Vista parcial da cidade de Bodrum-Turquia
Gregos são desenrascados, turcos são afáveis. Este podia ser o resumo, mais que sintético, de quem tivesse apenas um dia para estar em cada lado da fronteira, numa cidade grega e numa cidade turca.
Julgo que, se alguma vez vierem a fazer parte da União Europeia, os turcos deixarão de ser tão afáveis, mas os gregos não deixarão de ser desenrascados e despachados, mesmo que afabilidade seja uma palavra com difícil tradução para um grego moderno ( mesmo correndo aqui o risco das generalizações ).
No inglês possível , com uns e outros, lá se sobrevive no meio de duas línguas que, mesmo sendo, quiçá, de raiz mais antiga que o português, continuam tão impenetráveis quanto “esquisitas” ao ouvido de um europeu do extremo ocidental da Europa.
O desenrascanço de gregos e a afabilidade de turcos, no seu contacto com os visitantes estrangeiros, leva a que fiquemos com a sensação de que nós, portugueses, somos assim como que uma espécie de “dois em um” : isto é, somos desenrascados por natureza e, com os visitantes, somos afáveis q.b., ao contrário de gregos que se enfadam facilmente com quem tem que lhes “mendigar” alguma informação sobre a melhor maneira de ficar a conhecer a sua terra. Quanto ao “inglês possível”, partem os “tugas” do príncipio de que não vale a pena tentar, por cá, aventuras linguísticas, e lá vamos indo na onda do “gesto é tudo” mesmo se quem nos visita possa ficar sem perceber patavina sobre o que lhe pretenderia transmitir o interlocutor… Valham-nos “nuestros hermanos” ( já que estamos em maré de comparações e contrastes ), que para as línguas têm tanta queda como os gatos para a água… e assim salvamos a honra do convento, especialmente se um visitante percorrer a península e perceber que a Ibéria não se encerra em Espanha...
Desconfio, também, que a afabilidade dos turcos lhes advém de sentirem que, nos negócios, é sempre possível que alguém não entenda que os preços que pedem nas lojas não são para levar a sério… talvez por isso começam a pedir 100 e a vender por 5, salvo quando o pobre turista não é português e, por isso, não entende este contorcionismo negocial, deixando-se ir na amizade sem medida e na conversa fácil do negociante, amigo do peito em cinco minutos feito . Bom para o turco, que aumenta exponencialmente o lucro .
Jacinto Lourenço