Ontem regressei ao trabalho após as férias de verão. Gostaria de ter distendido, pelo menos por mais esta semana, os dias de descanso. E não era apenas porque me apetecesse "lazerar", mas porque tenho tanta coisa para colocar em ordem, neste reinício, que me fica a sensação de partir para um novo ciclo de vida sem o ter totalmente planeado. Mas como foi sempre assim, já me habituei. Vou acertando e corrigindo à medida que o tempo escorre. A vida é algo que não podemos esboçar com o rigor do traço tecnológico que tantas vezes se pede dela. Um momento, breves segundos, ou fracções, e tudo muda sem que possamos fazer nada para contrariar isso.
É por isso que acho que o professor Carvalho Rodrigues tem razão ao dizer: "são as causas futuras que mais nos afectam, não as passadas".
Não sei se acontece com toda a gente, mas comigo acontece: encaro o pós-férias como uma nova oportunidade para abrir ( ou rasgar ) outros caminhos. Não vai ser diferente, esta nova etapa. Coisas diferentes, e novas, perfilam-se no horizonte. Novas experiências, novos desafios, decisões, umas mais importantes que outras, que precisam ser tomadas. Olhar o novo sem perder de vista o que lhe serviu de base até agora.
Terminaram as férias e isso é bom. Sou do género de pessoa que não aguenta as férias durante muito tempo. Detesto a rotina planeada que me aprisiona a emoção e criatividade, mas confesso que "sou um animal de hábitos", mais por medo do desconhecido do que por atavismo ou inércia. Os dias são todos novos para mim e uma oportunidade de os transformar em algo que valha a pena ser vivido; são assim uma forma de contrariar o meu receio, inato, do passo seguinte, que há-de ser, em mim, sempre suficientemente ponderado mesmo que nada me impeça de o dar.
Terminaram as férias e isso é mau. Deixei coisas importantes para trás qu irão seguramente reflectir-se na minha vida futura, e sobre as quais não tenho mais margem de actuação. Não sei se as poderia ter feito melhor mas também não me posso mortificar com essa dúvida. Sinto que as fiz da forma que me pareceu ser a melhor, a mais acertada, de acordo com a minha visão da vida, os meus princípios e a orientação que recebo de Deus. É esta orientação, aliás, que gosto de resumir numa frase, e que sempre me proporciona mais alguma tranquilidade quanto ao que devo esperar no futuro : " Se pões Deus em tudo o que fazes, encontrá-lo-ás em tudo o que te acontece" .
Ao contrário de um alto responsável político ainda no activo em Portugal, que afirmou "raramente ter dúvidas e nunca se enganar" , eu tenho sempre dúvidas e engano-me mais vezes do que desejaria que acontecesse. Mas isso não é assim tão mau quanto à primeira vista possa parecer: é que eu cresço no meio das dúvidas e corrijo-me por entre os erros. E isso diz-me que estou vivo, que sou humano, que sou imperfeito e que, como tal, preciso de renovação e correcção permanentes ( "... a Tua vara e o Teu cajado me consolam..." ) para me aproximar cada vez mais do padrão que é Cristo.
Quero ser seu imitador, segui-Lo de perto, ouvir o Seu conselho, escutar a Sua voz. Mesmo sabendo que muitas das minhas opiniões e decisões deverão, nessas circunstâncias, ser negadas face à minha maior proximidade de Jesus. É assim que quero viver este novo ciclo. O mais perto dEle possível, tanto quanto a minha humanidade me permitir e eu a conseguir submeter à sua vontade. O meu Deus, é um Deus de causas futuras. É nele que habita o meu futuro. É nEle que confio.
Jacinto Lourenço