Depois de verificarem as medições do ozono na estratosfera (alta camada da atmosfera) feitas no final dos anos 70 pelos satélites (davam níveis muito baixos sobre a Antárctida), os cientistas perceberam que os satélites não estavam errados. Havia mesmo um buraco no ozono sobre o Pólo Sul da Terra.
Dado o alerta em 1980, e percebida a origem do problema - a culpa era dos clorofluorcarbonetos, ou CFC, gás então muito utilizado em sistemas de refrigeração ou em sprays -, 193 países mobilizaram-se para resolver o problema. Num protocolo firmado em Montreal, no Canadá, em 1989, foi decidido que os CFC seriam banidos.
A camada de ozono estratosférico que protege a Terra, e a vida que ela alberga, das radiações solares mais perigosas, foi-se restabelecendo. E se isso não tivesse acontecido?
Uma equipa da NASA, coordenada pelo investigador Paul Newman, do centro espacial de voo Goddard, decidiu responder à pergunta, fazendo simulações. Vamos, por exemplo, até 2065, seguindo os passos da equipa da NASA. Sem o esforço que foi feito, dois terços do ozono estratosférico teriam desaparecido por essa altura. Nas cidades de latitudes médias, como Lisboa, as radiações ultravioletas seriam tão fortes que apenas cinco minutos de exposição solar resultariam em queimaduras. Os efeitos mutagénicos destas radiações teriam aumentado 650 por cento, com efeitos negativos em plantas e animais.
A simulação deste mundo em que a camada protectora de ozono seria progressivamente destruída, levou meses a ser processada em computador. A equipa utilizou um modelo de circulação atmosférica que inclui a possibilidade de variação na energia solar, nas reacções químicas atmosféricas, nas temperaturas e ventos e ainda noutros elementos que influenciam a mudança no clima. As perdas no ozono, por exemplo, infuenciam a temperatura em diferentes zonas da atmosfera e essas mudanças, por seu turno, promovem ou impedem determinadas reacções químicas. Os investigadores fizeram "experiências" com diferentes níveis de emissões de CFC para a atmosfera. Com mais três por cento ao ano, em 2020, 17 por cento do ozono teria desaparecido.
In Diário de Notícias de 21 de Março de 2009