[ Titulo original do autor: Re-edição de O Homem Que Ninguém Via ]
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Os analistas políticos no que concerne à eleição de Barack Obama não puderam sair da tautologia. Os seus textos, desde o primeiro dia (4 de Novembro), entre o The Washington Post e a Time, fizeram um arco, um segmento de círculo para depois o completar, voltando depois ao inevitável: «Obama Makes History».De facto, desde a eleição de JFK, em 1960, que a narrativa das eleições presidenciais nos Estados Unidos não construia um arco do triunfo de um homem e suas ideias. Sublinhe-se, esse homem é o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.Em Outubro de 2006, a mesma revista Time colocava a questão quase numa necessidade de mudança, e afirmava como matéria de capa «Por que Barack Obama Pode Ser o Próximo Presidente». E aconteceu.O paradigma mudou. O sinal transformador desta eleição, que corre o risco de ser racial, trancendeu a própria raça. À primeira vista parece que agora a face da nova América é negra, mas teremos que aprender, de uma vez por todas, que se assim fosse, continuaríamos a laborar no racismo.E o sinal que todos desejamos seja transformador, de facto, é que a vitória de Obama, a sua eleição e tomada de posse este mês, anuncie uma nova geração de líderes e uma América que esteja a tomar uma nova forma- segundo asseveram os analistas políticos, tendo em conta sobretudo a crise na economia mundial. Contudo, não se pode esconder que existiu uma mudança filosófica, que foi muito conduzida também pelo coração, isto é, pelo sonho.O sonho de Martin Luther King completou-se mais cedo que muitos imaginaram - escreveu um dos articulistas do semanário Time. Para relatar o testemunho de um cidadão-votante, de Kansas City, que relembrou a história dos negros norte-americanos, ainda da segunda metade do século XX:-«Eu andava no autocarro quando os negros tinham que se sentar nos bancos de trás; bebi água de fontenários onde estava escrito: para gente de cor; você não podia comer em restaurantes, se fosse negro; tinha de adquirir as suas refeições num saco castanho através da porta das traseiras.»É o caso em que o sonho contribuiu para a História, onde a poesia tem a sua quota parte. O poeta negro Langston Hughes escreveu, há alguns anos:«Oh sim, / Eu que o diga com clareza, / a América nunca foi América para mim, / e, não obstante, prometo sob juramento- / A América vai ser!»(Trad.JTP) (1)A magnitude da vitória do presidente Obama contribui para a história como para «um dia de transfomação», esta é a frase que o diário The Washington Post utiliza em subtítulo, para depois escrever em pequena paragona que «A História da América abre caminho para o futuro». E o passado? Simão, de CireneSem recurso a pseudo-antropologias para justificar o modo como desde os tempos da escravatura os negros foram tratados, por razões mais economicistas do que teológicas a partir de hermenêuticas enviezadas da maldição noética sobre o filho Cão, poderemos apreciar um simples acontecimento do dia da crucificação de Nosso Senhor Jesus Cristo.Relatam os Evangelhos sinópticos (2) que os soldados romanos obrigaram um certo homem de Cirene (na actual Líbia) a carregar a cruz , um peregrino-prosélito, um judeu da sinagoga de Cirene de Jerusalém ? Fosse o que fosse, era sem dúvida um homem africano.Diante da multidão que seguia a dramática pompa do caminho dos condenados à crucificação, os responsáveis romanos do cortejo, humanitariamente foram obrigar um colored. Um homem que a sociedade judaica da altura e os conceitos sociais aferidores e dominantes daqueles dias gostariam de manter invisível. Mas os evangelistas o eternizaram, por razões que estão para lá da circunstância legal da prestação obrigatória de um serviço. [...]
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João Tomaz Parreira