto do Jo, verifiquei que o Jorge Oliveira, tinha uns rascunhos para possíveis Posts, não publicados, porque não desenvolvidos, desafiando-nos ( eu senti-me desafiado ) a que “agarrássemos” algum deles levando-o até onde a imaginação nos permitisse, interpreto eu.
Como sou cristão de formação, génese e combate, pela Graça de Deus, há já uns bons anitos, sempre que falo de igreja há como que uma onda que me varre o espírito e a mente e me impele a botar opinião sobre o assunto. Mas meu querido irmão em Cristo, Jorge Oliveira, está criada, com o seu rascunho, uma dificuldade dialéctico-filosófica ( o palavrão é meu ) que se prende com essa coisa simples de sabermos, hoje, sobre o que falamos quando falamos de igreja ?
Sempre me conheci como parte integrante da igreja desde os meus tenros 17 anos de vida ( a Palavra de Deus diz-nos que somos membros de um corpo do qual Cristo é a cabeça ). Passei por muitas fases do seu desenvolvimento, ( e do meu ) participando activamente ou assistindo interessadamente ao seu crescimento ( e ao meu ) em Portugal e no que isso lhe trouxe de bom e de mau.
Tenho, pelo que deixo dito , uma experiência, não acomodada, de trabalho cristão. Cruzei fronteiras conhecidas e desconhecidas no mais íntimo da minha denominação, sempre a mesma desde o primeiro momento. Atravessei desertos mais ou menos longos e experimentei oásis espirituais mais ou menos densos. Pousei tanto nuns como noutros aprendendo a viver e sobreviver em ambos . Combati, desde sempre, aquilo que Paulo designou como o Bom Combate, sem que a minha carreira tenha ainda terminado, salvo se o meu Deus assim o determinar. Considero que, apesar de tudo, não sou melhor cristão que qualquer outra pessoa que tenha igualmente entregue a sua vida nas mãos de Jesus Cristo e dele tenha passado a depender. Sem nenhuma falsa modéstia, continuarei sempre a achar que não sou o melhor dos cristãos. Sou apenas uma pessoa, sem grandes préstimos, a quem Jesus tem abençoado apenas por mercê da Sua imensa misericórdia.
Habituei-me a ouvir-me dizer aos meus filhos e esposa, e a todos os amigos que me são mais próximos, que a igreja era a “nossa casa”. Quando lá entrávamos, deixávamos cair todas as nossas defesas, as mesmas que levantávamos quando, diariamente, saiamos para os nossos trabalhos seculares ou sempre que tínhamos que nos relacionar com alguém de fora da igreja. Não que tivéssemos a ilusão de que só havia gente boa e confiável dentro da igreja ( se assim fosse, não era necessária a igreja ). Somos cristãos serenos e maduros.
Temos certezas quanto à nossa fé, e estas baseiam-se no Grande Amor de Deus por nós e menos no nosso amor por Ele, já que falhamos, nesta área, quais filhos pródigos, mais vezes do que aquelas que desejávamos. Mas acumulámos dúvidas, nos últimos dois para três anos, quanto à igreja ou áquilo a que ainda chamamos igreja.
Não é o conceito bíblico de igreja que nos suscita dúvidas. É o conceito humano de igreja que nos causa arrepios. Curiosamente, tenho hoje grandes e sérias reticências quanto à vantagem de baixar as nossas defesas, quando entramos em algumas igrejas afim de podermos usufruir, supostamente, da comunhão cristã e da fraternidade espiritual no interior das mesmas.
Confesso que as experiências mais amargas, de todos os pontos de vista, e as maiores desilusões que tenho sofrido, têm vindo de dentro da igreja cristalizada e rendida ao fariseísmo militante que a povoa, e em particular a muitos dos seus dirigentes para quem o Amor de Deus não passa de uma metáfora que justifica tudo.
Sou eu perfeito ? Não distingo argueiros de traves ? Gosto de estar na roda dos apedrejadores ? Tenho a pretensão de ser o melhor cristão ?
Não a tudo, é a resposta !
Há filhos de Deus dentro das igrejas, mesmo das que são habitadas por pessoas da mesma estirpe que João identificou em Mateus 3:7 ? Claro que sim !
As lutas que tenho travado pelo Evangelho e pelo Reino de Deus têm sido fundamentais na minha edificação cristã. Saio delas muito mais forte. Sou hoje um filho de Deus com uma muito maior auto-estima ( se é que posso aplicar esta palavra aqui ) e certeza da minha fé e com uma muito maior clareza sobre quais os grandes objectivos e prioridades que sustentam a Obra de Deus , em que estou absolutamente envolvido, até que os tempos da Sua visitação se cumpram. E isso não foi negociável para o meu Senhor e não é negociável para mim.
Pagarei qualquer preço que for necessário, sempre que esteja em causa a Verdade contra a Mentira. O Bem contra o mal. A Bondade contra a Maldade. O Amor contra o Ódio. A Ética e a Moral cristã contra a ausência delas. Principalmente dentro da Igreja.
Vou insurgir-me, SEMPRE, contra os que imaginam que a igreja é sua propriedade, e pronunciar-me , SEMPRE, por uma IGREJA onde os Santos não sejam uma espécie em vias de extinção. Uma igreja em que valha a pena habitar, mantendo as defesas em baixo, porque nela habita o Amor de Deus que aperfeiçoará, dia a dia, todos os que, como eu, têm a certeza de que não são perfeitos. Uma igreja em que AMOR e COMUNHÃO, FRATERNIDADE, PERDÃO, RECONCILIAÇÃO, VIDA, MISERICÓRDIA, não sejam parábolas que ilustrem um tempo passado , mas lastro para aqueles que sentem ser a IGREJA a sua “casa” até à vinda do Mestre.
Essa é a minha Igreja! A Igreja que vale !
É disto que eu falo, quando falo de Igreja !
Sucedâneos de Igreja não são aceitáveis, mesmo que tenham algumas semelhanças com a Original.
Jacinto Lourenço