"Um líder europeu disse-me que no passado a justiça em Portugal tinha fama de ser lenta mas séria e que agora continua lenta, mas perdeu a imagem de seriedade."
Mário Crespo
Citado no jornal Público de 18 de Maio de 2009
Infelizmente, quem viu ontem à noite, nos jornais televisivos, a reportagem sobre a menina, filha biológica de uma mãe russa, que vá lá saber-se porquê se lembrou, ao fim de alguns anos , que tinha parido uma criança, à qual desprezou desde sempre os cuidados e deu maus tratos e só agora entendeu reclamar a sua "propriedade" para a levar consigo para um país, uma cultura, uma família e uma realidade completamente diversas do contexto em que a criança tem vivido nos últimos seis, sete anos, percebe claramente o que Mário Crespo diz, especialmente depois de ouvir os gritos lancinantes da menina em causa ao ser arrancada aos braços da sua família, a verdadeira, a que lhe tem dado cuidado, carinho, amor, estima, educação ao longo de toda a sua ainda curta vida, a única família que a menina conhece, para ser entregue a uma pessoa que lhe é completamente estranha.
Que tribunal, que juízes, que justiça é esta, que país é este que autoriza tamanha enormidade, tão grande atentado à vida e dignidade de um ser humano ?
Quantos psicólogos serão precisos, para colocar em ordem a vida desta criança ? A avaliar pelas palavras indoutas da advogada da “mãe” russa, muitos, até porque agora está na moda o seu uso para combater as sequelas dos traumas violentos, e eu não contesto a sua ajuda nessas ocasiões. Mas haverá algum psicólogo que consiga apagar da alma de uma criança de seis anos o trauma de a “raptarem” à família ? Duvido.
É esta a justiça que temos em Portugal e que, de todo, não merecemos. Pior ainda: temos que a pagar…
Jacinto Lourenço