“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" Mateus 5:3
A melhor versão que encontrei para este versículo, dentre as Bíblias mais usadas nos dias de hoje, é a versão Ave Maria, que assim diz: “Bem-aventurados os que tem coração de pobre”. Assim, essa versão se aproxima mais do texto da vulgata latina e do texto grego do primeiro século que trazem a expressão “pobres pelo espírito”. No grego, a expressão tô pneumati é dativa, não genitiva. Configura um adjectivo, não substantivo. O mesmo ocorre ao latin spiritu. Portanto, não se trata de uma espiritualidade pobre, mas de uma pobreza segundo o espírito. A expressão “pobres de espírito” caracteriza uma adulteração das escrituras ocorrida nas traduções que se deram ao longo do tempo. A mesma gera uma contradição, já que o próprio Espírito das Escrituras nos conduz a um enriquecimento, e não empobrecimento, espiritual. Quanto mais se cresce espiritualmente, mais o coração se desapega das coisas materiais. Doutra forma, é exactamente a pobreza espiritual que leva o homem a tentar preencher o seu vazio existencial na ilusão do materialismo. A despeito de toda a riqueza que possa ter, aquele que cresce no espírito, também pelo espírito obtém um coração humilde, capaz de refugar sua riqueza e identificar-se com os mais miseráveis, tal qual Cristo, mesmo sendo Deus, se identificou com os pecadores ao ponto de morrer por eles. Veja o que disse São Paulo, a esse respeito: “Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Filipenses 3:8,9) . Considerar todas as coisas como refugo denota um coração de pobre, desapegado, empobrecido pelo espírito. Não implica, necessariamente, que o cristão tenha que perder todas as coisas, mas sim que todas as coisas percam o domínio sobre o cristão. Quando isso acontece, todas as coisas se tornam secundárias e o reino de Deus toma o primeiro lugar na vida do homem. “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33). Em casos extremos, é necessário o rompimento radical com os bens materiais. O empobrecimento literal, a fim de que, pelo espírito, haja o desapego material. Foi num desses casos em que Cristo disse a um jovem rico: “Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me” (Mateus 10:21). A mesma necessidade de erradicação ocorre em relação ao status social. Ou seja, o neo-converso, em certos casos, necessitará exilar-se de todo o envolvimento com o mundo até que esteja devidamente fortalecido para voltar a integrar-se no mundo com um novo viver. Ser pobre pelo espírito, ou ter um coração de pobre significa encontrar a felicidade independentemente dos bens materiais ou status sociais. O rico não é pobre pelo espírito quando o seu coração é apegado ao que tem. Até mesmo o pobre não é pobre pelo espírito quando o seu coração é apegado ao que não tem. Quem não é pobre pelo espírito não conhece a Cristo, nem pode ter o seu reino. São Paulo teve que considerar tudo perda e refugo para poder conhecer e ganhar a Cristo: “Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo” (Filipenses 3:8). Quem não é pobre pelo espírito não pode servir a Deus. “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mateus 6:24). O mais impressionante nisso tudo é ver tantos crentes servindo-se de Deus para servir as riquezas! Esses são ricos pelo espírito (de Mamom).
Fonte: Julio Zamparetti Fernandes
Via Genizah