sábado, 5 de setembro de 2009

Assim não nos Governamos.

Quando quero convencer-me de que Portugal é um país relativamente moderno e no qual se poderão ter algumas expectativas de que no futuro coisas melhores esperarão aqueles que são jovens agora, de que iremos sair da penumbra europeia, alguma situação acontece que me desperta para a realidade brutal de que afinal, não. Estamos muito longe de o ser e acredito mesmo que estaremos a regredir, a passos largos, para um género de terceiro mundo social e económico de onde provavelmente nunca saímos totalmente. Por esta via continuamos a dar razão a um suposto general romano que em carta endereçada ao imperador, aquando da conquista da Península Ibérica pelos romanos, disse: «Há, na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho: não se governa nem se deixa governar!» .
Vem isto a propósito da recente "telenovela" com o caso Manuela Moura Guedes/jornal nacional da TVI.
Por mim, não me faço de inocente e digo desde já que nem a TVI, como canal de Televisão, nem Manuela Moura Guedes, como suposta jornalista, colhem da minha parte qualquer esboço de mínima simpatia. E quase pelas mesmas razões: não gosto de gente que ganha dinheiro com o sensacionalismo que introduz na comunicação social, que provoca, como sabemos, influências negativas no espírito de determinadas camadas da população, nomeadamente as que seguem, sem qualquer tipo de espírito crítico quanto à programação, a TVI e que genericamente se situam nas classes média-baixas da população, precisamente a menos escolarizada e com níveis acríticos preocupantes, derivados, grosso-modo, de uma manifesta iliteracia. Não vou discutir a programação da TVI nem as suas opções informativas. Cada um é livre de fazer o que quiser com a liberdade que tem, respondendo, naturalmente, por essa utilização.
Também não discuto se a decisão da administração da Media-Capital foi bem ou mal tomada. O que discuto é a exploração sensacionalista da informação e o embrutecimento cultural que a TVI introduz no país através do sinal televisivo. E isso sim, choca-me e preocupa-me. Ética e rigor, foi uma coisa que o casal Moniz sempre desconheceu desde que chegou à estação. E com esse "desconhecimento" beneficiou, em primeiro lugar, os bolsos de quem detinha o capital da empresa dona da TVI e depois , naturalmente, os seus próprios bolsos, dominando ainda a seu bel-prazer ( para nosso desprazer ) aquela casa.
É notório que a "informação" da TVI, e em particular o jornal nacional das sextas-feiras, se tinham tornado num caso patogénico e numa arma de arremesso político e social e, quando assim é, alguém deverá ter o bom senso de pôr um fim à coisa e colocá-la nos eixos.
Continuo a defender que a regra de ouro de um meio de comunicação social, em particular de um meio de tão largo alcance como a televisão, deve ser a isenção com que transmite a informação; e isso não é igual a amorfismo ou acriticismo, bem pelo contrário. O objecto final da informação somos nós, o público. E o que precisamos é ser informados com rigor e não que a informação nos chegue manipulada com objectivos claramente perversos e com a intenção nítida de beneficiar politica ou socialmente este ou aquele.
No caso em concreto - o da saida da M.M.Guedes e o fim do jornal nacional - quem sai claramente prejudicado é o partido socialista; se merece ou não, isso são questões de outra natureza sobre as quais não omito juízo aqui - e o que me parece é que a oposição a Sócrates tenta agora "surfar a onda" e retirar dividendos do caso, fazendo-se passar por "virgem ofendida" quando, manifestamente, "gostava" tanto da TVI quanto o partido socialista gosta.
Parece-me, afinal, que demos mais um passo ou dois atrás na modernidade e democratização do país.
Finalmente, a grande questão que se coloca é a seguinte: em que país do mundo é que o fim de um programa de televisão, ainda por cima um péssimo programa de informação televisiva, assume assim este papel tão determinante numa campanha eleitoral ? Provavelmente só em Portugal !! E isto traduz bem o país que somos e para onde vamos.
Jacinto Lourenço