Lembro-me de quantas vezes ouvi o meu pai falar de amor. Essa era, sem dúvida, uma das tónicas do seu ministério, e que lhe rendeu o apelido de “apóstolo do amor”. Não foi ele quem se intitulou assim. Aliás, ele nunca ligou muito para títulos. Por isso, só pouco antes de morrer, na semana em que partiu, ele aceitou ser sagrado bispo. Mas ainda hoje há quem se refira a ele como “apóstolo do amor”. Mas ele sabia dos riscos que havia em se pregar o amor. Algumas pessoas mal intencionadas se aproveitavam para extrair dele algum benefício, e quando ele não podia atender a um pedido, logo o chamavam de incoerente, de não viver o que pregava, etc. A bem da verdade, algumas vezes ele caiu em verdadeiras armadilhas. Ele preferia acreditar nas pessoas, até que se provasse o contrário. Muitos dos seus gestos de amor eram feitos em surdina. Eu mesmo já testemunhei ocasiões em que ele ajudou alguém, e pediu que não divulgasse. Ele buscava seguir à risca a orientação dada por Jesus: o que fizer a mão direita, não o saiba a esquerda. Quando decidi fazer da mensagem do amor uma das principais enfases do meu ministério, eu estava plenamente ciente do que isso me acarretaria. Eu seria julgado com mais severidade. Seria acusado de incoerência, quando tivesse que disciplinar alguém na igreja. Teria minha vida constantemente perscrutada por aqueles que almejassem “desmascarar-me”. Mas resolvi correr o risco. Confesso que às vezes o preço parece mais caro do que eu supunha ser. Mas, por outro lado, é gratificante. O resultado positivo não pode ser ofuscado por nenhuma contestação ou acusação. Que me acusem do que quiserem. Não me importo. Mas jamais se atrevam a atacar a mensagem, pois ela não é minha, é de Deus. Não vou deixar de pregar o amor, ainda que, quanto mais amar, eu seja menos amado. Não busco ser correspondido. O amor de Deus por mim supre a minha carência por completo. O facto de Ele me amar é suficiente para que eu ame tanto a meus amigos, quanto a meus desafectos. Continuarei pedindo discrição daqueles a quem eu tiver oportunidade de ajudar. Minha recompensa vem do Senhor. Não vou perder tempo emprestando meus lábios às acusações, sejam elas infundadas ou não. Como também não quero perder tempo me explicando, me justificando, pois tenho quem me defenda e me justifique. Com a palavra... meu advogado... Jesus! Trata-se de um caminho sem volta. Seja qual for o preço a ser pago, não se pode retroceder. Que o mesmo Espírito que derramou profusamente o amor de Deus em nossos corações, nos dê condição de arcar com os eventuais custos disso. Pregar o amor é colocar-se no banco dos réus. Viver o amor é dar às pessoas amadas o poder de nos decepcionar. Mas é o mesmo amor que nos agracia com o dom de perdoar.
Via Genizah