Fala-se muito, nos dias de hoje, sobre autoridade espiritual; alguns há que acreditam tanto sua pretensa autoridade que a oferecem como “cobertura” para outros. Mas qual é a nossa autoridade para pastorear as ovelhas de Cristo? Entendo que a forma mais segura de responder a essa questão é observar Jesus Cristo concedendo essa autoridade a alguém.
Pedro, o apóstolo é o nosso homem. Jesus avisara a seu discípulo que Satanás pedira para o cirandar, para o peneirar, como se faz com o trigo quando é separado das impurezas, e que Cristo havia rogado por ele para que sua fé não desfalecesse (Mc 14.27-31). É interessante Satanás oferecer-se para tirar de Pedro todas as impurezas, ele devia pensar que só iria encontrar impurezas e nenhum trigo. Bem, Pedro foi peneirado e, embora tivesse dito que estava pronto a morrer por Jesus, que o Mestre jamais lhe seria um tropeço, ainda que o fosse para os demais, negou a Jesus Cristo, tal como fora avisado (Mc 14.66-72). Parece que só havia impurezas e nenhum trigo.
Como prometera, Cristo ressuscitou ao terceiro dia e, de entre as suas últimas orientações, está a convocatória a Pedro para se encontrar com ele na Galiléia ((Mc 16.7). A convocatória foi nominal, não havia margem para dúvida. O recalcitrante discípulo entenderia que era consigo que o Ressurrecto queria conversar. Encontraram-se no lugar combinado e, para surpresa geral, o Senhor, ao invés de aplicar a Pedro uma severa advertência, perguntou-lhe se este o amava; três vezes lhe repetiu a mesma pergunta, recebendo resposta afirmativa em todos os casos. É verdade que o Mestre, por duas vezes, usou, para o verbo amar, a palavra que descreve um amor incondicional, e que Pedro, reiteradamente , usou a palavra que descreve amizade, termo que o Salvador também usou na terceira inquirição. Pedro, contra todas as expectativas continuou a afirmar que era mais amigo de Cristo que os demais, e, finalmente, chamou como testemunha, em sua defesa, a omnisciência de Cristo, reconhecendo-o, implicitamente, como Deus (Jo 21.15-22).
Jesus, surpreendentemente, não contestou Pedro e, mais ainda, a cada uma das suas respostas comissionou-o, em relação ao seu próprio rebanho, para cuidar, alimentar e guiar as suas ovelhas; após o que lhe ordenou que o seguisse por onde ele desejasse. Concedeu-lhe o que hodiernamente é chamado de autoridade espiritual.
Com que autoridade Pedro exerceria o pastorado? Como é que ele lograria não ser denunciado pelo rebanho como palrador, mentiroso, covarde e traidor? No que consistia a sua autoridade, afinal?
A autoridade de Pedro consistia em ser um pecador perdoado. A sua autoridade era o seu testemunho. Ele podia dizer sem medo: - Ele perdoou-me e restaurou-me, e pode fazer isso com qualquer ser humano. A autoridade de Pedro consistia no facto de ser ele portador de um milagre, pois, com todas as suas incoerências e inconstâncias ele amava Jesus. E isto é um milagre, pois, naturalmente, não há quem busque a Deus (Rm 3.11). Ser salvo é voltar a amar a Deus e atingir o ápice da salvação; é amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento. Tem Autoridade Espiritual aquele que pode testemunhar sobre o perdão dos seus pecados, de ter sido alvo do milagre de voltar a amar a Deus, e de ter passado a seguir Jesus sem prévias condições (…).
Por Ariovaldo Ramos In Solomon1