Missão do telescópio Kepler começa esta noite
Espaço: Um grande olho no céu à espreita de pontinhos azuis
Se tudo correr bem, dentro de horas o novo telescópio espacial Kepler da NASA partirá de cabo Canaveral a bordo de um foguetão. A sua missão: descobrir outros "pontinhos azuis"- ou seja, planetas parecidos com o nosso que orbitem em torno de estrelas parecidas com o nosso Sol.
A anos-luz da Terra, algures na nossa galáxia, a Via Láctea, uma anónima e modesta estrela alberga um pequeno planeta, feito de continentes de pedra, oceanos de água líquida e céus azuis. Tal como a Terra, esse planeta completa uma órbita em torno do seu sol em mais ou menos um ano. Não é nem muito quente nem muito frio: tem a temperatura ideal para o desenvolvimento da vida. Quem sabe, talvez já esteja cheio de vida... O que não daríamos para o ver!
O mais provável é que isso nunca venha a acontecer - mesmo um punhado de anos-luz são milhões de quilómetros a mais para os seres humanos lá chegarem em pessoa. Mas os astrónomos acreditam que é, contudo, possível fazer algo que se aproxima disso: estudar a atmosfera de planetas como este - se é que existem -, determinar se são habitáveis e descobrir eventuais sinais da presença de vida.
É um velho sonho da Humanidade, saber se estamos ou não sozinhos no Universo. O nosso "pontinho azul", como lhe chamava o conhecido astrónomo Carl Sagan, será único, ou haverá muitos outros como ele noutros cantos da Via Láctea e até de outras galáxias? E se houver muitos outros, haverá ou não vida neles? E se houver vida neles, será vida inteligente, consciente, ou apenas vida primitiva?
O telescópio espacial Kepler da NASA, que deverá ser lançado por volta das 4h da próxima madrugada (hora de Lisboa) a partir de cabo Canaveral, na Florida, a bordo de um foguetão Delta2, é a concretização da primeira etapa indispensável na exploração desta nova fronteira. Tem por missão descobrir mais pontinhos azuis. "O Kepler é uma importante pedra angular para percebermos que tipos de planetas se formam à volta de outras estrelas", diz Debra Fischer, "caçadora" de planetas extra-solares da Universidade Estadual de São Francisco, citada num comunicado da NASA. "As suas descobertas (...) vão ser o nosso guia para conseguirmos um dia vislumbrar um pontinho azul como o nosso à volta de outra estrela da nossa galáxia."[…]
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Por Ana Gerschenfeld in jornal Publico de 06 de Março de 2009