Lemos, não podemos ignorar, mas nem sequer nos admiramos.
A propósito de Angola, o Público de hoje junta em título as seitas e as igrejas evangélicas, como se fossem uma mesma coisa.
O texto começa por referir a “grande preocupação” da hierarquia católica em Angola e do núncio apostólico em Luanda, pelo crescimento explosivo das seitas e igrejas evangélicas. Não se compreende. Que o catolicismo angolano se preocupe com as seitas ainda se entende, mas não com o crescimento dos evangélicos.
Como é? Então em Portugal enche-se a boca com ecumenismo, e mantêm-se um diálogo permanente, através de encontros periódicos entre a Conferência Episcopal, e as igrejas protestantes (COPIC) e evangélicas (Aliança Evangélica) e em Angola isso já é motivo de preocupação porquê? Teriam a caridade de explicar?
Depois designam-se os cristãos evangélicos por “evangelistas”, nomeação abstrusa e canhestra, na qual não se revêem de todo. Quanto muito “evangelicalistas” (do inglês “evangelicals”). A esmagadora maioria das igrejas evangélicas em Portugal está associada na Aliança Evangélica Portuguesa, não “Evangelista”.
Citando a Reuters, o jornal menciona a opinião do cardeal angolano Alexandre do Nascimento: “(…) os que estão sedentos têm de procurar a fonte certa, aquela onde não há água estragada”. Mais uma vez se junta a água com o vinho. Estará o líder religioso angolano a falar de quem? Das seitas? Das igrejas cristãs não-católicas? Era bom que o próprio, dadas as responsabilidades que tem, esclarecesse o alcance das suas palavras, de modo a não restarem dúvidas.
O Público também não esclarece, prestando assim mais um contributo à desinformação geral em matéria religiosa, sempre que esta transborda as margens do catolicismo, à semelhança da generalidade dos órgãos de informação portugueses. É o país que temos.
In Publico de 17 de Março de 2009
Via A Ovelha Perdida