domingo, 24 de maio de 2009

Momentos...

Há momentos em que nada faz sentido. Os acessos ficam comprometidos, as frestas entupidas, as janelas cerradas. Decepção substitui confiança, tristeza apaga o ímpeto e abatimento contamina a gesta heróica. O calor da peleja traiçoeiramente solapa a energia fundamental de viver. As pedras de arranque cedem sob os pés e se esgota o entusiasmo. As balizas do sentido caem. Os diques das emoções se rompem. Há momentos em que o silêncio absoluto e impenetrável da covardia abafa a coragem. O império da culpa confisca a confiança. O pavor do inesperado transforma a alma em masmorra e os sonhos definham em um imobilismo soturno. A poesia versifica o tédio e procura rima para fatiga. O espírito entra no compasso do soluço. Há momentos em que determinação vira sinônimo de teimosia. As escolhas acontecem, empurradas, forçadas. A vida é tangida sem ânimo. Opta-se por constrangimento. Vai-se adiante, simplesmente. O horário cumprido, a tarefa realizada, e só. No tabuleiro, o peão cumpre as regas; no palco, a marionete dança com os dedos do títere; na vida, as pessoas decoram roteiros. Há momentos em que não se pode retroceder. O próximo, o próximo, o próximo, dita a voz soturna que ordena a fila que desce a vertiginosa ladeira existencial. Assim, resilientes e determinados, os humanos caminham. De dever em dever, chegarão ao último e inusitado compromisso, a morte.
Soli Deo Gloria